Lugares Mágicos
Dados os devidos telefonemas. Explicado que havia razões para fotografar as ruínas da casa, para eternizá-la numa tela. Encontrada a devida lógica: ”Ela sempre teve jeito para isso” Estava eu de posse da chave da propriedade.
Fazia algum tempo que eu procurava uma casa antiga, mas foi uma música, “Lili Marlene” que me fez lembrar da casa de “Frichien e Fones”, eram esses os nomes que minha memória reconhecia. Tão próximo de casa...
O velho portão gemeu ao meu esforço em abri-lo. Insisti em ir pela entrada antiga. E lá estava o jardim...orquídeas floresciam indiferentes a ação do tempo, e de repente tudo se iluminou...revi as camélias brancas, rústicas rosas e por entre canteiros a menina de cachos dourados desvendando segredos.
E a casa...continuava mágica. A enorme varanda, onde eu sentava num banquinho e sob os severos olhos de Frichien, ensaiava minha estréia no teatro. Minha única inspiração era o enorme biscoito colorido e o copo de framboesa que eu ganharia se me saísse bem no ensaio. “Lili é uma boneca,que fala,que chora,que ri...”
Me vi cantarolando...a porta, caída me permitia a entrada na casa...e as mil recomendações que havia o risco de desmoronar foram rapidamente esquecidas. Percorri, com olhos e mãos os cômodos...isntintivamento me vi com os dedos cruzados com força as costas e ouvi outra vez a recomendação: “Não mexa em nada”. Ah! Que vontade de tocar na bailarina rosa e esguia que ficava na mesinha de centro, sempre incansável na mesma posição...mesmo quando as notas de Wagner enchiam o ambiente e embalavam o Sr..Fones na sua cadeira de balanço e com voz macia me chamava. “Mädchen Marichien”
Não...não poderia pintar aquela casa...ela jamais estará em ruínas. Tudo nela é intenso demais. Feliz demais. O ensaio ainda não acabou.
“Lili é uma boneca, que fala, que chora, que ri...já esta ficando sapeca...”