"Um dia para esquecer"
(um conto real do nosso dia a dia)
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Tudo começou na hora do almoço, do dia 13 de novembro de 2009, ás 12h30min minutos, como faço todos os dias, estava almoçando com minha alma gêmea e de repente a luz piscou e ficou só com um filete. Passamos por um pagão de mais de 10 horas um dia antes, começamos a correria para desligar os aparelhos das tomadas, uma verdadeira maratona.
Continuamos o nosso almoço, e a agitação no prédio crescia, era um falatório e uma grande desilusão, a mulher pegou sua bolsa e foi dá sua aula como faz todos os dias úteis da semana. Logo em seguida desci para levar minha cachorra para o seu passeio diário, La fui eu e minha Sandy, como sempre levo meu jornal e minha sacola plástica, para apanhar a sujeira que ela deixa pelo caminho, aliás, estava dando um exemplo de cidadania, até sorri quando umas crianças uniformizadas com seus uniformes da escola pública, falou: é isso aí tio, mostra a essa gente como se deve fazer quando estão passeando com seus animais de estimação. Parabéns. Sorri e segui o meu passeio.
Voltei ao meu apartamento, e o falatório estava no auge, perguntas no ar, foi o fusível da mufa, não foi um curto circuito, subi até meu apartamento, refleti e resolvi fazer o certo; ligar para a light, o concessionário de eletricidade do Rio de Janeiro, peguei a conta e liguei para 08000210196, e fui atendido por um atendente, depois de passar pela máquina virtual. Dei todos os detalhes que me pediram e me deram um protocolo, nº20091888082,gerado no dia 13/11/09 ás 14.09, com uma promessa de no máximo 4 horas está recebendo a equipe de emergência.Suspirei feliz e contei ao pessoal o acontecido, e todos ficaram aguardando.
As horas foram passando e quando foi as16 horas bateram na minha porta, era minha vizinha do térreo, que me chamava apavorada porque estava um cheiro de fio queimado na portaria do prédio, realmente fui até lá e constatei o fato e outra vez comuniquei a light o ocorrido, passei pelo mesmo processo e foi gerado outro protocolo. O tempo foi passando, às 4 horas já tinham se passado e fui fazendo novas ligações e, passando por todo processo burocrático fui colecionando números de protocolos, ao todo foram oito (oito). Por volta das 21 horas vi da minha janela que a minha vizinha do 3° andar queria subir, fiz uma operação de guerra: fui iluminando as escadas com velas, uma trilha cinematográfica digna de um bom diretor de cinema; resgatei a minha vizinha com toda segurança até seus aposentos, e ainda dei todo suporte para sua filha encontrar velas para iluminar seu apartamento. Esqueci de dizer, essa senhora tem apenas 94 anos quase uma centenária.
Já de volta ao meu apartamento, enfrentando um calor ambiente de mais ou menos 40º, resolvi fazer mais uma tentativa, fiz mais uma ligação passei por todo processo, dei todas as informações e me geraram mais um protocolo, e de repente veio a minha cabeça aquela voz que falou para sua segurança esse telefonema está sendo gravado.
Lembrei que estou num país que não está em guerra mesmo estando em guerra, será que dá para entender?
Os hospitais públicos atendendo gente em macas nos corredores, muitos morrem por ali mesmo; o noticiário vai dando os números da violência da cidade, balas perdidas matando, assaltos, uma loucura.... verdadeiro campo de batalha.
Voltando ao problema do prédio, eu perdi a educação a com educação, perguntei ao atendente Felipe, se a conversa estava sendo gravado, ele confirmou; pedi licença e falei que o que ia desabafar não era com ele e sim com a Light RJ, ele apenas era mais um trabalhador brasileiro, que também não tem direito a exercer sua cidadania. Soltei o verbo para a empresa, e fui dizendo que ela deveria mudar sua razão social, passaria para Cocô Cia Elétrica do RJ, pois estava jogando merda na cara de 20 brasileiros, mas na verdade ela estava jogando merda na cara do Brasil.
Desabafei falando uma verdade e foi gerado o último protocolo da noite, o nº 20091889597, a partir daquele momento, fiquei esperando notícias da s equipes de emergência da conceituada empresa. Adormeci por voltas das 3 da manhã, aliás, acho que desmaiei de tanta raiva, co uma pressão arterial passando dos 15X10.
Clareou e veio um novo alvorecer, levantei e fui correndo para ver se tinha voltado à energia elétrica do prédio... uma decepção; tudo estava conforme começou.
Pensei no ato; como é difícil exercer a cidadania no nosso país, um monopólio que interessa a muita gente. Porque não dividir essa fatia do bolo para outras empresas que querem entrar no mercado?
Era só fazer uma divisão que atendesse as duas partes, ou seja, consumidor e empresa. Tudo seria menos desgastante e seria uma nova fonte de empregos no Brasil.
Mais deixa para lá... as coisas são muito complicadas.
Peguei o telefone, fiz mais uma ligação passando por todo processo burocrático, relatei a minha peregrinação e meu histórico, gravei a conversa e falei para o atendente que estava gravando, fui muito bem tratado, levaram o meu caso a supervisão e geraram mais um protocolo, o de nº 2009 1890865 já do dia 14/11/0 as 8; 27 minutos.
Parti para o cemitério de Inhaúma onde fui levar o meu último adeus ao meu primo Neco, mais um cidadão que partiu sem ter direito a cidadania plena. Só Deus sabe o que ele passou dentro de um Hospital público.
Voltei ao meu hábitat por volta das 12h50min minutos, e como surpresa vi que tinha eletricidade no prédio.
Aleluia... ufa!
“Um dia para esquecer”
(amaropereira)