Pai e filho...e um desejo


Era uma vez um homem (Carlos). Ele trabalhava para dar o sustento a sua família. Um homem de poucos dizeres, pois além de chefe da casa, era o alicerce onde todos podiam se apoiar. Sua força, tantas vezes parecia falta de sensibilidade e sentimentos... máscara que usava, um muro para não demonstrar suas fragilidades(o que todos nós temos, independente de sexo, cor ou credo).

Seu filho estudava em uma escola pública. As condições de vida não eram das melhores mas, não faltava o arroz e o feijão, carne era raridade mas, sempre que possível e que as condições ajudavam  Carlos trazia pra casa.
Seu filho Eduardo, carinhosamente apelidado de "Edu", não tinha muitos brinquedos, era um menino um pouco triste, com pouquíssimos amigos, de brinquedo tinha uma bola velha remendada e brinquedos feitos com materiais recicláveis que seu pai fazia (muito sentido por não poder dar ao filho tudo que gostaria).
Certo dia passou na televisão em um comercial de um carrinho de controle remoto, cheio de apetrechos, o carinho podia fazer mil e uma coisas...Edu ficou fascinando! Se aproximou do pai e disse:

_Pai,meu aniversário está chegando, faltam apenas 8 dias, se o Senhor puder eu gostaria de ganhar este carrinho de controle remoto, é muito legal, acende os faróis e tem tração nas quatro rodas.

O pai explicou que era muito caro, que não tinha condições de comprá-lo, pois ganhava pouco e o que ganhava dava somente para pagar as contas. Edu disse, como os olhos marejados e um nó na garganta, que entendia. Mas, cada vez que via o comercial seus olhos brilhavam, e sempre que podia comentava com o pai sobre o carrinho.

O pai nunca pode receber um presente desses. Quando criança era muito pobre e teve que trabalhar cedo. Teve vontades, mas os brinquedos que os outros meninos podiam ter, ele não tivera. No fundo do seu coração, percebeu a importância daquele carrinho, talvez nem tanto para o filho, mas para ele mesmo. Ele queria dar de presente algo que nunca pode ter, simbolizado por um brinquedo. Um brinquedo caro!Felicidade que nunca teve!

O pai então, fez uma dívida que não podia, fez bicos e comprou o carrinho. Faltavam ainda alguns dias para o aniversário do menino, e o brinquedo ficou escondido em cima do guarda-roupa, com várias coisas na frente para que não pudesse ser visto.

O filho estava cada dia mais fascinado pela perspectiva de ganhar seu presente. Os dias passavam devagar e apesar do pai ter lhe dito que não poderia comprar o brinquedo, ainda sonhava e tinha esperança, pois conhecia o coração do seu pai... Todos os dias ele comentava sobre as características do carrinho e a cor que ele queria. Um amigo dele havia ganhado o mesmo brinquedo e ele ficava imaginando as disputas que faria, uma corrida cheia de obstáculos... com pódio e tudo mais!.

A mãe não agüentou tamanha ansiedade do filho e num ímpeto de mãe, decidiu dar-lhe logo o presente, antes mesmo do dia do aniversário.

O pai sofreu! Ele queria que aquele aniversário fosse inesquecível, queria ajudar com o brinquedo novo, montar as partes, colocar as pilhas e brincar junto... Queria ver os olhos de surpresa, o sorriso largo que certamente iria se formar no rosto do filho.

O filho pegou o pacote que a mãe lhe deu, abriu o papel que o embrulhava, mas não abriu a caixa. Se dirigiu ao pai para que o ajudasse, somente para que o pai fizesse parte daquele momento...naquele instante havia percebido que talvez o presente não fosse assim tão importante quanto imaginava... Talvez ele estivesse correndo o risco de negar ao pai um presente muito mais valioso.

O pai estava muito ferido e tentou mostrar-se forte. Disse em um momento que não se importava, que nunca mais iria fazer uma besteira tão grande quanto aquela. Distante, chorou...

O menino não abriu o presente, mas ficava olhando com uma vontade imensa de abri-lo, mas não o fez. O pai percebeu a atitude do menino, e se rendeu finalmente. Juntos, abriram a caixa, montaram o brinquedo e brincaram...brincaram horas e horas.

Muitos dias depois assaltaram a casa de Edu e roubaram as poucas coisas que tinham comprado com muito suor e sacrifício, levaram até mesmo o carrinho.

Mas Edu não se importou pois o maior presente que ele recebera não havia sido roubado...lembranças e sensações que o acompanharam até hoje, em que se tornou um homem e pai amoroso de 3 filhos...
Fernanda Mothé Pipas
Enviado por Fernanda Mothé Pipas em 09/10/2009
Reeditado em 09/10/2009
Código do texto: T1857424
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