O NOME DAS COISAS
Era um casarão muito antigo, com o pé direito alto. A pequena estatura de Luana contrastava com a altura do teto, e como ela estava sempre a olhar pro teto, ficava abismada com aquilo que parecia tão longe, tão alto pensava: “mais alto do que aquele teto, talvez apenas o céu e as estrelas mesmo”.
Além do teto ela adorava olhar o céu, olhava as nuvens e ficava imaginando nas formas o que cada desenho parecia ser. Ali então se formavam intensas batalhas à sua frente, deuses míticos, cavalos alados que beijavam flores, dragões que pulavam cercas, e quando o dragão pulava a cerca, logo se transformava em outro ser, esta parte era para Luana a mais difícil, imaginar no que a nuvem iria se transformar logo depois. Isso tomava horas de seu dia, e a pequena ficava olhando o céu até os olhos doerem com a luz.
Á noite Luana pulava a janela e ficava deitada no chão da varanda grande, era ali que ela gostava de ver as estrelas, pontos brilhantes, constelações. Ficou intrigada no dia em que descobriu que o firmamento se transformava, mudava, andava, como podia ser ? Ah...a lua também era algo que lhe despertava profundo fascínio, e ela gostava mais das noites de lua, porque pra Luana a lua era como se fosse um sol ao contrário.
Do sol não gostava muito, pois cegava o olhar, mas no fundo sabia que o sol era necessário, pois sem o sol como haveria de ver todos os dias o por de sol ? Ah...aquele sim era seu momento preferido. Como um ritual diário, separava a hora do dia somente pra isso, e sentada na relva da montanha, assistia encantada ao por de sol. Muitas vezes largava tudo e sumia da turma, depois de algum treino, aprendera a contar as horas pela iluminação natural do dia, então perto da hora já sabia que tinha que ir para o seu local secreto para assistir ao espetáculo da natureza.
Encantada, assistia sempre ao espetáculo de cores. A cada dia, cores diferentes que se misturavam de formas diversas, sereno, devagar, quase imperceptível, o sol ia sumindo no horizonte, e a cada segundo derramava no céu cores que iam se difundindo em tantos tons de vermelho, rosa, azul amarelo, diferentes cores que nem Luana sabia descrever o nome, cores que acabavam de ser inventadas por Deus.
Enquanto isso, Dona Marta reclamava ao tio José, que não aguentava mais a menina, porque ela sumia a toda hora, vivia solta, correndo pelos cantos e olhando o teto, não comia direito, não queria estudar, vivia com a cabeça no mundo da lua, e como entender e aturar aquela sua mania insuportável de olhar o teto das casas ? Outro dia, contava Marta, tinham ido a casa da patroa, lugar chique, bonito, era pra menina estar atenta, apresentável, mas ela mal falou com as pessoas, só olhava o teto. “Seria normal aquilo ?” Indagava Marta preocupada ao Tio José.
O Tio ouviu as reclamações, quieto e paciente. Disse a Marta que iria conversar com a menina, pra ver se dava jeito naquilo. Saiu de casa com o chapéu na mão, sorriso escondido no rosto, já sabia onde procurá-la. Olhou o céu, calculou o horário, foi subindo a montanha. Ela estava ali, como sempre, a assistir ao espetáculo e nem notou quando ele chegou. Quando o viu, deu um grande sorriso, pulou em seu pescoço num abraço de criança, depois enfiou as mãozinhas no bolso do casaco do tio, procurando as balas de framboesa. Sentaram os dois na relva, comendo balas vermelhas, assistindo o sol se por devagar. Ela, como sempre, sorridente, falante, curiosa, disse então ao tio:
- Tio, obrigada por me ensinar o seu esconderijo, por me mostrar as estrelas e a lua. Como o Sr. ensinou, que é pra dar sorte, já consegui achar uma joaninha vermelha no teto várias vezes. Só tia Marta que não gosta muito quando procuro... não sei por que.
- Ah tio...agora falta o senhor me contar direito aquela outra história..é verdade que as estrelas tem nomes estranhos ?
Autoria: Adriana Alves