um livro pesado
Não há mérito algum em caminhar só, por estas ruas cheias de gente com fones tapando meus ouvidos e escutando uma banda que foi sucesso há oito anos atrás, como se escutar estas músicas fosse capaz de fazer o tempo retroceder; enquanto caminho as coisas pelas quais passo vão se distanciando, porém, outras se aproximam destinadas ao mesmo processo.
Os carros possuem formas e velocidades constantes, simétricas; as leis de trânsito ou quaisquer outras, colaboram com a pouca criatividade do cotidiano moldado e emoldurante. Entro numa livraria e folheio livros os quais não tenho dinheiro para comprar e se tivesse, não teria tempo para ler, formas que continuam a passar, contingência de dias pouco criativos perpassados por atividades mortificantes.
A garota na estante ao lado folheia um volumoso livro, seus dedos delicados parecem acariciar as páginas com o mesmo carinho dispensado a um novo amor, é a isto que me refiro quando falo na falta de criatividade que nos seca; mas a vida não se mostra um novo amor, o pesado livro escorrega de suas mãos frágeis e cai em seu pé, ela dá um grito de dor, sai chorando e deixa o livro no chão.