o bom moço (Comente)

Era um bom rapaz, interesava-se por coisas atípicas. Nao tinha guase nenhuma amizade, mas as que possuía tratava-as com virtude. Falava pouco, e quando se expressava era subjetivo, incapaz de organizar qualquer comentáraio coerente.

Conservava na face sempre a mesma afeiçao patética. Seu maior desafeto foi com um cao que mordera seu clacanhar. Os olhos daquele bom moço pareciam viver atraidos pela gravidade. A incapacidade de fitar o olhar dos outros confirmava tal tese. Estava sempre no mesmo canto, resguardado por uma inércia sonolenta e sorvendo o tédio no ar. Ninguém o comprimentava com exaltaçao. Mas abandonava a desconfiança a qualquer pessoa que engatilhasse um sorriso peregrino.

O bom moço residia junto com a mae. Mulher de natureza similar, mas que já ultrapassava a expectativa de vida. Juntos formavam uma célula famíliar. O pai. homem justo e de bom coraçao, cometeu suicídio há alguns anos atrás. De de maneira inexplicável se absteve da vida, assim como um anjo que perde a sua ala no paraíso por questionar Deus.

Certa vez o bom moço teve um sonho. Em seu sonho as pessoas carregavam nas maos lírios tangidos de sangue, crianças tinham desenhos de árvores secas tatuadas no peito. Dois rios se encontravam. Um de água límpida e plácida e outra turbulenta e de água putrefata.

Ao comentar o sonho com a mae ficou um tanto surpreso. Ela, mulher de pouca ou quase nenhuma fé, o aconselhou a rezar antes de dormir. Contudo acatou o conselho.

Todo dia ao acordar ele perigrinava um olhar vegetativo pelo quarto. O tempo consumia aquela vida mónotona. O bom moço era uma lacuna da própria natureza.

Certo dia ao entrar em sua casa encontrou a mae estendida ao chao. Estava morta, fria como o inverno da Sibéria. Estava em posiçao frontal. parecia estar repousando na eternidade de um sonho bom. O bom moço pegou a mae pelos braços e tocou sua face como nunca havia feito em toda vida. com tamanha afetividade jamais exercida a levou para cama. Ficou ali estatático. Observava-a com se avisse pela primeira vez. Talvez querendo amadurecer a idéia da morte. Era um olhar estéril que se desprendia de sua face. Começou a sentir-se só mas nao derramou uma só lágrima. Apagou as luzes e deitou-se ao lado da mae e forma fetal, parecendo, um feto repopusando às vésperas de um aborto.

Marcos Marcelo Lírio
Enviado por Marcos Marcelo Lírio em 08/10/2009
Reeditado em 28/10/2009
Código do texto: T1855419