== A MALDIÇÃO DOS TRÊS DÍGITOS - Parte 1 ==
Para que entenda melhor esta série, convido você para ler o texto anterior: 'Obesidade e preconceito'.
Este relato é baseado em fatos reais, os nomes das pessoas envolvidas serão fictícios para que suas identidades sejam preservadas.
Série - 'A maldição dos três dígitos' - Capítulo I
Nem sempre fui gorda. Quando eu era pequena lembro de minha mãe e minha tia conversando sobre o meu peso, sempre dizendo ' essa menina precisa engordar'. Realmente eu era bem magrinha mesmo, com meus quatro anos de idade, mas penso que aquilo era normal. De tanto elas confabularem, passaram a me dar remédios pra engordar, lembro dos xaropes com gostinho de laranja, antes das refeições.
Nunca mais fui a mesma. Não sei se muda algo no nosso organismo, nunca conversei sobre isso com nenhum médico pelo qual passei. Sempre estava acima do peso, mesmo na adolescência, e com quinze anos cheguei a pesar 74 quilos.
Quando fiquei noiva emagreci vários quilos, chegando praticamente no que seria meu peso ideal: 59 quilos. Mas depois que casei, voltei a engordar, não logo, mas com a primeira gravidez aos 17 anos, passei dos 80 quilos. Penei pra chegar aos 74 depois de ter minha primeira filha. Dai pra aumentar o peso cada vez mais foi um pulo. Eu não tinha noção de que chegaria um dia, a pesar mais de 124 quilos.
Tomei por várias vezes remédios para emagrecer, achando que meu problema estaria resolvido. Enquanto estava tomando os venenos, digo, remédios, eu não sentia fome e emagreci muito em pouco tempo. Mas depois do sonho... vinha o pesadelo. Engordava tudo e mais um pouco. Cheguei a ficar sem sair de casa por muito tempo, as vezes uma depressão profunda me atacava. E a cada gravidez a coisa piorava. Sempre achava que nunca ia passar dos 80, depois dos 90, dos 100...e assim por diante.
Passei a ser chamada de gorda, referiam-se a mim como 'a gorda'. Esse apelido pesava mais que os quilos a mais que eu carregava no corpo. Mas mesmo assim... ainda continuei no modo ostra. Fechei-me pra tudo e todos. Até que um dia...
...
Continua