Por que é Natal?

Abraçou o próprio corpo naquela manhã como se agonizasse em sentimentos. "Já?" falou meio que perguntando. Olhou de novo para a vitrine da loja, que provocou uma pausa em meio a apressada caminhada para mais um dia de trabalho. "Meu Deus...parece que foi ontem. Dezembro de novo?" indagou como se acordasse de um sono.

Mas a verdade é que ela brilhava em meio a enfeites e luzes: a arvore de Natal.

Passou as mãos pelo rosto. Sentiu o "velho" aperto no peito.

Sentia que a agonia se fortalecia com as lembranças que começavam a pipocar.

Lembranças de Natais passados, ainda em família. "Deusa e os meninos: José e João". A preocupação com os presentes, mais as roupas e uma simples e criativa mesa. A oração um pouco antes da meia-noite. Os abraços de "Feliz Natal" e o clima familiar que viveu até dois anos antes, quando a decisão do divórcio acabou com os problemas, mas também com os sonhos, os projetos e a convivência. Porém deixou a saudade, a solidão, a tristeza e o tal aperto no peito.

"Então é Natal" pensou e sentiu uma lágrima brotar. Olhou em volta e observou o vai e vem de pessoas que apressadas não compartilhavam o momento dele. As lembranças vinham como algozes.

Não havia o que fazer. Somente sentir a dor e esperar.

Estendeu as mãos para o céu. Como que pedisse socorro. Mas não. Fez uma oração breve: "Senhor fortaleça as famílias. Que haja caminhos de perdão e misericórdia. Restabeleça o diálogo entre casais e o entendimento entre pais e filhos. Coloca em cada coração o compromisso de contar até 10 antes de agir e decidir. Nos ensine a perdoar e a amar, mesmo quando nos julgamos certos".

Abriu os olhos, olhou mais uma vez a arvore na vitrine, logo depois seguiu seu caminho.