O BECO
Domingo, Martinha acordou cedo e foi para a igreja.
Descendo a escadaria do bairro, a dona de casa avistou um homem estranho e pensou:
-Virgem Maria! Que homem maltrapilho é aquele? O pior é que só têm nós dois aqui, neste beco, e se eu voltar, perderei a missa. Seja o que Deus quiser. Mas tem uma coisa: não sou fraca. Se esse sujeito se engraçar para o meu lado, eu desço o braço nele sem dó e sem piedade. Ah, desço! Desço com vontade mesmo! Aí, ele verá com quantos paus se faz uma canoa!
Ao chegar perto, o mendigo encostou-se na parede e fixou o olhar nela.
Minha amiga, preparada para o combate, pensou em Deus, cerrou os pulsos, empinou o corpo, levantou a cabeça, respirou fundo e o cumprimentou seriamente.
-Bom dia.
Abrindo os braços e sorrindo, como se fosse um mestre-sala, o mendigo respondeu-lhe:
-Bom dia, meu amor!