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O PRESENTE OCULTO


Chegaram a lhe perguntar por que tinha agido daquela forma?
Eu não sei! Não o questionei!
Somente sei que ele se encontrava desesperado, sem emprego, devendo na praça e sem ninguém para ajudar. E para completar o quadro, depois de mais uma dúzia de “nãos” e nenhum “talvez”, ao chegar em casa próximo do horário do almoço descobriu que seu filho pequeno estava adoentado, precisando urgentemente de remédios. Recebeu esta notícia através dos berros de sua companheira, ultimamente tão nervosa.
Analisem a cena e me digam: O que fariam no lugar dele?
Talvez acabassem fazendo o que ele finalmente acabou por fazer...
Ele refletiu e tomou uma decisão que achou ser a mais correta, aquela que atendia às suas necessidades daquele momento específico.
Subiu rapidamente até o quarto levando uma cadeira de madeira com a qual pode alcançar o maleiro do guarda–roupa antigo e muito alto. Suas mãos tatearam em busca de uma caixa ainda mais antiga que o velho móvel e soltou um suspiro de alívio quando a encontrou, pois chegou a imaginar que a mãe de seu filho a tivesse jogado fora na última faxina realizada.
Abraçou a caixa que fora construída para guardar sapatos e contra o peito a protegeu, olhando em volta temendo um flagrante. Começou a balançá–la suavemente, ela que guardava um objeto que ganhara do pai e jamais achou que precisaria usar novamente, mas o desespero falou ainda mais forte e seu destino ele planejava mudar. Retirou o objeto precioso de dentro, guardou–o dentro da jaqueta e sem se preocupar com mais nada saiu, passando por cima dos apelos de sua esposa que percebeu em seu rosto algo novo e não soube precisar se continha uma imagem boa ou ruim.
Ela teve medo. Tentou persuadi–lo. Em vão!
Naquela noite ele não voltou para casa e na manhã seguinte, enquanto ela esperava acordada pelo pior, ele surgiu pela porta com diversos embrulhos envoltos em sacolas.
– O que você fez? – Ela conseguiu gritar.
Ele nada respondeu. Retirou os embrulhos e abriu–os sobre a mesa da cozinha. Ali estava o alimento para os próximos dias e num outro embrulho menor os medicamentos para o filho.
Não tinha arrependimento no rosto, ela notou, parecia estar feliz e ao mesmo tempo exausto.
Ele saiu da cozinha rumando para o quarto. Ela o seguiu e viu quando ele se debruçava sobre uma caixa velha guardando algo dentro, depois colocava a mesma no seu lugar de sempre, junto à sua bagunça na parte de cima do guarda–roupa.
Quando desceu da cadeira disse simplesmente o que ela já esperava ouvir.
– Arrumei um trabalho e comecei ontem a noite mesmo. Não deu nem tempo de avisar e nosso telefone está cortado, você sabe.
Depois das palavras desabou de cansaço na cama. Ela ainda ficou um tempo a observá–lo e se perguntou o porquê das coisas chegarem naquele ponto. Ele nunca havia mentido para ela, ao menos era o que acreditava até naquele dia.
Tinha receio de descobrir que tipo de emprego o marido arranjara e tinha mais medo ainda de bisbilhotar em suas coisas e possivelmente descobrir a sua ferramenta de trabalho escondida ali, mas precisava fazê–lo.
Quando teve certeza que ele dormia profundamente, subiu na cadeira e com muito esforço devido a sua baixa estatura, encontrou o que procurava e saiu do quarto.
Naquela noite ele saiu novamente para o trabalho e ela o abraçou na porta, desejando boa sorte enquanto segurava firmemente em uma das mãos o objeto que ele ganhara e guardara por tanto tempo, o qual ela utilizaria daqui a pouco para rezar uma prece em agradecimento.

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Abraços!
JGCosta
Enviado por JGCosta em 28/11/2009
Reeditado em 28/11/2009
Código do texto: T1949206