XIII - Diferença: a arte de bem viver

Um senhor de avançada idade contou essa história a sua neta, que a recontou várias vezes ao longo dos anos.

Ele contava que numa cidade do interior de Minas Gerais, um homem honesto, trabalhador e dono de algumas posses, vinha à cidade sempre por ocasião da colheita para vender sua safra e certa ocasião adentrou a igreja da cidade e pediu permissão para falar, permissão que fora concedida mediante gorda esmola para a Casa do Senhor.

_ Eu sou um homem: solteiro, honesto, tenho bens e trabalhador, que gostaria de obter a permissão para falar com as moças da cidade a fim de firmar compromisso. Desejo casar-me e constituir família. Faço apenas duas exigências, que a moça seja de respeito e saiba cozinhar. Não precisa nem ser bonita.

E assim ele encerrou sua falação. Logo choveu moças casadoiras na sacristia da igreja e não tardou uma foi escolhida, chamava-se Maria Julia.

Em uma semana Maria Julia e Antônio se casaram. Então foram para a fazenda, onde deveriam viver e onde ocorreria à lua-de-mel.

Ele não tocou na moça pretextando uma imensa dor de cabeça foi dormir no quarto ao lado e no dia seguinte saiu cedo deixando a esposa trancada em casa e antes de sair avisou que estaria em casa para o almoço e que ela deveria fazê-lo.

Maria Júlia olhou e viu que havia tudo: água, comida, fósforo, enfim descobriu que faltava apenas a lenha, até um machado estava à beira do fogão.

Ela então se despreocupou do almoço, pois com certeza o marido não haveria de ficar bravo já que ele não havia providenciado a lenha e como ele a deixou trancada de nada servia o machado e envolta em seus pensamentos ficou.

Meio-dia em ponto Antônio chegou e foi logo perguntando pela comida e ela lhe deu todas as explicações possíveis e ele então disse:

_ Arrume suas coisas que eu a levarei de volta ao seu pai.

_ Mas, como? Perguntou Maria Júlia.

_ Esta reclamando, acaso acha que não tenho razão? Por isso levará umas palmadas.

E pondo a moça sobre seus joelhos lhe aplicou cinco palmadas dolorosas. Quando esta se levantou correu para o quarto e pegou suas coisas.

Logo Antônio e Maria Júlia se encontravam diante dos pais da moça e do padre da cidade, e Antônio comunicou que estava devolvendo a moça, pois esta não sabia fazer comida, o que gerou espanto em todos.

O pai quis uma satisfação maior, mas Antônio logo lhe informou que sua filha continuava moça de respeito, pois ele nunca a tocou e pediu para que a mãe da moça verificasse o que ele estava dizendo.

A mãe então levou a moça para o quarto e verificou que Antônio dizia a verdade e assim o casamento pôde ser anulado.

Depois Maria Julia narrou para a família o que havia ocorrido e todos ficaram aliviados dela não estar mais casada com aquele doido.

No ano seguinte ocorreu a mesma coisa com outra jovem que ele desposará e depois viera devolver tudo igual até as palmadas.

No terceiro ano ele escolheu nova noiva: Cláudia, uma jovem inteligente, que já conhecia a fama daquele homem, que ela sempre admirá-la desde a primeira vez que ouvirá sua fala na igreja, ano após ano, rezava para que ele não se casasse com outra, pois ela sonhava tê-lo como marido, informada pelas próprias moças de suas histórias, pensava sempre: _ Comigo será diferente!

Casou-se, com toda a família apreensiva, seus pais ficaram muito tristes, mas ela desde seus 15 anos que falava que ela é que seria a esposa de Antônio.

Os pais respeitavam a decisão e viram com pesar que Claudia estava casada e a caminho da sua nova residência.

Todos na cidade, diziam não se preocupem amanhã ela estará de volta.

Assim que o marido a deixou em casa pretextando trabalho, ela compreendeu que aquilo era um teste. Ele queria o almoço, mas não deixava a lenha.

Antônio estava triste, pois pela primeira vez sentia algo diferente em seu coração e se ela não passasse em seu teste o que faria, pensava ele enquanto caminhava pela fazenda esperando a hora passar.

Claudia olhou envolta e viu que na cozinha havia um machado e que os móveis da cozinha eram diferentes, rústicos, não tinham a mesma elegância que os móveis do resto da casa. Sem pensar duas vezes, passou a mão no machado e se pôs a quebrar as cadeiras, os bancos para fazer fogo, tudo era lenha.

Ao meio dia quando Antônio chegou o prato estava sobre a mesa e a comida cheirava longe.

Ao servir com indisfarçável alegria, olhou para a esposa e perguntou: _ Onde vou sentar?

_ Não sei. Mas ao sair você só me pediu para fazer o almoço, e este é outro problema, portanto dê-me um tempo e eu poderei resolver. E olhando em volta saiu correndo e ao voltar trazia arrastada uma cadeira enorme da sala de jantar.

_ Isso basta! Exclamou o marido. A partir de agora, eu posso dizer que não precisará resolver mais nada, pois de hoje em diante será a rainha desse lar.

Depois do almoço apresentou-lhe a cozinheira da casa, pediu aos empregados que arrumassem a cozinha.

E depois de alguns meses voltaram a cidade para preparar o enxoval do primeiro filho.

Ao ser indagada pelas moças como conseguiu. Ela simplesmente respondeu:

_ Atendi ao pedido que meu marido me fizera, pois não me diminuía em nada.

Antônio era só felicidade, gabava-se de ter achado jóia preciosa e que nada no mundo poderia lhe dar tamanha alegria.

Os pais de Claudia compreenderam que ela jamais estivera errada a respeito de seu marido, para a felicidade de todos e espanto de toda a cidade.

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Muitas vezes temos problemas para conviver com outros porque:

Não sabemos ouvir;

Não sabemos falar;

Não buscamos entender o outro;

E às vezes porque simplesmente é mais fácil não ver, não ouvir, não resolver os problemas, buscar desculpas para as nossas falhas, para os nossos erros.

Às vezes criamos problemas de convivência, simplesmente porque não aprendemos a respeitar as diferenças, ouvir uma critica sem levar para o lado pessoal, estamos sempre dispostos a brigar pelo nosso ponto de vista, sem ao menos pararmos para refletir se o que o outro nos diz tem razão de ser.

Agimos de acordo com o que é conveniente, e muitas vezes perdemos grandes oportunidades de crescimento e aperfeiçoamento de nós mesmos.

Julguemos as oportunidades da vida com sabedoria.