Um golpe no mestre

Era uma vez um professor muito esperto, que achava que de tudo sabia. Já havia viajado para diversos países, falava três idiomas, enfim, era uma sumidade. Suas aulas eram sempre pautadas na ordem e na disciplina; não aceitava ser questionado, pois sua palavra era a última e a única válida. Os alunos cultivavam por ele um sentimento de medo em detrimento ao respeito. Não aceitava auxílio de seus alunos ao sair da sala de aula com seus inseparáveis livros.

Certo dia, após uma chuva muito forte, o professor terminou suas aulas e, como de costume, dirigiu-se ao pátio da escola para pegar seu carro. Abriu-o, colocou seus objetos no banco traseiro, ajeitou-se no banco do automóvel e: RRRRRRRRR, uma; RRRRRRRRR, duas; RRRRRRRRR, três; e nada. O carro não pegava. Já irritado, ele ia descendo do carro quando se aproximou o Joãozinho, aquele menino franzino do sexto ano, cujas notas sempre beiravam o vermelho, o mais atrasado da classe na concepção do professor:

— Algum problema, professor?

— Pois é, justamente quando chove é que o carro resolve me deixar na mão!

— O senhor quer ajuda? Acho que posso ser útil.

— Ah Joãozinho! Você não vai resolver!

— Vamos ver...

Joãozinho abriu calmamente o capô do veículo, olhou, mexeu, e pediu ao professor para esperar um instante.

Minutos depois, volta o menino com uma faca de cozinha e um pano de prato nas mãos, material que havia pegado emprestado na cozinha da escola. Mexeu novamente no veículo e, em cinco minutos, fechou o capô e, sorridente, disse ao professor:

— Pode ligar o carro!

Sem nada entender, o professor apenas fez o que o menino lhe pedira. E VRUMMMMMMM, VRUMMMMMMM, VRUMMMMMMM. Puxa vida, Joãozinho! Não sei o que dizer. Muito obrigado!

— De nada, professor!

Daquele momento em diante o professor não parou mais de pensar naquela cena. Seu mundo desabara. Como pudera um simples garoto de aproximadamente 14 anos ter tais habilidades e ir tão mal na escola?

No dia seguinte, sua curiosidade foi tanta que ele não hesitou em interpelar o garoto:

— Joãozinho, como você sabia qual era o problema do meu carro?

— Ora, professor! É muito simples. O distribuidor do seu carro estava molhado! Eu só raspei os contatos com a faca e passei um pano seco neles. É que o meu pai é mecânico e tem uma pequena oficina aqui no bairro. Quando não estou na escola, fico na oficina ajudando meu pai e aproveito para aprender um pouquinho.