Vida Dupla
Naquela manhã, Caterine custou a acordar, trabalhara muito na noite anterior, estava meio indisposta, sabia que o seu dia seria longo. Tomou um banho, vestiu as habituais roupas brancas, se despediu de seus pais e foi trabalhar.
Durante o dia trabalhava em uma farmácia, a noite cursava o terceiro ano da faculdade de bioquímica. Assim pensavam seus pais, porém sua realidade era outra. Realmente, durante o dia trabalhava em uma farmácia, pois precisava de um álibi, mas a noite, Caterine desaparecia, trazendo à vida, Nicole uma experiente garota de programa.
Tornou-se garota de programa por acaso. Certa vez, estava em um barzinho com algumas amigas, de repente, um homem que aparentava ter chegado aos cinquênta anos, lhe convidou à conhecer sua casa. Ela constrangida não aceitou, ele por sua vez, lhe ofereceu uma boa quantia em dinheiro, que foi mais do que suficiente, para desapertar em Caterine um sentimento que até então ela desconhecia, a ganância. Nesses três anos, em que se prostituía nunca se importou de transar com estranhos. Antes de se tornar garota de programa, transava com homens de balada, homens que sequer lembrava o nome no dia seguinte. A única diferença, era que com Nicole eles pagavam. Não se prostituía só pelo dinheiro fácil, adorava se sentir desejada. Havia homens (e algumas mulheres) que pagavam uma fortuna, a fim de desfrutar de algumas horas de prazer com aquela linda mulher de olhos verdes, e de belas curvas.
Acabado o expediente na farmácia, Caterine, seguiu rapidamente para seu segundo emprego. A noite só estava começando, e como toda sexta-feira, Nicole trabalharia por toda a madrugada. Caterine precisava dar uma satisfação aos seus pais, e preparada para dar sua desculpa de sempre, foi discando o número de sua casa.
- Alô - Disse sua mãe.
- Oi mãe, estou ligando para dizer que, depois da faculdade irei a uma baladinha com algumas amigas. Avise ao papai!
- Filha! Você sabe que seu pai não gosta que você vá a este tipo de lugar. Isso não é lugar de moça direita! Alías, seu pai não está em casa.
- E onde ele está? - Perguntou, sem se interessar pela resposta.
- Foi atender a um cliente, seu pai não para mais em casa. Coitado! Este trabalho está acabando com ele!
Seu pai era corretor se seguros, e sempre fora um homem rigoroso e sistemático. Nunca permitiu que sua casa tivesse nada de promiscuo, tudo sempre fora o mais organizado possível. Sua rigidez aumentara desde que a irmã mais velha de Caterine engravidara antes do casamento.
Chegando a casa de shows eróticos onde Nicole trabalhava, Caterine se arrumou rapidamente. Após um banho rápido, vestiu uma lingerie preta com cinta-liga, calçou escarpins de salto altíssimos, escondeu seus cachos dourados em uma peruca de um ruivo intenso, e se maquiuou o mais vulgar possível. Pronto! Lá estava Nicole, pronta para mais uma noite de trabalho.
O primeiro cliente da noite já era conhecido, sempre procurava pelos serviços daquela ruiva ardente. O programa durou cerca de uma hora e meia, um tempo razoável. Estava prestes a receber o segundo cliente, quando sua "chefe" uma quarentona que achava estar no auge da beleza, lhe chamou:
- Nicole, quero que você atenda a um cliente muito especial - Ela deu uma tragada em seu cigarro, e continuou - É um cliente antigo. Hoje ele quer carne nova, sugeri você, que é a melhor menina que eu tenho.
- Tudo bem, diga a ele que me espere no quarto.
- Mas não demore - Disse ela, em meio a tosse - Ele odeia esperar.
Nicole adorava receber novos clientes, eles sempre pagavam mais. Em meio aos pensamentos de como gastar o dinheiro, ela retocou a maquiagem, ajeitou a peruca e foi ao quarto, onde seu segundo cliente a esperava.
Ao abrir a porta, quase teve uma síncope ao ver aquele homem nu diante de si, e pôde ver que a recíproca era verdadeira. Podia ver que aquele homem estava paralisado diante daquela situação, quando voltou a si Caterine tentou dizer algo, mas parecia que sua voz havia desaparecido.
- Pai! - Foi tudo o que ela conseguiu dizer.
- O que significa isso? - Ele perguntou, vestindo rapidamente suas calças - Que roupas são essas? O que você faz aqui?
Ainda em choque, Caterine rebateu:
- Não papai, o que VOCÊ faz aqui?
Ele não respondeu, sua reação foi dar uma tapa, que acertou em cheio a têmpora esquerda de Caterine. Antes de pegá-la pelos cabelos, ela a esbofeteou. Enquanto ela chorava, atirada ao chão, ele vestia o resto de suas roupas e sem dizer nada saiu.
Durante toda a noite, Caterine chorou pensando no que ira fazer no dia seguinte. Descobrira com suas colegas de trabalho, que as visitas de seu pai eram constantes. Como ele pode ser tão desleal? Como pôde ser tão hipócrita, falso e desonesto? Devia ela contar a sua mãe as escapulidas de seu pai? Eram essas as perguntas que assombravam sua mente. Após muito pensar, decidiu não contar nada. Embora tivesse um grande segredo de seu pai, sabia que ele também possuía um ás na manga, um estava na mão do outro. Voltou a vestir suas roupas brancas e foi pra casa, como se nada tivesse acontecido.
Antes de entra em casa, pôde perceber que algumas luzes estavam acesas, não era típico de seus pais ficarem acordados até as 4h17. Será que seu pai a esperava a fim de tomar-lhe satisfações? Decidida a esquecer toda aquela situação, Caterine entrou em casa. Ao abrir a porta, teve um susto ao ver que além de seu pai, sua mãe também a esperava.
- Eu já sei de tudo! - Disse sua mãe.
- Tudo o quê?
- Não se faça de sonsa! Seu pai me contou tudo a respeito de sua vida dupla! Ele me disse que a seguiu, e que descobriu tudo!
- Mamãe isso é mentira - Caterine disse gaguejando - O papai também nos enganou! Ele tem traído você a anos...
- Cale a boca! - Sua mãe disse aos berros, lhe acertando um tapa na cara - Quero que você saia desta casa imediatamente!
Sem dizer nada, Caterine subiu arrumou suas malas, e naquela mesma noite, saiu de casa. Estava indignada com a falsidade daquele homem.
Algum tempo depois, Caterine fotografou seu pai com uma garota de programa, e enviou as fotos para sua mãe, que pareceu não se importar com a infidelidade do marido. Um mês após este acontecimento, Caterine morreu de vez, trazendo permanentemente á vida, Nicole, que foi morar em Ibiza, onde se tornou stripper de uma famosa casa noturna da cidade. As propostas indecentes eram constantes, e com as mesmas, pôde ganhar muito dinheiro. Ela sabia que aquela era a melhor forma de ter os homens: eles não mentiam para ela, não reclamavam de suas roupas e atitudes, alguns até contavam seus segredos mais íntimos, e o melhor, sempre pagavam por ela.