Nosso rio Tietê morrendo aos poucos
Nos meus 57 anos de vida tive apenas duas oportunidades de navegar no rio Tietê. E foi recentemente. Para minha tristeza, meus olhos confirmaram o que nem sempre eu aceitava. Moro na cidade que tem o mesmo nome do maior rio paulista e que ao contrário de muitos outros que desembocam no mar, ele nasce na serra, corta o Estado de São Paulo e desemboca no rio Paraná. Nesse trajeto ele ganha, principalmente na passagem por São Paulo, tudo que não presta para acabar com sua vida. A partir de um ponto, próximo a Piracicaba, uma cidade vizinha à minha, o rio começa a alargar-se em razão das represas existentes mais à frente, e com isso ele ganha mais vida. Até navegação é possível a partir daí.
Na minha cidade existe um grupo ecológico apaixonado pelo rio e volta e meia fazem passeios de catamarã (embarcação construída pelos integrantes do grupo) que chegam a durar dois ou três dias, partindo de Tietê em direção a Barra Bonita. Foi nessa embarcação que pela primeira vez conheci o rio sobre seu leito. Foi num trajeto de oito quilômetros rio abaixo, partindo do centro da cidade por onde passa o rio, até chegarmos a um lugar chamado de Parque Ecológico. Enquanto fiquei surpreso acompanhando o sonar, aparelho que detecta objetos imersos sobre a água e marca a velocidade do catamarã, senti tristeza ao olhar nas margens no nosso querido rio Tietê. Nem mesmo o encanto de pássaros diferentes ou até mesmo capivaras correndo sob as árvores conseguiu mover minha decepção com as sujeiras trazidas pelas enchentes e presas na imensidão de árvores nativas. São locais de difícil acesso para limpeza, coisa que costumeiramente os integrantes do grupo ecológico costumam fazer, e por isso, essa sujeira toda ficará impregnada na natureza por muito tempo ainda.
Meses depois repeti a experiência, desta vez numa romaria náutica em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Partimos de outro ponto, conhecido como Pirapora e descemos o rio num trajeto de dez quilômetros até o centro da cidade. Achei que desta vez encontraria menos sujeira, pois é comum estudantes e os ecologistas promoverem limpezas nas margens. Que nada! Foi pior ainda, pois as últimas enchentes e foram várias, trouxeram mais sujeiras, o que mostra que falta muito para o povo tomar consciência de que tudo aquilo que é jogado nas ruas ou nas margens dos rios, ajudam a matar ainda mais aquele que deveria ser o mais importante rio dos paulistas.
Quem sabe meus filhos e netos verão um dia o rio Tietê como tive a felicidade de ver na minha adolescência, limpo, e abastando de peixe os pescadores ribeirinhos.