A DEBUTANTE
Essa história eu ouvi dezenas vezes.À cada vez que mamãe reunia-se com outras suas cinco irmãs o assunto vinha à tona e as lembranças provocavam-lhes boas gargalhadas.
Meus avós maternos residiam no interior.Vovô era comerciante e vovó,professôra,lecionava numa daquelas escolas isoladas existente nos fundões do município de Imbituva,lugar não muito distante de Irati.
De tempos em tempos,numa cidade proxima dali realizavam-se bailes muito concorridos.Vinha gente de tôda a redondeza e a moçada,embevecida, ficava depois a comentar sobre o evento.Falavam animadamente dos namoricos,dos trajes,da decoração do salão,da música,etc...Mamãe,que tinha então por volta de 12 anos de idade,ouvia atentamente os comentários e sonhava o dia em que também ela marcaria presença naquêles salões.Era outubro,e iria realizar-se o baile das rosas.Uma espécie de baile das debutantes,com aquêle tempero interiorano.Era só do que se falava nos últimos meses na casa de meus avós.
Vovô que na época desfrutava de uma situação financeira razoável,havia incumbido dona Olímpia,sua irmã que morava em Ponta Grossa ,a comprar os vestidos de minhas tias:Elzi,Cenira,Neuza e Eunice.Não fazia muito tempo,pela estrada de ferro,um grande volume chegara.Em seu conteúdo (segundo descrição de minha mãe)quatro lindíssimos vestidos,perfumes,jóias e aderêços.Tudo escolhido a dedo por dona Olímpia que conhecia bem as melhores lojas da cidade grande.
O vestido de tia Neuza (sempre,a mais paparicada) tinha como complementos:luvas e chapéu.
Deslumbrada e às escondidas,é claro,mamãe já havia provado à cada um dos vestidos,borrifado os perfumes,encantando-se diante do espelho.Sempre sonhando o dia em que seria ela,mais uma integrante da comitiva de dançarinas.Como nunca foi dada a longas esperas,decidira que a sua grande noite havia chegado.
O meio de locomoção de que vovô dispunha na época,era um carroção espaçoso,com tôldo ,duas bancadas com molas,para dar um certo conforto e um compartimento na parte traseira onde havia sido adaptada uma arca para acomodar as vestimentas e acessórios.Chegara o tão esperado sábado! Partiriam por volta das tres horas da tarde o que faria com que chegassem à tempo na casa de parentes,onde se aprontariam para o baile.
Dêsde muito cêdo mamãe encarregou-se de pertubar a paciência das irmãs.
Chorou,bateu os pés,implorou,na tentativa de ser levada ao baile.Tudo o que conseguira foram uns puxões de cabelos daqui outros dali,alguns tabefes e uma série de intermináveis "cala a boca","não perturbe","não adianta chorar",e outras amabilidades do gênero.
Diante de tantas negativas,acabou desaparecendo. O que provocou um grande tumulto na casa.
Chamavam-lhe,procuravam-lhe por lugares inusitados e...nada.
A pequena Hilda havia sumido!...
Tomados de nervosismo generalizado,cogitara-se a idéia de desistência da viagem o que ,a pedido de vovó,não acontecera.
Seguiriam mesmo assim,embora chateados e cheios de preocupações.Meu avô tentava tranquilizar a esposa,dizendo-lhe carinhosamente:
_Tenha calma,ela certamente está aí pela vizinhança,amargando a decepção de não poder nos acompanhar." Pobrezinha!..."
O que ninguém poderia imaginar era o plano por ela arquitetado para ir ao baile.
Havia escolhido a sua melhor roupinha e engalfinhado-se debaixo da segunda bancada da carroça,num espaço que ficava entre o fundo do assento e a arca.
Ajeitara-se muito bem entre os tapetes e pelegos que encobriam o banco ,de tal modo que não pudesse ser vista.
Tôda encolhida em seu esconderijo,respirou aliviada quando,num clima de indisfarçável preocupação,por volta das l4:30 horas o carroção seguiu o seu destino.
Enfiada naquêle minúsculo espaço, ouvia atentamente os diálogos que se iam travando no decorrer da viagem:
Vovô comentava com tia Elzi,a mais velha:
_Essa menina nunca fez uma coisa dessas.Onde poderá estar a essa hora?Tenho pena de Izaura,avalio sua preocupação de mãe.
Responde-lhe tia Elzi:
_Se estiver de arte,juro por Deus que arranco as gadelhas daquela rabujenta assim que voltarmos.
As outras tres irmãs conversavam animadamente sobre outros assuntos sem dar muita importância à desaparecida.
Pelo tempo decorrido,a passageira clandestina percebera que a distância da casa já se fazia muito grande.Vovô,àquela altura jamais retornaria.Chegara o momento de sair do casulo,transformar-se numa borboleta,embora muito consciente do negrume de céu que vislumbraria pela frente,mas "tudo vale a pena quando a vontade não é pequena", então,a libélula surge debaixo do banco,sorrindo triunfalmente proferindo quase aos berros:
_Também tô iiinnndooo!....
Os olhos de tia Elzi,fulminaram -lhe! Vovô,pasmo,não sabia o que dizer.As outras tres irmãs,cairam na gargalhada.
Parada a carroca começara-se um longo debate,uma espécie d e julgamento:
Volta!,não volta!...Bate na cara dela,não bate...
Diante da situação ,nada mais a ser feito,além de relaxar e...Seguir viagem.
Muitas foram as vezes em que ouvira a carinhosa frase proferida pela iirmã mais velha:
_Eu ainda acabo com a vida dessa infeliz!...
Resumindo,chegaram ao destino...Arrumaram-se para o baile e os parentes deram uma boa retocada no visual da borboleta penetra e esta fez o maior sucesso no baile.
Comentários davam conta de que havia ficado linda! Com direito a flor no cabelo,perfume e tudo o mais.
No dia seguinte,ao retornarem,dona Izaura correndo ao encontro da comitiva,desesperada,chora o sumiço de Hilda.
Esta,por sua vez,plena de felicidade,salta da carroca,abraca-lhe,pede desculpas e tudo acaba em risos com uma grande familia conversando animadamente em torno da mesa.
Naquela noite,"na marra",aos 12 anos mamãe havia debutado.
Obs.Mamãe e quatro outras tias são falecidas.Tia Elzi,a mais velha,beirando os 90 anos,unica ainda entre nós,reside em Ponta Grossa.Lúcida e cheia de charme,não dispensa umas borrifadas do antiquíssimo "L´Heure Blue" de Guerlain,antes de sair para seus bordejos pela "Princesa dos Campos",sua cidade.
Essa história eu ouvi dezenas vezes.À cada vez que mamãe reunia-se com outras suas cinco irmãs o assunto vinha à tona e as lembranças provocavam-lhes boas gargalhadas.
Meus avós maternos residiam no interior.Vovô era comerciante e vovó,professôra,lecionava numa daquelas escolas isoladas existente nos fundões do município de Imbituva,lugar não muito distante de Irati.
De tempos em tempos,numa cidade proxima dali realizavam-se bailes muito concorridos.Vinha gente de tôda a redondeza e a moçada,embevecida, ficava depois a comentar sobre o evento.Falavam animadamente dos namoricos,dos trajes,da decoração do salão,da música,etc...Mamãe,que tinha então por volta de 12 anos de idade,ouvia atentamente os comentários e sonhava o dia em que também ela marcaria presença naquêles salões.Era outubro,e iria realizar-se o baile das rosas.Uma espécie de baile das debutantes,com aquêle tempero interiorano.Era só do que se falava nos últimos meses na casa de meus avós.
Vovô que na época desfrutava de uma situação financeira razoável,havia incumbido dona Olímpia,sua irmã que morava em Ponta Grossa ,a comprar os vestidos de minhas tias:Elzi,Cenira,Neuza e Eunice.Não fazia muito tempo,pela estrada de ferro,um grande volume chegara.Em seu conteúdo (segundo descrição de minha mãe)quatro lindíssimos vestidos,perfumes,jóias e aderêços.Tudo escolhido a dedo por dona Olímpia que conhecia bem as melhores lojas da cidade grande.
O vestido de tia Neuza (sempre,a mais paparicada) tinha como complementos:luvas e chapéu.
Deslumbrada e às escondidas,é claro,mamãe já havia provado à cada um dos vestidos,borrifado os perfumes,encantando-se diante do espelho.Sempre sonhando o dia em que seria ela,mais uma integrante da comitiva de dançarinas.Como nunca foi dada a longas esperas,decidira que a sua grande noite havia chegado.
O meio de locomoção de que vovô dispunha na época,era um carroção espaçoso,com tôldo ,duas bancadas com molas,para dar um certo conforto e um compartimento na parte traseira onde havia sido adaptada uma arca para acomodar as vestimentas e acessórios.Chegara o tão esperado sábado! Partiriam por volta das tres horas da tarde o que faria com que chegassem à tempo na casa de parentes,onde se aprontariam para o baile.
Dêsde muito cêdo mamãe encarregou-se de pertubar a paciência das irmãs.
Chorou,bateu os pés,implorou,na tentativa de ser levada ao baile.Tudo o que conseguira foram uns puxões de cabelos daqui outros dali,alguns tabefes e uma série de intermináveis "cala a boca","não perturbe","não adianta chorar",e outras amabilidades do gênero.
Diante de tantas negativas,acabou desaparecendo. O que provocou um grande tumulto na casa.
Chamavam-lhe,procuravam-lhe por lugares inusitados e...nada.
A pequena Hilda havia sumido!...
Tomados de nervosismo generalizado,cogitara-se a idéia de desistência da viagem o que ,a pedido de vovó,não acontecera.
Seguiriam mesmo assim,embora chateados e cheios de preocupações.Meu avô tentava tranquilizar a esposa,dizendo-lhe carinhosamente:
_Tenha calma,ela certamente está aí pela vizinhança,amargando a decepção de não poder nos acompanhar." Pobrezinha!..."
O que ninguém poderia imaginar era o plano por ela arquitetado para ir ao baile.
Havia escolhido a sua melhor roupinha e engalfinhado-se debaixo da segunda bancada da carroça,num espaço que ficava entre o fundo do assento e a arca.
Ajeitara-se muito bem entre os tapetes e pelegos que encobriam o banco ,de tal modo que não pudesse ser vista.
Tôda encolhida em seu esconderijo,respirou aliviada quando,num clima de indisfarçável preocupação,por volta das l4:30 horas o carroção seguiu o seu destino.
Enfiada naquêle minúsculo espaço, ouvia atentamente os diálogos que se iam travando no decorrer da viagem:
Vovô comentava com tia Elzi,a mais velha:
_Essa menina nunca fez uma coisa dessas.Onde poderá estar a essa hora?Tenho pena de Izaura,avalio sua preocupação de mãe.
Responde-lhe tia Elzi:
_Se estiver de arte,juro por Deus que arranco as gadelhas daquela rabujenta assim que voltarmos.
As outras tres irmãs conversavam animadamente sobre outros assuntos sem dar muita importância à desaparecida.
Pelo tempo decorrido,a passageira clandestina percebera que a distância da casa já se fazia muito grande.Vovô,àquela altura jamais retornaria.Chegara o momento de sair do casulo,transformar-se numa borboleta,embora muito consciente do negrume de céu que vislumbraria pela frente,mas "tudo vale a pena quando a vontade não é pequena", então,a libélula surge debaixo do banco,sorrindo triunfalmente proferindo quase aos berros:
_Também tô iiinnndooo!....
Os olhos de tia Elzi,fulminaram -lhe! Vovô,pasmo,não sabia o que dizer.As outras tres irmãs,cairam na gargalhada.
Parada a carroca começara-se um longo debate,uma espécie d e julgamento:
Volta!,não volta!...Bate na cara dela,não bate...
Diante da situação ,nada mais a ser feito,além de relaxar e...Seguir viagem.
Muitas foram as vezes em que ouvira a carinhosa frase proferida pela iirmã mais velha:
_Eu ainda acabo com a vida dessa infeliz!...
Resumindo,chegaram ao destino...Arrumaram-se para o baile e os parentes deram uma boa retocada no visual da borboleta penetra e esta fez o maior sucesso no baile.
Comentários davam conta de que havia ficado linda! Com direito a flor no cabelo,perfume e tudo o mais.
No dia seguinte,ao retornarem,dona Izaura correndo ao encontro da comitiva,desesperada,chora o sumiço de Hilda.
Esta,por sua vez,plena de felicidade,salta da carroca,abraca-lhe,pede desculpas e tudo acaba em risos com uma grande familia conversando animadamente em torno da mesa.
Naquela noite,"na marra",aos 12 anos mamãe havia debutado.
Obs.Mamãe e quatro outras tias são falecidas.Tia Elzi,a mais velha,beirando os 90 anos,unica ainda entre nós,reside em Ponta Grossa.Lúcida e cheia de charme,não dispensa umas borrifadas do antiquíssimo "L´Heure Blue" de Guerlain,antes de sair para seus bordejos pela "Princesa dos Campos",sua cidade.