Sofrendo no supermercado
Não basta ser pai, tem que participar... Não basta ser marido, tem que acompanhar... Se existe algo que me arrepia é quando minha esposa pede para acompanhá-la nas compras no supermercado. Para compras em loja, nem pensar. Ela já desistiu e nem me avisa quando vai. Mas no supermercado... Outro dia estava desanimado empurrando o carrinho, que aos poucos foi lotando de mercadorias. Eu estava cansado e nem dava bola pro murmurinho que se ouvia às voltas. Era tanta gente, tanto empurra-empurra, que se fosse analisar bem teria que fazer curso pra empurrar carrinho e aprender a não esbarrar em ninguém ou derrubar mercadorias das prateleiras.
Eu já não andava, me arrastava nos corredores. Apoiado com os cotovelos naquele lugar que devem ser colocadas as mãos eu empurrava o carrinho. Quando minha esposa chegou à fila do açougue, desanimei de vez. Parei num cantinho e fiquei com o olhar buscando imagens que me acabaram por fazer rir. Eu não era a única vítima. Tinha mais homens de saco cheio por aí. Ao meu lado tinha um marido que estava próximo de um enfarte. Ela suava tanto e arfava que nem percebia que estava pagando mico. Todo mundo que passava perto dele percebia sua irritação com a situação.
Um outro parecia bravo porque a mulher comprava mais mercadoria do que era necessário. Ela acabava de colocar três unidades de um produto no carrinho, ele disfarçava, esperava ela olhar de lado e enfiava a mão no carrinho para tirar o produto e devolver na prateleira.
Tinha um outro que além de estar irritado com a situação ainda carregava no colo uma criança e tinha outra sentada no carrinho. Era um tal de segurar a mão de um e de outro que não tinha fim. Mesmo assim deixou vários produtos caídos no chão ou fora de lugar.
Há maridos que aguentam... não sei se por falta de dinheiro ou por serem pão duros mesmo. Um deles estava com papel, caneta e calculadora nas mãos. Para cada produto que a esposa pegava ele tinha o capricho de marcar o valor e somar. Era impressionante sua paciência e calma com a esposa... “querida, esse produto está alguns centavos mais barato, vamos trocá-lo, amor”. E assim o tempo foi passando. Meia hora depois eu vejo no visorzinho da senha que chegou o número da minha esposa. Ufa! Acho que o martírio está chegando ao fim. Comprou a carne que queria, colocou no carrinho e pronto, fomos para a fila do caixa.
Aquilo parecia o momento final do meu desespero. Eu precisava respirar fundo pra não perder a paciência de vez. Pegamos uma caixa lerda, daquelas que conversam sobre tudo. E o casal que estava na nossa frente? Sem comentários, não tinham pressa nem para pegar a mercadoria do carrinho e colocar no caixa. Minha esposa me vendo irritado, também acabou perdendo a paciência e ajudando o casal a ser mais rápido.
Passado todo sacrifício me dei por conta que perdi a manhã inteira de um sábado ensolarado e quente dentro de um supermercado. E sabendo que esse programa teria que ser repetido muitas vezes ainda. Coisas do cotidiano.