IV - A cruz

Patrícia conversou com o filho Pedro. Era 01/12/1980 e ele lhe disse que iria a pé para a escola na manhã seguinte.

_ Mãe, já que a senhora vai ao médico amanhã eu vou aproveitar para dormir um pouco mais e vou caminhando até a escola. Tudo bem?

Patrícia pensou um pouco e respondeu:

_ Tudo bem! Vá, mas preste atenção afinal de contas você é o meu tesouro.

Patrícia beijou-lhe a testa e ficou pensativa. O seu filho já era um homem, já estava perto de fazer 18 anos e ela ainda o tratava como um menino. E ela não desgrudava dele, era preciso deixá-lo livre de vez enquando, é talvez isso fosse ser bom.

Na manhã seguinte Patrícia saiu cedo para não se atrasar para o médico.

Pedro dormiu até às 9:00 h e saiu correndo, pois estava atrasado. Na saída encontrou-se com Felipe, que também estava atrasado para a aula.

_ E ai Felipe tudo bem?

_ Beleza! Jóia, jóia! Pedro, você também dormiu muito hoje?

_ Demais! O professor vai ficar uma fera porque ele só vai a escola para me aplicar uma prova. E eu ainda estou no meio do caminho.

_ Sua prova é com o professor Ivo?

_ Sim!

_ A minha também.

_ Ele vai ficar bravo em dobro, então?

_ Com certeza!

_ Mas, que milagre foi esse dá sua mãe te deixar vir sozinho pra escola?

_ É que ela tinha médico, hoje! Por falar nisso você podia ir lá em casa pra você conhecê-la.

_ Sua mãe é muito doida! Desculpe-me, mais acho que eu não vou não.

_ Quando você conhecer a minha mãe, você vai ver que ela é bem legal.

_ Ta bom! O que a gente não faz para não perder o amigo. Mas, primeiro vamos lá fazer a prova.

E Felipe correu para atravessar a avenida, que os separava da escola.

Pedro o seguiu sem se quer olhar para os lados e foi pego em cheio por um carro, que vinha em alta velocidade, que tentou frear mais não conseguiu.

Felipe virou-se e viu o corpo do amigo voar, os carros que vinham foram parando, todas as pessoas descendo e logo juntou uma multidão em volta de Pedro, que agonizava.

_ Precisamos levá-lo ao hospital! Pedia Felipe.

Mas ninguém queria se envolver, todos tinham medo de se comprometerem.

Felipe gritava e o homem que havia atropelado estava em estado de choque e chorava sem parar.

Felipe então parou uma senhora muito bonita e elegante

_ Senhora, por favor, socorra o meu amigo. Ele está morrendo!

_ Eu não posso tenho que ir ver meu filho em casa.

_ Senhora, por favor! Por favor!

Patrícia estava tão preocupada com o filho que sequer desceu do carro para ver o rapaz. Ela sentia uma dor no peito, queria ver o filho, não podia parar para socorrer ninguém. Corria para casa para ver se o filho estava lá.

Depois de 15 minutos Felipe parou um senhor, que socorreu Pedro.

Ele levava portas e usou uma delas para servir de maca para o menino. E para mantê-lo firme durante o trajeto até o hospital rasgou sua camisa e o prendeu na porta e com a ajuda das pessoas o colocou na traseira da caminhonete e seguiu buzinando e acenando para que os carros saíssem da frente.

Depois de 10 minutos estavam no hospital. Saulo chamou os enfermeiros e falou sobre o acidente.

_ Leve-o para o hospital publico! Falou um enfermeiro.

Ao que Saulo respondeu: _ Eu estou pagando e quero que ele seja atendido agora.

Imediatamente os médicos apareceram e atenderam o jovem.

Saulo que estava sem camisa e todo sujo. Era um empresário de sucesso e tinha filhos e desejava naquele momento que se um filho seu estivesse precisando de ajuda que alguém o atendesse como se deve.

Seu coração generoso de pai temia, que o jovem não sobrevivesse.

_ Aquela senhora podia ter parado! Falava Felipe, que estava num canto a chorar sem parar.

_ Não se preocupe tudo tem a sua razão de ser. Eu vou ficar aqui até o seu amigo melhorar, ta bem? Dizia Saulo tentando acalmar o rapaz.

Enquanto isso Patrícia esperava o retorno do filho querido, quando o telefone toca. Do outro lado alguém perguntando se naquele número morava Pedro Alcântara.

_Sim.

_Gostaria de falar com a mãe dele.

_ Sou eu! Respondeu Patrícia.

_ Gostaríamos que a senhora viesse ao hospital, por que seu filho sofreu um acidente.

_ O que houve? Como está o meu filho? Eu já estou indo!

O atendente informou o endereço e Patrícia seguiu para o hospital sem demora. No caminho chorava e rezava.

No saguão do hospital encontrou um médico, que conversava com um jovem e correu para perguntar-lhe sobre seu filho.

_ Meu filho está aqui, eu quero saber como ele está?

_ Quem é seu filho? Perguntou o médico.

_ Pedro Alcântara! Respondeu-lhe Patrícia.

_ A senhora é a mãe dele!! Exclamou Felipe num susto.

Quando Patrícia virou-se reconheceu o jovem e entendeu tudo.

_ Era meu filho?? Perguntou ela cambaleante olhando nos olhos do jovem.

_ Sim! Respondeu Felipe.

_ Sinto muito senhora! Disse o médico.

_ Não!! Gritou Patrícia inconformada. Meu filho!! Meu filho!

Saulo e Felipe a seguraram antes que caísse no chão.

_ Pobre mulher! Disse Saulo ao compreender a história.

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Muitas vezes faltamos com a caridade, dizendo:

_ Não posso!

_ Agora não dá!

_ Não posso me envolver!

_ Não estou pronta para ajudar!

_ Hoje, não dá!

_ O carro esta limpo, não posso sujar de sangue!

_ Este, não é meu parente ou amigo!

Cuidado! Por que um dia você pode perder algo que realmente tenha valor em sua vida.

Todas as vezes que nosso caminho se cruzar com a dor alheia, pode ser oportunidade redentora que Deus nos concede para quitarmos dividas antiga e muitas vezes evitaríamos a praga assoladora do remorso e da culpa, que nada edifica.

Por vezes nossas cruzes se tornam pesadas demais e se fizéssemos uma analise minuciosa do nosso proceder encontraríamos a causa do nosso sofrer em nossas próprias ações.

É preciso ser mais caridosos, benevolentes e indulgentes, porque ainda não aprendemos a amarmos verdadeiramente o nosso semelhante e muito menos a nós mesmos e por isso sofremos.

O amor é o remissor de nossas faltas e é ele que abranda o peso de nossas cruzes.