X - O veneno da ira
Carlos era um homem muito colérico, bastava que alguém pisasse no seu pé para que ele soltasse os cachorros.
Certa vez ele comprou um produto de um vendedor amigo da família, que já o havia atendido antes em outras compras que fizera.
O produto foi pago, venceu os 30 dias de prazo e nada do produto ser entregue, para desespero da esposa de Carlos que temia suas reações de ira.
Carlos não era um homem ruim, mas ele não admitia que alguém o enganasse e ficasse por isso mesmo, ele cumpria com todas as suas obrigações: pagava em dia, se tinha problemas se comunicava com a empresa ou pessoas para avisá-las de seu impedimento, enfim buscava resolver de todas as maneiras as dificuldades, para amenizar os transtornos para os outros.
Quando sua esposa informou que o produto não havia chegado, Carlos foi verificar suas anotações, o documento do produto e o contrato que ele assinou, tudo para verificar se não havia cometido algum engano. Após verificar que o erro não era seu, rugiu como um leão para desespero da esposa que se pôs a rezar.
Ligou para o vendedor e lhe passou aquele sermão, sem graça e sem o que dizer o vendedor deu-lhe o telefone da firma em São Paulo, mas aquela hora tudo já estava fechado, isso teria que ficar para o dia seguinte.
Antes de ir se deitar repassou cada item da conversa que teria com o escritório em São Paulo.
Ao acordar foi logo dizendo para a esposa: _ É hoje!
Ao chegar na empresa, que gerenciava disse a secretaria:
_ Maristela nas próximas duas horas eu não estou, morri, não atendo, não resolvo nada, sequer existo, entendeu?
_ Sim! Senhor, mas...
_ Não existo! Já esqueceu?
_ Não, senhor! Respondeu Maristela entendendo que aquele seria um daqueles dias terríveis, onde o melhor a fazer era obedecer e orar.
Sentou, pegou o telefone e ligou para São Paulo, uma jovem chamada Ana atendeu do outro lado.
_ Bom dia, senhor! O que deseja?
_ Eu gostaria de saber quanto tempo um produto leva para ser entregue depois de pago pelo cliente?
_ 30 dias, senhor!
_ Isso vale para todo o território nacional?
_ Sim, senhor!
_ Então eu gostaria de saber se acaso sou um cliente ruim?
_ Por que, senhor?
_ Porque paguei antecipado e ainda não recebi o meu produto.
_ O número do contrato, por favor, senhor?
_ O número é 302578-1000.
_ É o senhor Carlos Alberto Figueira?
_ Sim!
_ Só um minuto que vou checar no sistema.
Música para entreter o cliente, depois de dois minutos a jovem volta a falar com o seu Carlos.
_ Não encontramos nada de errado o produto já foi despachado para o nosso escritório em sua cidade.
_ Então, por que ele ainda não chegou?
_ Senhor não sabemos!
_ Existe alguém na empresa que possa me dar essa resposta?
_ Estou transferindo, senhor!
Carlos repetiu a história mais quatro vezes, até que no último atendente ele solicitou o telefone do escritório da empresa em sua cidade, todos os atendentes ficaram nervosos, mesmo sem ser grosso seu Carlos produzia uma sensação de mal estar em todos que o atendiam.
Ligou para o escritório e perguntou quanto tempo um produto levava para ser entregue, depois de enviado para o escritório local. E a moça lhe respondeu que a entrega era imediata.
_Então me diga o que tenho que fazer para receber o meu produto? Acaso vocês cobram propina ou só cumprem com o contrato quando são processados?
_ Não senhor, nós não cobramos nada pela entrega!
_ Então aonde esta o meu produto? Acaso estaria em sua casa porque na minha não chegou nada!
_ Senhor eu vou transferi-lo para o meu superior! Disse a moça, que já tremia.
Antes de dizer qualquer coisa seu Carlos pediu o endereço do escritório, no que foi prontamente atendido, depois repetiu toda a história e todas as perguntas.
_ Senhor estou verificando em nosso sistema. Aguarde um momento!
Novamente foi ligada aquela famosa musiquinha para o cliente. Depois de alguns minutos o chefe do escritório atendeu novamente seu Carlos e lhe garantiu que depois de dois dias o produto seria entregue.
_ Então quarta-feira se não chegar eu posso acionar a policia, certo?
_ Não precisara de nada disso senhor, eu lhe garanto que na terça-feira o seu produto estará em sua casa.
Seu Carlos passou o final de semana, mais a segunda e a terça reunindo argumentos para a sua visita ao escritório.
Terça-feira à noite o produto ainda não havia sido entregue, seu Carlos nem conseguiu dormir, às 6:00 horas da manhã da quarta-feira ele já estava na porta do escritório, quando chegou uma jovem bonita e sorridente.
_ Bom dia, senhor!
_ Veremos? Respondeu Carlos.
_ O senhor deseja falar com quem?
_ Você resolve alguma coisa aqui?
_ Sim! Na ausência de meu chefe eu sou responsável.
Depois de repetir todas as perguntas e obter as mesmas respostas. Ele falou num tom mais elevado:
_ O que devo fazer agora? Chamo a policia, levo o caso a um advogado ou acho uma terceira opção nada agradável?
_ Senhor dê-me até o fim da tarde e eu resolverei isso para o senhor.
_ A senhora tem até as 3:00 h, porque as 4:00 o advogado entra com o processo no fórum e eu lhe garanto fazer tanto barulho que vocês terão que fechar, pois não haverá clientes aqui.
Quando seu Carlos saiu a moça tremia, logo em seguida teve uma diarréia de fundo nervoso, ligou para o chefe que se encontrava na transportadora despachando o produto do seu Carlos, pois este havia sido informado cedo que o produto não havia sido despachado no dia que ele combinou. Naquele dia o escritório não funcionou pois Márcia não conseguia sequer ficar em pé, muito mesmo realizar sua função, o seu chefe ficou tão irado com a atitude do cliente que teve uma dor de cabeça e foi parar no hospital, onde encontrou um senhor, que também estava morrendo de tanta dor de cabeça.
Quando o chefe de Márcia narrou para o companheiro de enfermaria o que tinha desencadeado sua dor de cabeça, o outro entristeceu e ficou pensativo.
A razão de uma moça estar em casa, de quatro atendentes de São Paulo terem ficado doentes, de uma empresa estar fechada, do dono estar ali, e ele próprio - tudo isso aconteceu porque ele não conseguia conter a sua ira.
A partir daquele dia Carlos procurou controlar-se mais, pois isso não só o atingi como também atingia tudo a sua volta: sua família, parentes, amigos, empregados, e seu trabalho e outras pessoas.
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Muitas vezes agimos como bichos, animais irracionais que liberam energias nocivas ao mundo, tóxicas, contagiantes, deletérias, aniquiladoras de forças salutares e revitalizadoras dos seres vivos.
Lembremos, porém que essas energias só nos atingem porque não possuímos equilíbrio suficiente para bloqueá-las.
Nós não nos conhecemos, por isso não controlamos nossas ações, aceitamos influencias de pessoas desequilibradas, de jornalismo sensacionalista, de conversas não edificantes, de atitudes que consideramos indignas, enfim nos enervamos porque ainda não conseguimos nos amar, porque quem se ama não se envenena; quem se ama, ama o outro, respeitando suas limitações, compreendendo sua ignorância e seu desequilíbrio porque vê nele um irmão menor; ou seja, vive como um verdadeiro Cristão.
Todos nós cedo ou tarde chegaremos lá: no equilíbrio, na compreensão, no amor ao próximo, a nós mesmos, enfim um dia atingiremos a perfeição e seremos capazes de amar em plenitude como o Cristo nos amou, podendo assim estar mais perto de Deus.
O que esta esperando? Uma enxaqueca daquelas ou uma dor de estômago terrível? Vá comece já! Porque só você tem a chave para desligar os mecanismos de sua ira. Boa Sorte!