O CRASH DA BORBOLETA NEGRA
Após a chuva, eu ali estava a olhar o verde viçoso da grama, quando um forte e contrastante cromatismo se mexeu agitado, tombado de lado, porém sem sair do lugar.
Já início de primavera e ela com certeza acabara de sair do seu casulo, para a magia prazerosa de voar.
De pequeno porte, tinha asas negras como a noite e poucas máculas de cores azulão e pink.
Eu nunca havia visto nada igual, de beleza deveras singular.
Aproximei-me, peguei-a nas mãos e percebi que não oferecia resistência ao meu toque. Estranhei. Borboletas são ágeis como o tempo!
Coloquei--a no alto, alinhei suas asas com as mãos e lhe posicionei numa posição estratégica para que alçasse voo.
Em tênues batidas das asas, ameaçou decolar e despencou no chão. Tentamos mais algumas vezes, mas ela recolhia as pernas como se estivesse machucada.
Sei que borboletas não voam com as pernas, então examinei com cuidado suas asas, poderia ser a falta duma delas.
Constatei que tinha dois pares de delicadas asas, um menor que repousava sobre um outro maior.
Porém observando-a com mais cuidado, detectei uma MICROSCÓPICA fenda numa das asas menores.
Então era aquilo!
A tempestade que cessara talvez lhe tivesse tirado uma ínfima lasca da pequenina asa, porém suficiente para que fatidicamente ela perdesse sua aerodinâmica.
Recostei-lhe na grama, e dela me despedi em pensamento, a lamentar por deixá-la a mercê do vento que já voltava a soprar mais forte.
Fiquei a imaginar quantas imperceptíveis lascas também nos impedem de voar...para sempre.
VERÍDICO