ENCONTRO EM UMA NOITE DE OUTUBRO

Dia 19 de outubro de 2009, centro de Belo Horizonte, 00h00min. Eu andava pela Rua Araguari quando me deparei com uma “menina mulher” que como eu também caminhava rumo a Praça Sete, nosso destino certo. Mas provavelmente nos separaríamos no ponto de ônibus. Stela acabará de sair do trabalho.

Eu havia dito para ela que sabia andar, mas que não decorava nomes, principalmente de ruas, avenidas, esquinas etc. Ela riu, mas enfim... Apresentei-me e o mesmo ela fez, disse-me que seu verdadeiro nome era Helena. Que tinha 18 anos e era casada (se bem que isso nem precisaria ser dito, avistei sua aliança no primeiro olhar). Perguntei se ela vinha do trabalho e ela respondeu-me que sim, depois quis que eu advinha-se o que fazia, chutei três vezes para acertar. Além de dançarina estripe Helena também era garota de programa de uma boate “chique” na Rua Juiz de Fora. Engraçado pensar no nome da rua no qual a casa está localizada, se todos que ali entram não querem mais sair.

Helena em primeiro momento me espantou, não por ser garota de programa, mas pela leveza e despudor como ela se referia a este assunto. Mais aos poucos sua tranqüilidade (inacreditável) tomou conta de mim. Encabulava-me o fato de ter revelado sua vida dupla para uma pessoa que acabará de conhecer. Continuamos andando e a história de vida daquela menina que agora já não era mais uma estranha, a cada minuto me intrigava, contagiava e interessava cada vez mais e mais...

O interesse foi tanto que não pude deixá-la ir, fiz com que perdesse o ônibus de propósito (segurei- a forte pelo braço), ela brigou muito comigo... Mas na realidade também tinha vontade de ficar e falar mais sobre ela. O prazer de se sentir ouvida fez com ela ficasse, seus olhos brilhavam. Como assim? Quem é esse louco que repentinamente entrou no meu caminho e que tem tanto interesse pela minha vida? Quem é este que parou para me ouvir? Talvez alguns desses pensamentos (perguntas) passaram pela sua cabeça. Acho, aliás, tenho certeza que foi isso que fez com que ela ficasse e continuasse... sua história. Pausa!

Ambos fomos interrompidos por um mendigo que pedia dinheiro (um real), abrir minha mochila rapidamente, peguei logo o dinheiro na carteira para que ele fosse embora e me deixasse em paz com a garota que me encantará e assustará tudo ao mesmo tempo. A cada palavra pronunciada, a cada expressão ou gesto feito.

Fiquei com Helena no ponto por volta de 40 minutos, aproxima-se uma “dona” com uma criança no colo (ela dormia como um verdadeiro anjo), basicamente foi à única vez que lancei meu olhar para mãe e filho. Voltei toda minha atenção para meu alvo de maior curiosidade pelo menos naquele momento, e assim Helena enquanto esperava o ônibus me contava tudo ou quase tudo de sua vida. Não tínhamos tanto tempo para longas conversas, mas para pequenos esclarecimentos.

Ela me chamava de “meu bem”. Descreveu todo o lugar, os clientes (perfil) homens, mulheres, casados, separados, solteiros, ricos, as bebidas, o ambiente, as danças e claro os programas. Eu quis saber do seu primeiro programa, ela confessou que para ser bem sincera nem se lembrava. Puxou da memória, insistiu, mas não teve jeito, ela não conseguia recordar.

Ela me disse algo que acho que jamais vou esquecer. “Se é para ganhar dinheiro, então vamos ganhar direito”. Não temos preconceito, fazemos de tudo (barba, cabelo e bigode), sexo com homens, mulheres, mas fez uma ressalva, sexo anal é opcional e cobra-se um valor mais alto, referindo a si mesma e as outras meninas.

Ela ganha no final do mês 4.000 mil reais, digamos que é um bom dinheiro, mas que como ela mesma disse, o que vem fácil vai do mesmo jeito. Sem mesmo que ela perceba.

Helena a protagonista é baseada em uma história real, ela mente para o marido. Ele pensa que sua profissão é de vendedora de loja em um grande shopping de Belo Horizonte. Ela o engana descaradamente (mas não quero aqui fazer julgamentos) nem tampouco dar valores a terceiros. Os dois têm uma espécie de “pacto”, não tem essa de marido e mulher ficar indo ao local de trabalho, as coisas devem ser separadas. Lugar onde se trabalha é sagrado e problemas extraconjugais resolvem em casa. Vocês a acham esperta? Foi ela quem deu essa idéia ao marido.

Helena convidou-me para ir ao local quando quiser e me deu seu telefone (eu pedi). Disse que atende em domicilio e eu claro dei risadas. Contou-me ainda que pensa logo em sair dessa vida, está juntando dinheiro para abrir seu próprio negócio... O dinheiro que ela ganha salva a maioria das despesas de casa, de sua mãe e outras coisas... Que ela gasta para uso próprio.

Não basta a “labuta” noite afora (com uma media de três a cinco clientes), ela precisa arrumar disposição de chegar em casa e ficar com o maridão homem perfeito (termo usado por Helena). Ela completa que se isso não acontecer todos os dias “a casa caí”.

Olho para a esquina e avisto o ônibus de Helena. Droga! Ele já chegou, penso em silêncio. A conversa estava tão legal, interesse e excitante que o tempo passou e nem me dei conta.

Ela sobe os degraus e vai embora rumo à Venda Nova, lugar onde mora com seu esposo. La é a Sra. Helena, bem diferente da realidade da noite, dos perigos encontrados e da sexualidade que ela exerce como profissão.

Diego Santiago
Enviado por Diego Santiago em 08/11/2009
Reeditado em 23/01/2010
Código do texto: T1911372
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