INIMIGAS, INIMIGAS; VINGANÇAS À PARTE - O MICO (Esquete)
INIMIGAS, INIMIGAS; VINGANÇA À PARTE -O MICO!
(Esquete)
De:Tony Guedes
Tarde de um dia claro, céu de azul especial, ensolarado. Rio de Janeiro. Na areia da praia, uma mulher acaba de estendeu sua toalha, ajeita os óculos escuros tranquilamente, prestes a se deitar ao sol. Bem ao seu lado, chega uma outra mulher que ao reconhecê-la parte exaltada pra cima dela, bate-lhe no ombro e inicia um bate boca público:
MULHER 1 - Mas olha ela aí! Como Deus é bom! Até que enfim eu te encontrei!
MULHER 2 (refeita do susto) – Eu não acredito! Meu Deus ...
MULHER 1 (se posta diante dela, desafiadora) – Não tem meu Deus, não tem os cambal! Aliás, quer saber? Deus sabe o que faz, tá? Faz um tempão que eu tô bolada contigo, tá ligada? Pensa que eu não sei da tua galinhagem pra cima da Teresona?
MULHER 2 (entre os dentes, envergonhada) – Isso é macumba que fizeram pra mim. Só pode! (tenta disfarçar) – Não sei do que você tá falando, menina!
MULHER 1 – Não sabe, cínica? Tô falando da Teresona; que você sabe que tá comigo e fica dando em cima, feito um carrapato de vaca!
MULHER 2 (disfarça e começa a procurar algo na bolsa) – Ah, menina, vai lavar roupa, vai! Vai capinar, sei lá ... mas deixa meu anjo de guarda em paz, tá? (a outra a pega pelo braço; ela se solta) – E me solta, pô! Pensa que eu sou grade de hospício, pra ficar agarrada em mim, é? Agora vai instalar sua favela aqui, no meio da rua? Olha o respeito! Eu nem te conheço, menina!
MULHER 1 – Só se for a favela que tua mãe mora, encosto brabo! (disposta) – Sabe qual é? Vamos resolver essa parada é agora! Não devo nada a ninguém. E mexeu com o que é meu, mexeu com o capeta, tá ligada?
A outra tenta, em vão, sair mas é impedida em meio a insultos e desafio. Os banhistas, aos poucos, vão rodeando as duas, loucos pelo pior.
MOÇA 2 – Quer me dar licença, por favor, menina?!
MULHER 1 - Escuta aqui, vagaba: eu posso saber o que você viu na Teresona? Ou preciso te sentar a mão na cara?
MULHER 2 – Menina, eu e a Teresa somos apenas boas amigas, tá legal? Só isso!
MULHER 1 – Rá! Rá! Olha bem dentro da minha cara e me diz: eu tenho cara de babaca; tenho?
MULHER 2 (a olha de cima a baixo, enfática) - Você quer que eu diga mesmo a verdade?
MULHER 1 (disfarça e prefere não ouvir a verdade) – Bom ... quer dizer... Isso não vem ao caso agora. Só tô esperando você me dizer porque a Teresona?! Vamos, desembucha, ou te incesto na porrada!
MULHER 2 – E eu sei lá do que você tá falando! Se deleta, menina! Disconjuro! Que mico, meu Deus!
MULHER 1 (de mãos nas cadeira, cara a cara) – Mico? Ou você desmbucha, ou leva um tapão no pé do ouvido aqui na frente de todo mundo. (enfia a mão no bolso e tira um bilhete) - Ahhhh, tá vendo isso aqui? É mais um torpedinho íntimo seu pra Teresona que eu peguei, safada! (lê o bilhete “com zombaria de frente para a platéia em volta) –” Para Teresa com amor: ‘no alto daquele cume vai nascendo uma roseira; em volta engrossa o verdume, a rosa no cume cheira’! ”
MULHER 2 (cara enfiada no chão) – Menina?! Olha o vexame, né? Todo mundo olhando sua palhaçada! Cruzes! Ninguém merece, tá?
MULHER 1 – Tô nem aí, tá ligada? Tô por conta do satanás, hoje! Devo nada a ninguém! Minha parada é contigo! (torna a pegar a outra pelo braço) - Escuta bem: você larga do pé da Teresona, senão ...
MULHER 2 (dá-lhe um empurrão e reage, enfim) – Senão o quê, menina? Hein? (a galera em volta vibra, ávida por confronto) - O que que vai ter? Quer saber? Tô pegando a Teresona mesmo, e daí? (tomada de surpresa, a outra recua) – Ela mandava flôres, lingerie, bombons, me convidava pra dançar, ligava todo dia ... Pô, não sou de ferro, tá bom? Acabou rolando! (mãos nas cadeiras, nariz quase roçando, desafia) – É o que queria ouvir? E daí, agora, menina?
A outra avança. Já pra se engalfinhar. A platéia em volta urra, ansiosa, torcendo. A outra dá um passo atrás, mete a mão na bolsa e ameaça:
MULHER 2 (mão dentro da bolsa) – E não vem com faniquito, que eu tô armada! Encosta um dedo em mim e leva um tiro na cara! Depois digo à polícia que reagi a um arrastão!
MULHER 1 (de longe, irônica mas temerosa) – Olha aí! Acabou a farsa! Enfim, a pomba gira dela desceu! Ué, cadê a “ crasse ”?
MULHER 2 (ironizando) – Rá! Rá! É “classe”, ô ... animal! E eu tenho classe, sim! Mas se você quer barraco ... Amarro meu burro de acordo com a sombra! (olha a outra com desdém) – E se depender da tua sombra anã ...
MULHER 1 (torna a abrir o bilhete que lera e mostra) – Tanta pose e ainda por cima é analfabeta! Ignorante, tapada do cacete, olha aqui, ‘excitada’ não se escreve com cê cedilha, não, tá? Rá! Rá! Rá! Muito burra, tá? (zomba)
MULHER 2 (com pouco caso) – Vai ver foi a letra que saiu tremida, menina! É que a Teresona não sossega. O tempo todo me apalpando, cochichando sacanagens ótimas no meu ouvido ... Aí, eu acabo errando! E você, por acaso, sabe escrever ...‘excitada’?
MULHER 1 – Ôôô, sem instrução, ‘excitada’ é com dois esses (SS), infeliz! Muito burra, tá ligada?
MULHER 2 – Se enxerga, menina! Vai ver nem sabe o que é ficar excitada! Você deve ter é agonia, nervoso, um calor insuportável! Vai ver, nem orgasmo deve ter tido na vida!
MULHER 1 (completamente sem graça diante do povo, olha em volta e avança) – Ahhh, miserável! Rameira sem luz! Falar uma mentira dessa na frente de todo mundo?! Cachorra! Ah, uma tesoura aqui, agora; que eu te retalhava a cara toda, tá ligada?
MULHER 2 – Ué, cadê o “tô nem aí!”, “não devo nada a ninguém”?
MULHER 1 (desconcertada) – Quer dizer... Também não precisava falar assim, de qualquer jeito, né? Que que vão pensar de mim?
MULHER 2 (cruel) - Vão pensar que você só conhece a causa de uma trepada; o efeito, ainda não faz a menor idéia! Rá! Rá! Rá! (a platéia em volta vibra e aplaude)
MULHER 1 (mexida) – Nojenta! Piranha! (mais aplausos da platéia) - Eu já tive um orgasmo sim, alcoviteira! Se não me engano foi ... foi ... Acho que foi quando fiquei noiva, tá ligada? É ... é isso, foi quando fiquei noiva! Pelo menos não finjo, igual você deve ter feito pra segurar a inocente da minha Teresona!
MULHER 2 (pisa-lhe no brio – para a platéia) - Gente, um orgasmo, pode? Burra velha, mãe de filho e ... um orgasmo na vida! Toma vergonha, menina! E quanto a fingir, menina, se toca! Que mulher não finge na cama? Só se for você. E assim mesmo, porque não conhece o sintoma! Vai a merda, tá? (mais aplausos da platéia, algazarra)
MULHER 1 (irritada, ameaça) – Se me chamar de menina mais uma vez, vou te arrebentar a cara com arma e tudo!
A PLATÉIA – Porrada! Porrada! Porrada!
MULHER 1 – Experimenta me chamar de menina! (e desdenha) – Agora vê ... Cheia de estrias, usa calcinha com enchimento na bunda e fica se achando! Vai a merda você, dragão!
MULHER 2 (desfila sob uma sinfonia de assovios, algazarra e aplausos) – Inveja tua, menina! Olha pra mim: sou gostosa, não pego no pé, pago a despesa quando saio com a Teresona, dou boa vida ... Teresona adora o perfil gostosa, inteligente e 0800!
MULHER 1 – Pagando é mole! “Bode com fome, come a própria barba!”, minha filha! Vagaba 0800, isso é o que você é! Com essa bunda caída e murcha, que parece a cara de um cachorro bull-dog?! (imita a cara de um cachorro Bull-dog; e tome algazarra, aplausos) - Ahhh, fala sério!
MULHER 2 - É, mas não tenho calcanhar rachado e nem falo “cheque assustado” , como você! Além do mais, ela me disse que você era irmã de criação dela; que tem problemas mentais e toma gadernal desde criança, tá bom?
MULHER 1 (revoltada) – Gadernal? Maluca, eu? (quase aos prantos) – Mentira sua! A Teresona nunca ia dizer isso de mim. Ela é diferente das outras. Ela é sincera!
MULHER 2 (incrédula, zomba) – Rá! Rá! Rá! Mas é babaca mesmo, tá? E mais: ela disse que quando você alopra, dana a beber cachaça e mente pra todo mundo que tem caso com ela! E que noutro dia você surtou, tirou a roupa e dançou pelada na janela do prédio! (olha a outra com cara de pena – sob assovios e algazarra) - Francamente, é muita baixaria sua, tá? Deus me livre!
MULHER 1 (choramingando) – Pelada na janela, eu? Quenga, sem vergonha! Pois fique sabendo que Teresona me recita poesias; já até me levou num pagode lá em Caxias, tá? A Teresona é uma mulher pura; sempre me diz que me ama!
MULHER 2 – Tá legal! Ela te diz isso por carta ou por telegrama? Sei lá, talvez por e-mail?! Aliás, você nem deve saber o que é e-mail. (olhando pra platéia) – E quando tiver um, vai ser: “bundamole.com.br ”! Rá! Rá! Rá!
MULHER 1 – Micróbio! Bactéria de cocô! Pior é você, que é mulher picolé!
MULHER 2 (disfarça a curiosidade) – Rá! Rá! Você tem cada presepada! Mulher picolé ...?
MULHER 1 – É! Reta, fria e tá sempre enfiada num páu! (Algazarra e aplausos da platéia) -Tanta gente boa morre e Deus insiste com você! Eu não entendo Deus! Pois fique sabendo que a Teresona vai me levar a um instituto de beleza e à uma academia, tá ligada?
MULHER 2 (pisa no brio) – Só se for pro Instituto Médico Legal ou à uma academia de polícia, presa! E, cuidado! De repente, ela te leva ao Butantã e você vai virar cobaia pra tratamento de hemorróida ofídica! (urros da platéia, assovios) - E o que mais Teresona fez pra você? Te levou ao Piscinão de São Gonçalo, te levou pra almoçar no Restaurante de um real, ou a um baile funk no Morro do Alemão? Rá! Rá! Rá! (a platéia se esbalda)
MULHER 1 – Podre! Ela me ama. Você sim, deve ser igual a chuchu com carne moída: nego come, come, come e não sente gosto de porra nenhuma!
MOÇA 2 (debochada) – Olha aqui, sua pobre e anã: eu sou igual ao McDonald; Teresona sabe que não deve, mas come ...e gosta!
MULHER 1 (meio que no arrêgo) - Olha só ... Poxa, tá bem que tá faltando homem. Parece até que tá rolando uma epidemia de boióla no mundo, tá ligada? Mas, pô, azara outra mulher! Você tem condição, tem grana, se enfeita, ostenta, freqüenta ...
MULHER 2 – Queiridinha, vesti Teresona da cabeça aos pés; comprei computador, pago cartão ... Posso até ser xifruda, mas eu gosto dela! Fazer o quê? Sinto muito, menina! Teu prazo de validade venceu!
MULHER 1 (irada, pega a outra pelo braço) – Venceu o cacete, tá ligada? Ou tu larga a Teresona ou leva porrada. Com arma e tudo. Escolhe!
MULHER 2 (se solta) - Me larga, favelada! Vai pegar pobreza em mim, porra! E tem mais: fica com onda que eu conto pro corno do teu marido essa tua paixão de velcro pela Teresona. Respeita ao menos seus três filhos, coisa ruim! (a platéia delira)
MULHER 1 (aceita o desafio) – Taí! Tái! Vagabunda! Conta pro meu, que eu conto pro corno do teu marido que você não é evangélica merda nenhuma; e que deixa tua filha na garagem do motel, quando transa com a Teresona! Taí, aceito o desafio! (cruza os braços e bate o pé).
MULHER 2 (medra e reavalia) – Péra aí! Quer dizer ... Assim... Ó... em primeiro lugar, aquele papo de arma era só brincadeirinha; era só minha pasta de dente (abre a bolsa e mostra a pasta de dentes) - Olha, deixa esse negócio de marido pra lá, tá? A gente pode precisar duma pensãozinha no futuro! Sabe como é: nunca se sabe o dia de amanhã! (e negocia) - Bom, tenta raciocinar: por que a gente tá se depenando pela Teresona? Ela é só uma sapata básica e tá sacaneando nós duas, pô!
Ao ver que o barraco acabou, a platéia se desfaz.
MULHER 1 (senta na areia, desolada) – Bom, você deve ser vagabunda por questão genética. Mas quanto a mim... sou do lar, sei que não sou como você! Tudo bem que meu marido pesa 115 quilos, é feio pra cacete, careca e duro! Mas é um cara legal, bom pai ... (reflete) - Sei lá, vai ver comi merda quando era criança!
MULER 2 (sentada ao lado da outra, a abraça e fala docemente) – Minha inimiga querida, vamos negociar: que tal uma vingancinha com estilo? O que que você acha da gente contar tudo pro marido da Teresona? Hein? Hein? Hein? (sorriem, se aceitam e trocam um selinho)
F I M