FAXINEIRO

O garotinho chega pro pai, rostinho sério e determinado, senta na banquetinha da penteadeira da mãe e anuncia:

- Papai, decidi que vou ser faxineiro quando crescer!

O pai se espanta; joga o jornal sobre a cama e vai perguntando:

- Mas por que quer ser logo faxineiro?

- Ah, papai, acho muito legal ficar limpando as coisas por aí!

- Como alguém pode achar “legal” ser faxineiro?! Isso não tem cabimento!

- Por que não? O senhor vive dizendo que todo trabalho é digno...a não ser que o senhor tenha feito uma coisa muito feia!

- Como assim? Que coisa muito feia?

- Andou me contando mentiras, e o senhor vive dizendo que papai do céu não gosta de mentiras...

- Mas eu não menti – disse o pai, todo embaraçado, tentando achar as palavras para que o pequeno não o interpretasse mal, – quando disse que todo trabalho é digno eu estava dizendo a verdade...

- Que bom! – disse o menino, aplaudindo – então posso ser faxineiro quando crescer!

- Claro que não pode! – disse o pai, meio impaciente – faxineiro não pode!

- Mas, por que não posso se gosto tanto?

- Por que faxineiro é pra gente...digo...veja bem...

- Papai – interrompeu o garoto, já meio desanimado – o senhor está me escondendo alguma coisa? Não me diga que faxineiro é um daqueles que o policial dos filmes coloca aquelas coisas de ferro nos pulsos pra deixar eles presos?!

Agora o pai ficou embaraçado e meio! Como explicar pra uma criança que faxineiro não era profissão pra gente estudada e de classe média alta?

- Meu filho – disse ele, sentando-o no colo e abraçando-o contra a gravata – apesar de não haver nada de errado em ser faxineiro, esta é uma profissão que não serve pra qualquer pessoa... digo, enquanto uns nasceram pra ser médicos, engenheiros, advogados, outros nasceram pra ser faxineiros, domésticos, catadores de papelão, etc.

- Mas, papai, como eu vou saber se não nasci pra ser faxineiro?

- Não nasceu! – disse asperamente o pai – você nasceu pra ter uma profissão de prestígio! Vai ser presidente de uma grande companhia, senador da república, dono de uma rede de supermercados...

- Ah, papai, essas coisas são muito chatas – disse o garoto, saltando do colo do pai e pegando a escova de roupas de cima da penteadeira, pondo-se a escovar a bermuda – eu gosto mesmo é de tirar o pó dos móveis, de varrer o piso...acho bonito ver como tudo fica limpinho.

O pai estava atordoado. Não sabia mais o que falar para convencer o filho de que o ofício de faxineiro não era para ele. Acabou dando de ombros e foi pra cozinha lavar a louça!