Táxi!
"Táxi, Senhor?"
"Não, obrigado. Primeiro preciso encontrar um banheiro. Sabes me dizer onde tem um aqui?"
"No fundo do corredor à sua direita"
E foi até o local informado. O homem ainda não conhecia muito bem o local. A cidade lhe era familiar, mas as coisas estavam diferentes. Todas as vezes em que desembarcou naquele solo, foram em função de trabalho. Desta vez iria se divertir. Soltar a vontade que tinha de ser feliz. Embora "ser feliz" implicasse em diversos fatores. Por exemplo: há pessoas que são felizes com uma simples ida ao parque, já outras, não se contentam enquanto não conhecerem o mundo. É, o mundo mesmo. Existe essa necessidade de exploração universal. Há, também, pessoas que contentam-se apenas em ver os outros felizes, por outro lado, há quem não vê nada além de seu próprio umbigo. Aliás, essas são as que demoram mais para encontrarem a felicidade de verdade.
"Senhor, peraí que irei mostrar o caminho pra você, certo?"
"Tudo bem, obrigado pela tua gentileza."
"Por nada, viu. O senhor vai querer o táxi depois?"
Quem leu Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago - ou mesmo quem assistiu ao filme - percebe o quanto o autor trata de assuntos sociais. Da astúcia dos seres humanos - que não são poucos - em sempre quererem assumir vantagem em alguma coisa. Isso mesmo, não aceitam serem vencidos. Passam por cima, até mesmo, das deficiências para sairem vitoriosos. Então quer dizer que a direção correta do caminho ao banheiro só será dada ao homem na condição de que assuma o banco do passageiro no táxi?
"Sim, Senhor. Irei querer."
Percebem como existem pessoas submissas?
Saiu do banheiro e o homem do táxi já o aguardava.
"Vou levar o senhor até o piso superior e o senhor aguarde no final do corredor para que eu confira o valor da corrida até o seu destino, tudo bem?"
E tinha outra alternativa? Lógico que tinha, mas o moço foi tão atencioso e cordial que parecia impossível do homem negar. Até eu iria.
"Esqueci de perguntar uma coisa ao senhor. Para onde o senhor vai?"
Muita cordialidade para pouca atenção no que estava fazendo. Mas isso foi o de menos para o homem. Informou ao do táxi onde iria ficar e continuou aguardando, com uma mala de rodinhas na mão esquerda, um cigarro na direita e uma mochila enorme nas costas.
"Vamos até ali no final do corredor e eu levarei o senhor."
"Obrigado."
Imaginem o comprimento do corredor.
"Sabe, eu não sou daqui. Vim pra passar férias. Gosto muito daqui."
"É mesmo, senhor? Que bacana, viu. Essa cidade aqui é tudo isso que o senhor está vendo: trânsito caótico, poluição. Mas tem tudo aqui."
O que você faria se depois de uma longa conversa e de um longo percurso tomado, você perceber que não existe taxímetro no carro, ou que pelo menos não como você está acostumado a ver? Pois bem, o homem nada fez.
"E o taxímetro do teu táxi. Diferente..."
"É assim aqui na cidade. Vou lhe dar um desconto na corrida, para o senhor virar freguês."
"Mas quanto tu acha que vai dar essa corrida?"
"Olha, normalmente, perto dos R$100, mas como disse ao senhor, vou lhe dar um descontinho camarada"
O destino do homem deve ser longe mesmo. Dia de semana, bandeira 1 (ou seria 2?) e a corrida chegar a isso... Mas para nosso viajante, isso não tem problema algum. Afinal de contas, está de férias e sabe pouco dos preços da cidade.
"Essa rua aqui, senhor, é da putaria. Tem puta pacas aqui. Mó legal dar um rolé por aqui e bater um papo com elas. O senhor pode se divertir logo cedo."
Que diabos o homem estava fazendo naquele 'táxi'? O pior de tudo é que ainda deu um sorriso de canto de boca e fez referências com a cidade de origem.
"Lá tem um bairro que lembra muito aqui. Muitas prostitutas, prédios sujos. Bem parecido mesmo"
Pronto! O do táxi já havia conquistado a confiança do homem.
"Chegamos, senhor."
"Quanto deu?"
"Na tabela daria R$85, mas como prometi um desconto pra virar freguês, vou lhe fazer por R$70."
Regra Número 1: quando for visitar uma cidade que não for a sua, pesquise preços de tudo. Principalmente de transporte público como: ônibus, metrô, táxi - principalmente táxi.
Regra Número 2: quando for visitar uma cidade que não for a sua, só converse com estranhos o necessário.
Regra Número 3: quando for visitar uma cidade que não for a sua, só deixe ser conduzido por quem oferece identificação.
"Senhor, vou lhe deixar meu cartão para que me ligue quando o senhor voltar. Posso lhe dar um desconto ainda maior."
"Obrigado. Vou ligar sim. Até mais."
Acreditem: duvido que esse homem não tenha pego esse mesmo do táxi de volta. Jeitinho brasileiro? Talvez. Lembram do Ensaio Sobre a Cegueira?