BOIÓLAS

Maria Conceição, mulher bonita, de corpo bem feito, morena puxada ao jambo, cabelos pretos, seios pequenos, ancas largas, olhos verde-azulados, coxas firmes e roliças em seus um metro e sessenta e seis, gostava de todas as manhãs, lá pelas dez horas, sentar-se no banquinho baixo da cozinha e “catar” o feijão para o almoço.

Um vestido curto, de algodão cru, colado em seu belo corpo, mostrava-lhe toda a sensualidade.

Joca, seu marido, por estas horas, sempre estava sentado na sala, de costas para Maria, picando fumo para o seu cigarro de palha.

Adriano, mulato forte, um metro e oitenta, lábios grossos, fala mansa, tinha uma particularidade que o diferenciava dos outros mulatos, seus olhos eram azuis.

De uns tempos para cá, Adriano passou a chegar na casa de Joca, sempre nesse horário e, sentado no banco de frente ao dele, ficava jogando conversa fora, olhando insistentemente para a cozinha.

Os dias foram passando...

Naquela manhã, Joca, quando viu Maria sentar-se no banquinho da cozinha, pensou de si para consigo : “Hoje pego “Driano”, pois vou sentar-me no banco dele e quero ver o que esse cabra tá querendo”.

Não demorou muito, a porta se abre. Entra Adriano.

— Dia, Joca!

— Dia, Driano, entra!

Adriano entrou e, por um instante, sentiu-se deslocado, pois Joca estava sentado no seu banco preferido.

Meio sem jeito, foi-se acercando do outro banco e, antes de sentar, arriscou uma olhadinha para dentro da cozinha. Bastou-lhe o relance para visualizar Maria Conceição que, distraída, “catava” feijão. Pernas entreabertas, vestido extremamente para cima e (oh! deuses do pecado!) sem calcinha.

Adriano sentiu um leve tremor no corpo. Balançando a cabeça de um lado para o outro, como a querer expulsar algum pensamento mau, sentou-se diante de Joca.

Este, que não perdera nenhum movimento do mulato, apertou o cabo da faca que usava para picar fumo, e pensou: “Passo a faca na garganta desse negão.”

Em seguida perguntou:

— “Driano”, me diz aí! Já faz um mês e meio que “ocê” passa toda manhã aqui, pra “mode” de quê?

— Sabe o que é, Joca! Quando acabo o “trabáio” na roça do “Jão”, sempre vou pra roça do Luiz e, como é caminho, paro prum dedo de “prosa”.

Enquanto falava, Adriano, disfarçadamente, começou a passar a mão na nuca, foi virando lentamente a cabeça e os olhos, estes muito mais, num relance olhou para a cozinha.

Em seguida, debruçou-se sobre a mesa que os separava e, chegando seu rosto, encarando Joca com seus penetrantes olhos azuis, sussurrou:

— Joca, quero te pedir uma coisa.

Joca prevendo o que ele ia pedir, apertou o cabo da faca e, de olhos arregalados e dentes cerrados, grunhiu:

— “Pida!”

Adriano, com uma expressão suave, doce, que chegou a assustar Joca, piscando os olhos duas vezes antes de se pronunciar, falou:

— Quero fazer amor com ocê!

Joca, com o rosto congesto, olhos vermelhos injetados de sangue, boca contraída num ríctus, depois de passado o choque inicial, foi se asserenando e, mexendo a cabeça lentamente de um lado para o outro, deixou a faca sobre a mesa. Sem tirar os olhos dos de Adriano, levou sua mão até a dele, apertou-a com suavidade, perguntando-lhe, então:

— Você é passivo ou ativo?

Adriano, piscando os olhos, respirou delicadamente. Com um leve balançar de cabeça e voz macia, respondeu:

— Passivo!

Joca tirou rapidamente sua mão da dele e dando-lhe dois tapinhas nas costas da mão, retrucou:

— Bobinho, eu tumém sô.

E sorriu complacente.

Adolfo Turbay
Enviado por Adolfo Turbay em 29/10/2009
Código do texto: T1894384
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