Meu nome é Mabel - parte 1
Nota: Quando comecei este conto a ideia era dar continuidade, escrever muito mais, dar explicações e criar uma boa trama na medida do possível. ERA, haha. No fim das contas acabo não tendo tempo de terminar o que começo, não tenho computador na cidade onde faço faculdade, venho pouco pra casa, enfim, não fiz o que pretendia. Talvez um dia eu termine, divida em capítulos, sei lá, apresente Mabel como se deve.
(No meu blog o texto está devidamente formatado. Há uma parte deste conto com fontes em tamanhos diferentes para dar um efeito cômico, o que não foi possível com minha reles Assinatura Gratuita)
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(para Luciana Castagna)
Ser traída e despedida no mesmo dia teria sido trágico o suficiente. E eu fui. Mas não poderia imaginar traição tão bizarra como a que me aconteceu. Perdi namorado e emprego ao mesmo tempo, como se fosse um combo do Burger King. A diferença é que na lanchonete eu saberia exatamente o que esperar. Inclusive a coroa de Imbecil do Século, ainda que não estivesse pronta pra usá-la.
Merda pouca é bobagem, tinha mesmo ser em grande estilo: meu namorado me chifrou com a minha chefa! Peguei os dois na cama num sessenta e nove pavoroso. Demorou até eu distinguir pernas de braços e confirmar que eram eles. Mas era o Paulo e era a Marcela. Ela estava arcada em cima do meu travesseiro. Eu me demitiria imediatamente, ninguém toca no meu travesseiro, mas não estava em condições de falar.
— Marcela, veja bem, diante das circunstâncias eu não vejo como continuar nesse emprego. Acho sensato me demitir agora mesmo.
Até eu terminar talvez ela já tivesse se desembrenhado das pernas do meu namorado e inventado uma desculpa razoável. Mas dei meia-volta, deixei o apartamento escancarado e rumei para o escritório. Eles que pegassem um resfriado com a corrente de ar e morressem.
Estava sentada à escrivaninha, pensando em nada, só criando coragem para encaixotar minhas coisas quando Renata, a secretária, deu duas batidinhas na porta.
— Posso entrar?
— Hm — virei lentamente para a porta.
— Aconteceu uma coisa meio chata aqui no escritório que eu tenho que te informar. — foi sentando devagar.
— Lá em casa também. Ta acontecendo. Coisinha meio chata — saiu num gemidinho. As maçãs do meu rosto estavam pesadíssimas, e a mandíbula retesada.
— Pois é Mabel, é o seguinte. Hm. É por causa de ontem. Né? O que aconteceu na reunião da Coca-Cola. A agência perdeu o contrato, enfim. Você pode imaginar o que ta acontecendo. Ta todo mundo comentando. Cocaína e...
—... “Cocaína e reuniões não combinam”, já decorei, Renata. Mas era reunião com a Coca-Cola. Cocaína, Coca-Cola, as duas vêm da coca. Tava tudo em família. — Não tinha graça, eu estava desesperada.
Renata era uma moça muito esperta. Espoleta, falava rápido, caminhava mais rápido ainda a passos curtinhos, e resolvia qualquer coisa. Mas parecia uma minhoca na minha frente. Uma minhoca morta. Fez uma longa pausa e se aproximou:
— Pra te falar bem a verdade ta tudo uma merda aqui na agência, sabe? — cochichou o maior segredo da humanidade. — Não tem outro jeito de dizer. Você foi demitida, Mabel.
Você foi demitida
Você foi demitida
Você foi demitida
Você foi demitida
Você foi demitida
A essa altura eu estava tonta, era demais pra minha cabeça. E ela tinha um dó na voz que me matou.
— A Marcela pediu pra você se retirar com suas coisas até o final do dia. E falou pra deixar todas as A3 que você não usou em cima da mesa. Mas ai! Leva tudo, Mabel. Sinto muitíssimo, querida.
Me deu um beijinho em cada bochecha e saiu.
Eu ainda não tinha derramado uma lágrima, e nem pretendia chorar ali.
Juntei minhas coisas e saí da sala, cruzei o escritório carregando o peso dos olhares daquelas pessoas maldosas, tão cheias de deleite, tão cheias de... Empregos, e namorados.
Poucos vieram me abraçar. Um deles foi Eraldo, um gordo horroroso que vivia me cantando. Foi o ultimo a se despedir, e terminou falando tudo que eu definitivamente não precisava ouvir:
— Sempre vai ter um emprego pra você na minha futura agência e um espacinho só seu aqui dentro — contornou um coração no peito.
Eu estava completamente anestesiada, mas me sobrava noção pra assistir àquela cena e não me conformar. Eraldo era um coitado, e acreditava na merda que estava falando. Justamente por isso talvez eu devesse trabalhar pra ele e namorá-lo. Sorri complacente, dispensando-o do que quer que ele estivesse fazendo.
Tinha dado um passo em direção à saída quando ouvi Renata gritar meu nome do fundo do escritório. Ela corria até mim, escondida detrás de milhões de flores.
— Já ia esquecendo. São pra você.
Era um buquê de rosas inacreditável. Eu achava que só coroas de caixão podiam ser tão grandes. Olhei para o buquê e me virei para as pessoas. Renata tinha as mãos juntas e o olhar de pena, Eraldo tapava a boca, alguns estavam sentados, respeitosamente em silêncio. Outros já se viravam para os computadores, digitavam ou faziam ligações. Solange, aquela vaca maquiada, olhava pra mim e bocejava. Eu não era a mais bem quista entre os colegas; isso explica o fato de o buquê não ter sido enviado por eles. Era do Paulo, meu namorado. O que estava transando com Marcela, minha chefa. Agradeci e fui embora.
Sentada no capô do carro li o cartão socado entre as rosas:
“Mabelzinha,
Não importa o que aconteça, estarei sempre com você. Te amo.
Paulo”
Escorri até o chão do estacionamento e chorei por milênios. Podem trazer a coroa de Imbecil do Século. To prontinha.