Lábios Carnudos

Juca era um rapaz de porte atlético invejável. No auge dos seus 28 anos, alto, loiro, olhos azuis, enfim, fazia o maior sucesso com as mulheres. Tanto assédio fazia com que o belo moço não se prendesse a alguém por muito tempo.

Certo dia, ao sair do trabalho, numa sexta-feira à tarde, Juca decidiu passar na choperia Pandora, uma rotina comum nas tardes que precediam os finais de semana. Um chope seria a medida certa para relaxar após um dia exaustivo de trabalho. Como de costume, chegou-se ao balcão e pediu um copo da bebida — sem colarinho, por favor! — indagou Juca. Passados alguns minutos, ele já havia feito uma varredura no local à procura da clientela feminina. Observou que alguém o observava atentamente.

Em uma mesa ao fundo da choperia, sob uma luz fraca, uma mulher morena, lábios carnudos, batom vermelho brilhante, cabelos pretos e ligeiramente encaracolados, apesar de acompanhada, não tirava os olhos do rapaz, sem sequer procurar disfarçar. De repente, um garçom aproximou-se de Juca e entregou-lhe um pequeno bilhete, referindo-se à moça como remetente. Discretamente, Juca guardou-o no bolso. Ao final do terceiro chope, saiu e abriu o bilhete: “Me liga, 9168-4040”.

No dia seguinte, pensou Juca, seria um momento excelente para uma investida. Ligou para a moça e descobriu que se chamava Joana. Após uma longa conversa, Joana, com aquela voz macia, delicada, convidou-o para um encontro, que seria no seu apartamento.

Ao entardecer, chegou Juca ao prédio onde a moça morava. Pediu ao porteiro para anunciá-lo, mas recebeu a notícia de que Joana havia saído e não demoraria. Ele decidiu aguardar no carro, estacionado do outro lado da rua. Ao avisar ao porteiro, percebeu que este o olhava com um sorrisinho malicioso. O rapaz ficou curioso com aquela reação, mas seguiu conforme planejara.

Juca sentou-se ao banco do carro, respirou fundo, e colocou o seu barco a navegar no imenso mar da imaginação, fértil e criadora. Pensava meticulosamente nas coisas que diria a Joana, como procuraria atraí-la para sua pequena teia, tal qual uma aranha, prestes a fisgar sua presa. De repente, Juca recolheu as velas do seu barco e percebeu que uma Mercedes prata estacionara em frente ao prédio. Pela silhueta, parecia-se muito com Joana. Quando a porta do veículo foi aberta, Juca levou subitamente as duas mãos à boca, atônito. Joana calçava pelo menos 42. Quando ela saiu do carro por completo, o rapaz pôde comparar, e comprovar, que o pescoço da suposta moça era mais grosso que o seu.

O que se ouviu depois foi só o som de um veículo arrancando em disparada. Juca desapareceu...

F Cavalcante
Enviado por F Cavalcante em 30/11/2009
Código do texto: T1952797
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