filhinha querida
Quando soube que estava grávida, um mês. Um misto de medo e emoção. Não planejara ser mãe. Nunca. Estava casada apenas seis meses nem acostumados estavam, ela e o marido a vida de casados. Tinham tantas dívidas. Tantos problemas. Como falaria com ele, como contar. Não conversavam sobre essa possibilidade. Ela tomava anticoncepcional, acreditava que não engravidaria fora uma surpresa.
O médico disse que era normal acontecer, veio fazer um exame de rotina quando soube, segundo o doutor, tudo estava bem, dentro dos conformes. Iniciou ali mesmo os exames pré- natais, seguindo a orientação de sua mãe, que com ela estava. Pediu a sua feliz mãe, que já se sentindo avó, fazia mil planos para o neto ou neta, até nomes já sugeria, que não conta-se a ninguém ate que falasse ao seu marido.
Ao chegar a casa, depois de convencer sua mãe que não havia necessidade dela ficar e prometer que qualquer coisa ligaria, foi cuidar de seus afazeres de si própria e esperar seu marido.
Quando chegou, foi recebido com tantos beijos e abraços, com tantos mimos que ficou assustado, perguntando se acontecera alguma coisa. Ao que ela respondeu: Sim amor, uma coisa ótima, mas só vou ti contar depois do jantar. Por mais que insistisse, não contou.
Terminado o jantar, como sempre ajudaram um ao outro na cozinha, para terem mais tempo juntos na sala. E assim fizeram. Sentaram e olhando para ele disse: Ti amo tanto, que Deus, sabendo disto, mesmo tomando precauções mandou um filho a nós. Ele demorou um pouco para entender o que ela estava lhe dizendo, quando caiu a ficha, a surpresa do saber fez com que um misto de emoção, medo, felicidade, alegria, preocupação o deixa-se confuso. Mas apenas por um segundo, ao olhar nos olhos daquela mulher que tanto amava, que tanto amor lhe dava, segurou seu rosto com suas mãos e beijou ternamente enquanto murmurava para ela: Te amo, mãe, te amo. Te amo pai, te amo. Amaram-se como nunca.
Nos meses que seguiram tudo foi tranqüilo e maravilhoso. Souberam que era menina. Escolheram o nome. Mobiliaram o quarto. Sua barriga cresceu. Seu corpo todo mudou. Seu marido ficou mais e mais apaixonado. Ela cada vez mais mimada por todos, seus pais, seus sogros, seus parentes. A impressão era que a filha era de todos. A casa nunca estava sem visitas.
Planos para o Chá de bebe, convites, convidadas, presentes, já que estava de seis meses, preparados por suas irmãs, as futuras tias. Graças a Deus tudo ia bem.
Dia marcado, mãe, irmãs, sogra todo mundo para que ela fosse mais uma vez ao exame médico. Tudo continuava nos conformes. Mais dois meses e ela estaria em seus braços.
Sabia que ela não via a hora de sair, chutava, mudava constantemente de posição, fazia a mãe comer tudo o que sentia vontade, com o pai era um dengo só, bastava acariciar a barriga que colocava a cabeça, onde estava a mão dele. Conversava o dia inteiro com sua filhinha.
Uma noite, de repente começou a sentir dores terríveis. Levantaram. Ligaram para seus pais e foram para o hospital. Quase desmaiando de tanta dor. Rezando para que tudo estivesse bem com sua filhinha. Chegaram ao hospital. Colocaram-na em uma maca e a levaram para dentro.
Horas de incerteza. Horas de dor. De dúvidas. De rezas. De impotência.
Quando o médico apareceu e começou a falar, não conseguia entender direito, Aborto Espontâneo? Era isso que dizia ele? Tava doido? Esse médico não entendia nada. Queria, precisava ver sua mulher. Começou a gritar por ela. Não compreendeu nada quando o seguraram, seus parentes e funcionários do hospital.
Depois de medicado, foi levado até a sua esposa, amada e adorada mãe. Estava abatida, explicaram que assim como ele, também tomara calmantes. Falaram tudo o que tinha acontecido, o bebe enrolara-se no cordão umbilical durante a noite e morrera sufocado.
Não entendiam nada esses médicos, o bebe a minha filhinha, a nossa filhinha, viveria para sempre dentro de mim, seu pai e de sua mãe. Meu anjo amado.
Isidoro machado