A gata na Lua
Sua vida era um tédio, odiava-se, sentia-se horrível, inferior, sucumbida pela tristeza e pela rotina, queria morrer, não importava como, mas desejava a morte com toda a força da sua alma. Ela era apenas uma jovem de 26 anos, perdida, solitária, vazia, desesperada pelas frustrações e sonhos fracassados, uma garota introvertida, tímida e chorona. Não importava o motivo sempre chorava, um choro doído, perverso que rasgava seu coração, dilacerava suas forças, machucava-se chorando aos berros, soluçando até vir a calmaria que um bom choro proporciona. Assim, passaram-se seis meses de choro e tristeza sem fim, nada mudava. Ela atendia pelo nome de Lucy, trabalhava há anos em um escritório, sentia-se entendiada com a rotina do mesmo, a mesma coisa todos os dias, o mesmo percurso de ir e vir, sem muitos amigos e os poucos sinceros que a apoiavam a sair do buraco negro que mergulhou seu espírito.
Ás noites olhava a Lua e parecia ter a ilusão de ver uma gata na lua, uma gata branca, bonita e poderosa, tudo que ela queria ser. Lucy gostava de gatos, mas ela não pode tê-los quando criança por imposição dos pais, morava só, mas deixou a vontade de ter uma companhia para lá. Não tolerava mais presença de pessoas e nem de animais, odiava TV, odiava música, odiava internet, odiava tudo que fizesse parte do mundo real, preferia acreditar e viver de ilusão e fantasia. O choro continuava, até que ela acordou decidida a partir deste mundo cruel. Saiu de casa vestida para ir a uma festa, linda de cabelos castanhos claros, olhos castanhos e branquinha foi-se morrer. Como seria sua morte? resolveu se jogar em frente a um ônibus que vinha em alta velocidade, estava parada e as pessoas gritavam com ela: __Moça, saía daí, vai morrer sua louca!! Ela não ligava, sentia o vento gelado que anunciava o fim de sua vida bater em seu rosto. Fechou os olhos e de repente um choque no seu corpo magro, caiu no chão, machucou a cabeça, podia sentir o sangue correr pelo rosto, seria essa a dor da morte? mas havia algo errado, uma coisa peluda e um pouco gorda lambia seu machucado, abriu os olhos e gritou espantada. Estava no chão, em cima de seu rosto uma linda gata branca gorda lambia seus ferimentos como se estivesse acariciando-a, o ônibus desviou no ultimo momento e as pessoas estavam em choque. Seus planos de suícidio tinha ido por água a baixo, mas ganhou uma amiga.
Lucy, ainda perplexa com o fato, levantou-se com a ajuda de alguns estranhos, arrumou-se e foi embora. A gata branca foi com ela. Olhava a gata agradecida e desgostosa, pensava consigo: __Quem era essa gata para arruinar seus planos? mas lembrou-se que era igual a gata da lua e disse a nova companhia: __seu nome será Lua, porque você é gorda e branca como a Lua.
No outro dia Lucy não foi trabalhar, tinha dedicado o dia para comprar coisas a Lua, ração, brinquedos, agradinhos, ida ao veterinário, banho e passou o dia com a sua nova gorda. A lua era carinhosa, meiga, brincalhona, dengosa. Aos poucos e com o passar dos meses Lucy esqueceu seus planos de suícidio. Ela agora amava uma gata que tinha como filha, a amava tanto que a saudade apertava seu coração. Lucy e Lua viraram grandes amigas, elas conversavam muito. Lucy contava a ela seu dia rotineiro, mas agora com alegria por causa da presença da Lua e a gatinha ouvia tudo e parecia falar quando miava e ronronava. Assim passaram-se meses e Lucy não se sentia mais infeliz e vazia. Ela se abriu para o mundo, passou a ver a vida com outros olhos, com uma nova perspectiva, com esperança e otimismo. A Lua ensinou a Lucy pequenos detalhes que modificaram sua vida. Lucy, agora ama a vida e é feliz, ela até hoje conta que a gatinha dela era a gata que estava na Lua e saiu de lá para ser amiga dela.
A Lua deu a Lucy o amor e a esperança que não havia mais em seu coração e hoje ela sabe que viver é um presente. Essa gatinha quase humana mostrou a uma pessoa como ver a vida, com amor e paciência. Hoje a Lua é uma gata muito amada por Lucy, só que como a Lucy tem saído um pouco mais, a Lua tem reclamado, mas nada que um bom patê de atum não resolva com um bom carinho. O amor entre os humanos e os animais é uma dádiva de Deus.
Michele Dichel