I - Irmãos

Ana estava num ponto de ônibus e em dado momento da espera chega uma senhora acompanhada de outras senhoras, todas vestidas de forma recatadas e com longos cabelos presos e com a bíblia embaixo do braço. Elas saúdam Ana com:

_ Salve Jesus, irmã!

_ Salve! Diz Ana sorrindo ao responder a saudação.

Ana também está vestida de forma recatada e possui longos cabelos presos num grande coque.

Elas logo puxam conversa sobre o assunto do momento a morte de uma jovem de forma brutal.

_ O que a senhora acha desse fato, irmã?

_ Acho lamentável para nosso irmão o assassino. Diz Ana sem afetação.

_ Ele não é meu irmão!

_ Ele é filho de Satanás! Diz a outra senhora do grupo.

_ A senhora não acha que ele estava errado irmã! Diz outra senhora se dirigindo a Ana.

_ Sim, acho! Porém todos nós erramos, estamos sempre errando, quer ver: erramos quando falamos mal da vida alheia, quando tomamos a posição de juizes, quando apontamos os defeitos dos outros, quando mentimos que estamos com dor de cabeça para os nossos esposos, quando mandamos dizer aos outros que não estamos em casa para não termos que atender alguém que esteja ao portão ou ao telefone, e ainda forçamos nossos filhos ou subordinados a mentirem por nós. A única diferença entre nós e esse irmão é que nós ainda não fomos pego, pois nós e ele vivemos a cometer erros e a infligir a lei de amor e caridade para com os nossos semelhantes.

_ A irmã tem razão!

_ Que bela explanação, irmã!

_ Com certeza foi Jesus que falou pelos teus lábios! Disse uma mais exaltada.

_ Mas, afinal em que igreja a irmã congrega? Perguntou a outra.

_ Não, eu não congrego em nenhuma igreja, eu sou espírita! Disse Ana sorrindo.

_ Salve-me senhor, Jesus!!! Gritaram, todas em um só coro.

Elas se afastaram e ficaram no outro lado do ponto e só não foram para outro ponto porque começava a chover.

Ana sorriu tristemente, mas ficou no ponto em prece.

Logo o ônibus parou no ponto e só Ana subiu, pois as senhoras resolveram esperar o próximo ônibus a seguir em companhia dela.

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Naquele momento em que se pronuncia a religião não somos mais irmão.

Apesar de na oração proferida por Jesus no Monte das Oliveiras, ele dizer: “Pai Nosso...”, Ele não disse meu pai, pai dos hebreus, pai deste ou daquele, mas sim Pai Nosso, de todos nós bons e maus, pecadores e santos, justos e injustos.

Como sol que brilha para todos Deus não deixa de ser nosso Pai amoroso e justo, amigo sincero de todas as horas, companheiro dos momentos de provas, sempre disposto a nós dar uma nova chance.

Muitas vezes negamos o nosso parentesco universal, e com isso negamos o nosso Pai Único: Deus.

A religião é uma invenção do homem afeito a formalidades, cultos e rituais. Porém todas as religiões possuem um trabalho nobre a desenvolver, que é o de tornar claros os preceitos do Cristo.

O Cristo que veio ao mundo ensinar o homem a amar, que reduziu toda a bíblia, toda lei e os profetas em uma única frase: “Amarás o senhor teu Deus e ao teu próximo como a ti mesmo”.

Ninguém vai ao Pai senão através do outro e para amar o outro é preciso: amarmos-nos, nos conhecermos, domarmos e entendermos nossos sentimentos e ações.

Reformando o nosso ser, libertando o “deus intimo” que existe em cada um de nós.