Por Uma Hora de Amor
Não era homem de amantes. Casado há trinta anos, Olegário amava a esposa. Pelo menos era isso que sempre dizia a si mesmo, quando começava a pensar que faltava algo em sua vida.
Com receio de reprimendas, não se atrevia a discutir com seus amigos sobre esse vazio, mesmo suspeitando, que eles sofressem da mesma angústia, talvez, sem coragem para assumí-la ou então, eram tão reprimidos sexualmente, que nem tinham consciência que a possuíam.
Revelar seus desejos e fantasias sexuais ao padre Rudolf, conselheiro matrimonial do grupo de casais da paróquia do bairro da Âncora, nem pensar. Era só suspeitar do rumo que a conversa estava tomando, para o religioso começar a ameaçá-lo com os ardentes fogos do inferno, além de lhe recordar, pela milésima vez, o exemplo de um outro paroquiano, que depois de cair em tentação foi à falência, perdeu a família, caiu na sarjeta e apareceu na propaganda partidária na televisão, falando bem dos políticos.
Se abrir com a esposa, também não. A sugestão de fazer algo diferente das idas diárias à igreja e ao supermercado deixava a mulher cheia de tremores, e só de pensar, ela já começava a se benzer.
Dominadora. Para o sexo perverso e cruel.
Com acessórios exclusivos. Realize todas as
suas fantasias sexuais, inclusive as sadomasoquistas.
Loiras, morenas, negras, mulatas e orientais.
Para eles, elas, casais e em grupos.
Atendemos motéis, hotéis e a domicílio.
Discrição Total.
O anúncio nos classificados de jornal foi o incentivo, tão aguardado, para que Olegário começasse a pôr em prática o plano, para realizar seus sonhos.
Mas, além do padre e da esposa, havia ainda um outro empecilho: a opinião dos amigos e vizinhos quanto à sua conduta moral, ponto que mais prezava na vida.
“E se de repente eles descobrem a minha intenção de cair na gandaia?”, questionava-se, possuído por um medo, que quase lhe fazia desistir de suas intenções. Para aumentar sua aflição, de uns tempos para cá, toda vez que sonhava que estava numa ilha deserta com duas loiras exuberantes, sem mais nem menos, surgiam do nada os integrantes do grupo de casais da paróquia do bairro da Âncora. Uns reprimiam-lhe pela ação devassa, outros lhe ameaçavam com os fogos de artifício do inferno, enquanto que um terceiro grupo lhe dava notas pelo seu desempenho, notas que nunca eram lá grandes coisas.
Não demorou muito para Olegário achar que o mundo o perseguia. Nos encontros do grupo de casais, já não prestava atenção ao que os participantes falavam. Em silêncio, desenvolvia uma minuciosa investigação, para tentar descobrir o que aquelas pessoas já sabiam sobre sua vida e seus desejos. Cada olhar mais demorado lhe dava a certeza, de que seu interlocutor lhe examinava, analisando tudo o que sabia sobre ele, reprimindo-lhe por ter sonhos tão impuros. Uma olhadela de canto de olho, um cochicho ou uma risada, deixavam-lhe tão nervoso e envergonhado, que sua vontade era levantar da poltrona e sair correndo.
Mas, era preciso manter a calma, meditava. Ser frio, descobrir cada detalhe, dado e informação que aqueles fofoqueiros tinham contra sua pessoa. Era um trabalho minucioso e sutil. Era imprescindível chegar ao arquivo secreto da organização.
A espera era longa. Como inimiga, tinha a impaciência de ver sua vida se extinguir rapidamente, afinal, já não era nenhum jovem, talvez não pertencesse mais nem a categoria meia-idade. Sabia que precisava criar coragem para poder realizar seus desejos, que vinham cada vez mais ardentes, toda vez que ia escondido a um cinema pornô no centro da cidade.
Quando dona Gertrudes foi visitar uma irmã que voltara de uma missão humanitária na África, trazendo consigo seu fiel assistente Cabu, Olegário viu chegar a chance que tanto esperava. Foi só a mulher bater a porta, para que o marido fosse correndo pegar a folha de jornal, com os anúncios das agências de garotas de programa, que estava camuflada, como uma inocente separadora de porcelanas, numa caixa de papelão.
Na noite anterior, sonhara que estava em um motel com duas jovens de vinte anos, uma loira e outra morena. Usavam roupas pretas de couro e lhe pediam de joelhos mais uma rodada de amor, espantadas com o vigor físico e a experiência daquele cinqüentão sexy, termo que ele mesmo empregou para se vangloriar.
Os integrantes do grupo de casais surgiram e assistiram perplexos Olegário satisfazer plenamente as duas mulheres, que enciumadas lhe imploravam para não procurar uma terceira amante.
Alguns membros jogaram fora as papeletas de notas, pegaram suas câmeras de vídeo e documentaram a ação do depravado, juntando provas para expulsá-lo do grupo de casais, da paróquia, da cidade e até do planeta. A exceção foi seu Euzébio, da loja de ferragens, que contrariando ordens dos líderes e não se amedrontando com as ameaças de ir sentar no colo do capeta e levar um tridente nas nádegas ou até em lugar pior, dependia apenas da pontaria do diabo, levantou uma plaqueta dando nota mil para o amigo.
Olegário não tinha mais dúvidas. O dia havia chegado. O local não era problema. Depois de uma batalha judicial de quase dois anos, um inquilino desocupara, há dois dias, um apartamento de sua propriedade, cuja a renda do aluguel, quando era pago, ia para ajudar no sustento da filha e do genro desempregado.
Durante o período em que nada lucrara com o imóvel, Olegário dividia seu benefício da Previdência Social e o da esposa, professora aposentada, com a filha e o marido.
Mas, agora estava tudo bem. Prometera a si próprio, se caso conseguisse o que tanto almejava, daria um jeito de arranjar uma pensão vitalícia para o genro.
Na hora combinada, lá estava o aposentado no apartamento, quase vazio. Apenas um sofá, uma mesinha com um balde e champanhe, além de uma pequena vitrola tocando um bolerão. No quarto, a cama e no bolso vinte preservativos adquiridos pelo dobro do preço, devido à comissão, que o filho do dono do armazém cobrara, para ir à farmácia comprá-los.
Quando o porteiro eletrônico soou, Olegário levou um susto e quase escorregou da poltrona, onde dava os primeiros cochilos.
- É a gostosa com quem tu marcaste, tesouro!
O aposentado não gostou da falta de discrição, nem do modo debochado, meio cantado como a moça se apresentou, alongando e acentuando as segundas sílabas das palavras “gostosa” e “tesouro”.
Lembrou que o anúncio da agência de acompanhantes falava em mulheres discretas e muito elegantes. E agora, pelo jeito, parecia vir uma garota vulgar, que só faltava estar com goma de mascar na boca, coisa que ele abominava. No mínimo, alguns moradores escutaram ela se identificar, refletia temeroso. Tremeu ao pensar que sua aventura poderia virar um escândalo. Tratou de balançar a cabeça, tentando apagar a aparição dos vizinhos e amigos do grupo de casais.
Tal pensamento fez com que ao se dirigir para atender a jovem, sua excitação fosse trocada pela vontade incontrolável de reprimir a oferecida, mas não teve tempo. Ao abrir a porta, levou um tapa que o fez cair sentado na poltrona.
Ao recuperar-se da surpresa, teve o susto de ver a sua frente uma mulher gorda e aloirada, acompanhada por dois rapazes de cabelos curtos, estilo militar, vestidos com calças e camisetas brancas, bem justas, que delineavam seus corpos musculosos.
- Então és tu o depravado que queria sexo perverso e cruel? – iniciou o interrogatório aos gritos.
Olegário pediu delicadamente para a intrusa se acalmar, falar mais baixo por causa dos vizinhos. Como respostas recebeu apenas:
- Cala boca safado! Tu não estás em condições de exigir nada.
Depois, a mulher ordenou a um de seus ajudantes que corresse ao banheiro.O aposentado não acreditava no que estava acontecendo. Talvez fosse um sonho ou um terrível pesadelo. Tremeu quando uma terceira alternativa surgiu em sua mente. Enquanto esperava sentado na poltrona havia sofrido um ataque cardíaco e parado nos quintos dos infernos. Aí não tinha mais volta, refletia apavorado.
Olegário teve vontade de chorar, mas sua surpresa era tanta, que não conseguia raciocinar, ter desejos, vontades ou fazer qualquer outra coisa. O medo e a aflição tiravam suas forças. Com muito custo, conseguiu balbuciar:
- E a loira?
- Não tem loira nenhuma. Isso é tudo uma armadilha para pegar depravados como você, que traem as esposas, os filhos, os vizinhos, os amigos e a moral – falava como se fizesse um discurso em um palanque. – Nós somos do serviço secreto do grupo de apoio à moral, vinculado a diversos grupos de casais.
- Até ao da paróquia do bairro da Âncora? – interrompeu-a atônito.
- Também. Esse é um dos grupos que mais tem sem-vergonhas.
Olegário lembrava-se das aparições. Talvez não fossem só fruto da sua imaginação. Mas, agora, o importante era safar-se dessa e evitar o escândalo. Como tática, apelou para as influências do poder:
- Eu sou muito amigo do seu Bernardo, presidente do grupo de casais da paróquia do bairro da Âncora.
- Um safado!
- Safado? – indagou perplexo.
- Isso mesmo. Há mais de ano que nós estamos investigando sua atuação extraconjugal. É cliente assíduo de todos os tele-sexo e serviços de acompanhantes da cidade. Ele e o seu genro.
- O Otavinho? Mas como se ele está desempregado? Nem tem dinheiro para pagar a fortuna que essas profissionais exigem.
- Engano seu. Pelo menos duas vezes por semana, ele torra o dinheiro que o senhor e o pai dão para ele, com essas depravadas que acabam com as famílias.
Olegário ainda duvidava da desonestidade do genro, mas quando a crente lhe explicou onde ele mantinha seus encontros, o aposentado sofreu um acesso de fúria. Sem se importar com os vizinhos, começou a berrar exigindo explicações:
- Aqui? Aqui? Nesse apartamento? Mas como? Se aqui morava um inquilino que há mais de dois anos não pagava aluguel?
- Besteira. Esse morador nunca existiu. Era um nome fictício que o Otavinho usava.Ele tinha o apartamento para seus encontros, e depois o sublocava por hora a diversos amigos. Ganhava um dinheirão por mês. E ainda por sacanagem, gastava toda mesada que o senhor, juntamente, com a sua esposa e o pai dele davam.
- Safado! Desgraçado!
A mulher apenas balançava a cabeça concordando. Vendo a cara de espanto do aposentado, que a mirava sem saber mais o que dizer, prosseguiu:
- Foi aqui que nós o surpreendemos com a esposa do seu Bernardo.
- O quê? A dona Olinda? Essa não! Essa não! Duvido, mas duvido mesmo. Imagina se ela e o Otavinho...
A mulher não se abalou com sua descrença, mantendo a mesma frieza explicativa:
- O Otavinho e mais um garoto de programa. Temos até o vídeo. Claro que algumas cenas foram censuradas pelo padre Rudolf, da paróquia do bairro da Âncora, devido ao alto teor de depravação.
- Não pode ser! Não pode ser! E ela vinha com mais alguém aqui?
- Com aquele negão que a sua cunhada diz ser do Quênia.
- O Cabu.
- Esse mesmo.
- Mas, ele é queniano.
- Só se a vila Pindaíba se separou do Brasil e foi transportada pelo espaço até a África.
Tantas revelações fizeram com que o aposentado tivesse receio de dizer de quem era esposo, mas sua algoz pareceu adivinhar.
- A dona Gertrudes, essa é gente fina. Segue a risca a nossa cartilha. Pena que o marido não presta.
- Como que não presta? Eu nunca a traí – indignou-se o acusado. – Nunca, ouviu bem?
- Ah é? E essa tua vinda aqui hoje? E esses teus pensamentos pecaminosos?
- Como que a senhora sabe que eu tenho esses pensamentos?
- Joguei verde para colher maduro. É a experiência, meu filho. Todo homem é sem-vergonha e todo sem-vergonha tem esses pensamentos pecaminosos. E agora, chega de conversa fiada! Tu não querias fazer sexo oral?
Envergonhado, Olegário não respondeu. A mulher ordenou ao jovem que lhe desse um tapa na cabeça, obrigando-o a confessar:
- Queria – sussurrou.
- Mais alto, que eu não ouvi nada.
- Queria – respondeu ser dar atenção à crente, observando o rapaz que esparramava milho pelo chão.
- Agora ajoelha no milho!
Frente à resistência do prisioneiro, voltou a mandar:
- Ajoelha!
Como não obedecesse, bastou um olhar da chefe, para que o auxiliar colocasse Olegário sobre os grãos.
- Agora vamos para o sexo oral e deixa as tuas mãos estendidas!
O aposentado tremeu, ao pensar o que seria essa modalidade sexual para a louca.
- Quero ver tu repetires cem vezes: eu não devo pensar sem-vergonhices. Eu não devo querer fazer safadezas. Repete!
Cada frase dita fazia com que o dono do apartamento levasse com a régua nas mãos, dada pela torturadora. Quanto terminou a récita, o aposentado não teve tempo para descansar. O outro jovem retornara do banheiro.
- O banheiro está pronto.
- Levem ele para lá – ordenou a crente.
- O que vocês vão fazer comigo?
- Ué, não querias uma mulher dominadora? Então já para o banheiro! – Ordenou, ainda mais alto, com sua voz autoritária.
- Olha o escândalo – respondeu o refém.
- Cala a boca! Já para a limpeza do banheiro!
- Mas ele está limpo.
Ao chegar ao final do corredor, o prisioneiro descobriu, que o ajudante que passara o tempo inteiro ali, fizera suas necessidades até nas paredes. Olegário não conseguiu esboçar a menor reação. Ganhou um balde, uma vassoura e um pano de chão.
- Anda logo que isso é só o aperitivo – amedrontou-o um dos homens.
- Mas para que tudo isso? – questionou, o dono do apartamento, incrédulo.
- Tu não querias uma mulher dominadora? Conheces objetos mais representativos do domínio machista do que uma vassoura, um balde e um pano de chão? Hein canalha? – indagou-lhe a mulher, dando uma chicotada no chão.
- Ih, junto com a loucura ainda por cima um discurso feminista. Agora mesmo é que estou ralado.
- Cala a boca machista depravado! – a crente tornou a usar o chicote, desta vez contra a porta. – E eu quero ver tudo limpo. Levanta a tábua! Limpa bem a privada! Lava e seca o chão! Olha o pano já está sujo! Pega água e sabão!
Uma hora depois, após retornar a sala, Olegário criou coragem e pediu sua retirada, mas a torturadora não lhe deu ouvidos. Mandou que os jovens o ajoelhassem novamente sobre o milho e abrissem seus braços. Depois, ordenou ao dono do apartamento que rezasse cada vez mais alto, pedindo perdão pelos seus pecados e principalmente por seus desejos impuros.
Em meio às pausas da reza, o aposentado clamava por clemência. Assumia sua culpa, dizendo que só queria uma aventura, termo que irritou ainda mais sua algoz.
- Aventura? Uma aventura? Tu não querias uma loira dominadora para fazer sexo diferente? Sexo, entre outras imundices, perverso e cruel? Cheio de acessórios?
- E onde estão os acessórios? – questionou, debochando.
- Como onde estão os acessórios? Tu queres coisa mais cruel do que uma vassoura, um balde, um pano de chão? Isso sem falar no milho, no chicote e no que vem por aí?
O futuro deixou Olegário aflito. As previsões não eram nada animadoras. Vendo que não tinha saída, voltou a confessar. Talvez assim a tragédia terminasse.
Mas, a mulher não se dava por satisfeita.
- Não querias uma loira devassa? Daquelas que fazem de tudo? Até transas masoquistas? Não era o que tu querias? Responde!
- Era – concordou trêmulo.
- Não querias uma loira gostosa, estilo boazudona, com roupa de couro preta, chicote e corrente? Responde! E não mente, porque fui eu quem atendeu o telefone com a tua solicitação. Sabes como eu me senti?
- Como? – indagou sem interesse.
- Como aquelas moças que tiram pedidos de pizza nas tele-entregas. Ai quero assim não quero assado. Pouco molho e sem pimenta. Canalha!
Sem dar tempo ao aposentado de se defender, continuou:
- Então, tu não querias essa loira maravilhosa e inesquecível?
- Queria – confessou, para ver se sua torturadora acabava, de uma vez por todas com aquilo.
- Pois aqui está ela – abriu os braços, pedindo aplausos.
Os ajudantes bateram palmas, assobiaram e começaram a entoar um som de strip-tease, enquanto que a mulher se despia, ficando apenas com uma tanga fio dental, de couro, preta, que quase não aparecia, escondida nas suas gorduras.
A todo momento, a crente roçava seu corpo suado no rosto da vítima, que fazia cara de nojo, principalmente, quando as enormes e flácidas nádegas tocavam em seus nariz, provocando comichão e vontade de espirrar. A dançarina lançava olhares insinuantes, fazia beicinhos e se contorcia no ritmo lento da trilha sonora feita pelos rapazes. Tirou o chicote preso em seus lábios pintados, com um batom vermelho berrante, e bateu levemente nas costas do prisioneiro dando um berro, sinal para um dos jovens colocar um CD no aparelho que trouxeram.
Um samba a todo volume invadiu o apartamento, deixando seu dono desesperado, e a mulher rebolando, parecendo que tinha encostado alguma parte do corpo em um fio desemcapado.
- Ai meu Deus! Se os vizinhos invadem e me pegam com essa louca quase pelada e esses dois malucos.
Mas, a mulher não lhe dava ouvidos. Contagiada pela música, ela e um dos ajudantes ocupavam toda sala para dançar rumba, mambo, salsa, dança do ventre, dos sete véus, da garrafa, ritmo que a fez escorregar e quase dar sumiço no vasilhame, rock e até tango, sempre lançando beijinhos e olhares sedutores para o prisioneiro, que estava a ponto de chorar por causa das dores nos joelhos e pernas.
- Não querias posições variadas? – gritava, tentando vencer a música ensurdecedora.
- Queria.
- Então troca ele de posição. Põe sentado se equilibrando em bolas de sinuca – falava a um dos homens, enquanto continuava a dançar lambada com o outro.
O casal voltou ao mambo, indo e vindo da vítima à janela, com suas nádegas rebolando freneticamente como se estivessem num liquidificador.
- Ajoelha ele de novo no milho! – ordenava rindo para seu acompanhante que empolgado pelo ritmo, soltava gritos de estimulo:
- Ai, ai, ai, ai.
Não suportando mais, Olegário berrava. Chamava pelos vizinhos e pela polícia. O escândalo que fosse para o inferno. A esposa iria entendê-lo, afinal nunca lhe dera nenhum desgosto. Lembrou de pedir ajuda ao Otavinho, na certa ele devia estar envolvido nisso tudo também. Quando seus joelhos começaram a sangrar, uma névoa cobriu-lhe os olhos e segundos mais tarde o teto era sua única referência. O porteiro eletrônico soava com insistência, despertando-o de seu sono. Meio zonzo, sem saber ao certo o que ocorria, atendeu o interfone e apertou o botão de entrada.
Logo, estava frente à frente com uma linda loira, alta, olhos azuis e um corpo que Olegário nunca vira assim, ao vivo, só nas novelas ou nos filmes de Hollywood, que tanto apreciava.
Ela lhe cumprimentou meio sem jeito. Em troca recebeu apenas um resmungo. A indiferença do cliente, provocou um sorriso constrangido na jovem, que pediu para ir ao banheiro.
Da sala, o aposentado ouviu a loira exclamar baixinho, que o banheiro estava uma imundície. Temendo uma nova desgraça, pagou a moça e pediu para que ela fosse embora. Sentia um misto de saudades da tranqüilidade de seu lar, frustração e arrependimento de tudo o que não fizera na vida e sabia que não faria mais.
Logo que a jovem foi embora e seu Olegário realizava a última inspeção, antes de sair, o idoso foi surpreendido por um casal, que nunca vira antes, abrir a porta do apartamento com as chaves. Chamou-lhe a atenção como homem e mulher agiam de forma tão natural, como se fossem eles, os donos do imóvel. Pelo jeito o inquilino desrespeitava a ordem judicial.
Era o casal das cinco. Para quem o Otavinho havia alugado o apartamento, para uma hora de amor.