Meu professor inesquecível
A nossa memória é um depósito de lembranças alegres e tristes. Parece que as tristes têm lugar especial e significativio em nosso cérebro. Ele as guarda tão bem que as vivemos como se o ontem fosse o hoje. Existe até o barulho ritmado dos acontecimentos que nos fizeram reter um tempo mesmo que triste, mas inesquecível para nós.
Meu professor de matemática, José Luís, marcou nossa vida de adolescente como ninguém marcara até então. Era rude, estatura mediana,usava uns óculos, conhecidos popularmente como "fundo de garrafa". Para ele não passávamos de delinquentes do raciocínio lógico e muito menos capazes de aprender a mais exata das ciências.
Crianças, pre-adolescentes, tivéramos a sorte de passar em concurso público e frequentar um dos estabelecimentos de ensino mais conceituados da época em nosso Brasil. Tudo era novidade para nós. O aprender francês e outras línguas era motivo de orgulho para os alunos do conceituado estabelecimento de ensino. Mas a matemática metralhava nossa cabeça sem nos levar à morte. Nada entendíamos do que nos era ensinado, e a figura esquisita de nosso professor nos levava ao desespero. Dele tínhamos pavor. Parecia o "gênio do mal" quando nos tentava explicar a lógica dos números e teoremas. Enchia o quadro de fórmulas difíceis e não nos deixava pensar sobre a praticidade daquilo que nossos olhos viam no quadro de giz. Era um terror!
Seus dedos eram trêmulos e amarelados pelos inúmeros cigarros que fumava(na ocasião o fumo não era proibido) tentando abrir nossos horizontes para a lógica. Sentíamo-nos ameaçadas pelo seu olhar duro e mãos trêmulas quando nos chamava de "cretininhas". Lembro-me muito quando dizia:- Eu ensino, ensino e as cretininhas não aprendem.
Crianças que éramos, ouvíramos falar em aprendizagem antiga, palmatória ,etc., mas em pleno século vinte o que era aquilo?
Éramos espancadas mentalmente por ele que nos reduzia ao número zero.
Certa vez, tentando dar explicações sobre um teorema, colocou o giz na boca e tentou escrever com o cigarro. Foi o auge de seu descontrole, mas resistimos ao terror, esperando por dias melhores que custaram a chegar.
Tudo se agravou quando em prova parcial todos tiraram zero. Não saímos às ruas a reclamar nem pintamos nossas caras, porém procuramos o colo de nossos pais que saíram desesperados a tomar uma atitude em relação ao ocorrido. Foram ao Diretor Geral e expuseram toda a situação existente entre nós e o mestre.
Tímidos, inocentes e assustados fomos chamados à direção contando o que nos acontecia em sala de aula. O Diretor limitou-se apenas a nos ouvir. Nossos pais, nossos advogados, mesmo dentro de humildade significativa, cobravam solução.
Alguns dias se passaram. A nossa prova foi anulada, e o nosso professor afastado da cadeira. Foi uma vitória sem gosto de vitória porque ficou apurado que nosso professor fazia tratamento psiquiátrico e que iria ser internado por estar bastante mal da cabeça.
Foi página triste virada em começo de adolescência. Mais triste ficamos em saber que Marilda, nossa colega de classe, era filha do professor José Luís e que a tudo assistia sem manifestar qualquer gesto em desagravo ao ocorrido. Só viemos saber desse parentesco quando lágrimas rolaram de sua fisionomia tristonha, dizendo: -É meu pai!. É nosso professor. É um lutador da vida como tantos outros professores.
Senti naquele momento que os mestres marcam a nossa vida e mesmo não tendo aprendido conceitos matemáticos, aprendi a valorizar a luta daquele homem que brigava por ter um lugar ao Sol. Por isso você foi o meu mestre inesquecível, professor José Luís, o que brigava consigo mesmo para tentar transmitir seus conhecimentos. Você nunca sairá da minha memória.
Com este texto homenageio aos abnegados profissionais da Educação que marcam suas histórias em nossas cabeças e que jamais são esquecidas por nós.
Parabéns, professor!
A nossa memória é um depósito de lembranças alegres e tristes. Parece que as tristes têm lugar especial e significativio em nosso cérebro. Ele as guarda tão bem que as vivemos como se o ontem fosse o hoje. Existe até o barulho ritmado dos acontecimentos que nos fizeram reter um tempo mesmo que triste, mas inesquecível para nós.
Meu professor de matemática, José Luís, marcou nossa vida de adolescente como ninguém marcara até então. Era rude, estatura mediana,usava uns óculos, conhecidos popularmente como "fundo de garrafa". Para ele não passávamos de delinquentes do raciocínio lógico e muito menos capazes de aprender a mais exata das ciências.
Crianças, pre-adolescentes, tivéramos a sorte de passar em concurso público e frequentar um dos estabelecimentos de ensino mais conceituados da época em nosso Brasil. Tudo era novidade para nós. O aprender francês e outras línguas era motivo de orgulho para os alunos do conceituado estabelecimento de ensino. Mas a matemática metralhava nossa cabeça sem nos levar à morte. Nada entendíamos do que nos era ensinado, e a figura esquisita de nosso professor nos levava ao desespero. Dele tínhamos pavor. Parecia o "gênio do mal" quando nos tentava explicar a lógica dos números e teoremas. Enchia o quadro de fórmulas difíceis e não nos deixava pensar sobre a praticidade daquilo que nossos olhos viam no quadro de giz. Era um terror!
Seus dedos eram trêmulos e amarelados pelos inúmeros cigarros que fumava(na ocasião o fumo não era proibido) tentando abrir nossos horizontes para a lógica. Sentíamo-nos ameaçadas pelo seu olhar duro e mãos trêmulas quando nos chamava de "cretininhas". Lembro-me muito quando dizia:- Eu ensino, ensino e as cretininhas não aprendem.
Crianças que éramos, ouvíramos falar em aprendizagem antiga, palmatória ,etc., mas em pleno século vinte o que era aquilo?
Éramos espancadas mentalmente por ele que nos reduzia ao número zero.
Certa vez, tentando dar explicações sobre um teorema, colocou o giz na boca e tentou escrever com o cigarro. Foi o auge de seu descontrole, mas resistimos ao terror, esperando por dias melhores que custaram a chegar.
Tudo se agravou quando em prova parcial todos tiraram zero. Não saímos às ruas a reclamar nem pintamos nossas caras, porém procuramos o colo de nossos pais que saíram desesperados a tomar uma atitude em relação ao ocorrido. Foram ao Diretor Geral e expuseram toda a situação existente entre nós e o mestre.
Tímidos, inocentes e assustados fomos chamados à direção contando o que nos acontecia em sala de aula. O Diretor limitou-se apenas a nos ouvir. Nossos pais, nossos advogados, mesmo dentro de humildade significativa, cobravam solução.
Alguns dias se passaram. A nossa prova foi anulada, e o nosso professor afastado da cadeira. Foi uma vitória sem gosto de vitória porque ficou apurado que nosso professor fazia tratamento psiquiátrico e que iria ser internado por estar bastante mal da cabeça.
Foi página triste virada em começo de adolescência. Mais triste ficamos em saber que Marilda, nossa colega de classe, era filha do professor José Luís e que a tudo assistia sem manifestar qualquer gesto em desagravo ao ocorrido. Só viemos saber desse parentesco quando lágrimas rolaram de sua fisionomia tristonha, dizendo: -É meu pai!. É nosso professor. É um lutador da vida como tantos outros professores.
Senti naquele momento que os mestres marcam a nossa vida e mesmo não tendo aprendido conceitos matemáticos, aprendi a valorizar a luta daquele homem que brigava por ter um lugar ao Sol. Por isso você foi o meu mestre inesquecível, professor José Luís, o que brigava consigo mesmo para tentar transmitir seus conhecimentos. Você nunca sairá da minha memória.
Com este texto homenageio aos abnegados profissionais da Educação que marcam suas histórias em nossas cabeças e que jamais são esquecidas por nós.
Parabéns, professor!