Lithium
Ana estava sentada no sofá da sala, assistindo televisão e fazendo as unhas. Virava a cabeça para a janela a toda hora. Augusto, seu marido, ainda não havia chegado da rua. "Deve estar fazendo cerão" - pensou.
Continuou a lixar as unhas, olhando a novela, quando a porta da sala foi aberta.
-Boa noite, querido. – Ele disse, ao ver o marido - Onde você esteve? Teve cerão hoje?
Mas ao aproximar-se dele, Ana percebeu, triste, que ele não havia trabalhado mais naquela noite. Podia sentir o cheiro do álcool entranhado nas roupas e na pele do homem, um cheiro que ela estava acostumada a se sentir.
Deu um suspiro pesado ao constatar isso.
-Não me diga que você andou no bar, bebendo de novo?! - Havia desapontamento em sua voz.
-Isso não é da sua conta, mulher! - Ele retrucou rispidamente, enquanto batia a porta e jogava o casaco sobre a mesa da cozinha.
-Por que você faz isso comigo? - Ela perguntou isso mais para si mesma do que para ele, com a voz baixa, mansinha.
-Cala a boca, mulher! Não vê que estou com dor de cabeça! - Ele resmungou.
-Está com dor de cabeça porque bebeu demais! - Ela deixou escapar. Céus, não podia ter dito aquilo! Ele ficaria zangado com ela.
-Não pedi a sua opinião, mulher! - Ele disse arrastando os pés até a o quarto.
Ana voltou a sentar-se no sofá, e olhou para a porta do quarto, sentindo-se triste por aquilo ter acontecido. Já estava acostumada a vê-lo chegar tarde e bêbado, e já sabia o que podia acontecer se eles brigassem feio... Não queria que acontecesse de novo. Então ficava calada.
Minutos depois, Augusto aparece na porta.
-Vem cá me fazer companhia. – Disse, em tom de manha.
Ela desligou a televisão e se levantou do sofá, seguindo até o quarto. Sabe o preço de uma negação. Não quer brigar, ama Augusto e não quer que ele fique zangado com ela.
E quando Augusto ficava zangado... Ah, ela sabia que não era nada bom.
Foi até o quarto, e enquanto o marido a beijava, ela sentiu os olhos marejados, segurando lágrimas que ela não podia deixar correr.