A breve vida de Sara
Belvedere Bruno
Sara tinha nome bíblico. Influência da formação religiosa dos pais. Por mais que lesse o Livro Sagrado, não conseguia entrar no contexto. Achava muitas passagens bonitas, outras, por demais sangrentas. Perguntava-se: -Serei tão obtusa que não compreenda o que tantos tomam como a palavra de Deus? -E se enveredou por tambores, cantos de orixás, astrologia, cabala, xamanismo, teosofia, tarô, entre outras coisas.
Quando leu sobre vidas passadas, gritou: - Que eu não reencontre o homem que tão cedo tirou minhas ilusões. Juro que o mato, mesmo que pague na outra vida, se essa coisa, de fato, existir.- Prosseguiu nas buscas e, aos trinta e um anos, se foi, sem conseguir respostas . Pediu, antecipadamente que, para ela, não houvesse missas, cultos, cantorias, nem modernas carpideiras. Manifestara apenas o desejo de que jogassem suas cinzas ao mar. Acredita-se que tinha por culto a própria Natureza, embora nunca tenha se manifestado a respeito.
Em meio à tristeza da partida, nasciam as primeiras rosas da primavera.