AS ALIANÇAS DOS CRUZAMENTOS

São Paulo, chuvosa manhã de domingo, num cruzamento da avenida Brigadeiro Luis Antônio com a São Gabriel.

De súbito freei meu carro em pleno verde do semáforo, bem no limite da faixa de pedestres a deixar marcas de borracha no asfalto, porém ele sequer levantou a cabeça. E continuou...

Ele vinha confabulando consigo, vinha do nada para lugar nenhum, e continuou, sisudo, apático ao entorno, com a barba grisalha a lhe tocar o tórax, pés desnudos e escurecidos pela fuligem das ruas,camisa semiaberta e dum branco encardido, calças a lhe escorregar pela cintura, amarrada a um bornal.

Vinha dum passado esquecido para um futuro inexistente.

Nada mais trazia, de tudo havia perdido, de nada havia sobrado, exceto um brilho dourado da aliança, que num flashe dum sol equivocado, reluzia seu anular esquerdo entre as cinzas do que existiu.

VERÍDICO.

NOTA:

Às vezes me impressiono com os poetas que gritam a forte poesia das ruas.