IX - PASSA OCÊ

Há muito tempo atrás Maria contou essa história para sua filha Eliane, que gentilmente recontou ao longo do tempo.

Numa cidade provinciana havia uma senhora chamada Raimunda muito devota a Deus, vinha todos os dias a igreja rezar, porém era analfabeta e sem o domínio das letras rezava como seu coração pedia.

Toda à tarde, Raimunda seguia para a igreja de sua devoção, tirava da bolsa pequeno rosário, ajoelhada rezava baixinho: “_Passa ocê, passa ocê, passa ocê, ..., passa ocê que é maió!”

E assim ela fazia até o fim do rosário, sendo que o “passa ocê” era para as Ave-Marias e “passa ocê que é maió” para o Pai-Nosso.

Raimunda rezava com tanta fé e seus pedidos eram sempre atendidos, que ela considerava tudo certo.

Dona Sandra uma mulher religiosa e que prestava muita atenção em todos os participantes da igreja, percebeu a dificuldade de dona Raimunda e foi logo dizendo:

_ Dona Raimunda a senhora não sabe orar?

_ Sei sim! Respondeu dona Raimunda.

_ Não, esse jeito que a senhora reza não está certo. Eu vou lhe ensinar a rezar direito! Igual a todo mundo.

_ Então ta bão! Falou dona Raimunda, pensando em tudo que poderia aprender, e quem sabe até rezar lá na frente no altar da igreja quando padre José chamasse um dos fiéis, essa pessoa podia ser ela! Isso seria uma benção. Suspirou Raimunda.

Sandra ensinou além das Ave-Marias, o Pai nosso e os mistérios, foram semanas de árduas lições.

Raimunda por sua vez prestava tanta atenção à forma para não errar, para dizer tudo do jeito que dona Sandra ensinara, que nem sentia mais o prazer de conversar com Deus, era tudo mecânico, seu cérebro estava focado nas falas e seu coração temeroso, pois não queria errar.

Depois de duas semanas dona Raimunda estava de volta a sua antiga forma de orar para surpresa de dona Sandra, que logo veio lhe perguntar o por quê de sua ação.

_ A senhora me ensinou bem, e eu sou grata, mas essa reza não tava funcionando, parece que Deus não estava me ouvindo, desse jeito que eu rezo Deus sempre me atende.

_ Mas, mas! Balbuciou dona Sandra.

_ Desculpe, mas eu vou rezar assim. Mesmo assim obrigada!

E a partir desse dia dona Raimunda rezava com o coração centrado em Deus e mesmo sem o domínio das letras e a forma ensinada nas catequeses ela falava com Deus, pois em toda a sua simplicidade buscava-O verdadeiramente.

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A oração é um momento de estarmos conversando com Deus, de falarmos com o coração.

É um momento de ligação, de sintonizarmos nosso radinho de pilha na Grande Emissora Universal, de receber as energias salutares e revitalizadoras, de pedirmos força e resignação para suportarmos nossas provas, de agradecermos ao Pai pela oportunidade da vida e por todas as bênçãos que recebemos todos os dias, de louvarmos o Senhor do Universo, enfim é um momento único de integração com o Pai.

A oração deve ser concisa, clara e objetiva, mas o mais importante não é nada disso; o mais importante é ela partir do coração, se vai ter três segundos ou 24 horas, se vai ser de uma palavra (obrigada) ou se vai ter milhares; se vai ser objetiva ou se vai fazer um monte de rodeio para dizer o que quer; nada disso importa; pois Deus que tudo vê, sabe, ouve e sente, só se importará com sua intenção, com as palavras que emanam de seu coração em forma de sentimento, do amor, que é a chave que tudo abre, que conduz a Deus.

Para orarmos não é preciso seguir um ritual, estarmos em um local determinado, seguir uma forma, pois como disse Jesus “onde um ou mais estiverem em meu nome lá estarei”, para falar com Deus basta abrimos o nosso coração, a qualquer hora, em qualquer lugar, sem cerimônia.

Deu vontade falar com Ele agora, então fale, não deixe para depois. Boa conversa!