VELHICE
Enquanto aguardava atendimento médico em um posto de saúde observava as pessoas que ali chegavam, quando reparei numa senhora, em idade bem avançada, a qual parou diante das escadarias do prédio e ficou à olhar para todos, como que pedindo ajuda para subir aqueles lances de escada, porquanto utilizasse muletas. Imediatamente fui ao seu encontro e estendi o braço para que ela se apoiasse em mim. Após muito esforço, conseguimos vencer os osbtáculos.
Retornei à fila e continuei a observá-la enquanto dirigia-se
ao guichê de atendimento para idosos. A enfermeira chamou-lhe em
uma sala onde seria verificada sua pressão arterial, e pude notar que
ela agora sorria, diante do desvelo e atenção da enfermeira. Saiu da sala e sentou-se em um banco no corredor, retirou uns papéis da bolsa e ficou a examiná-los. Ouvi chamarem meu nome e dirigi-me à sala onde faria minha consulta. Quando sai da sala, percebi que a
velhinha contiuava lá, sentada e aproximei-me dela perguntando-lhe se estava bem, ao que ela respondeu-me:
- Sim, minha filha! Estou bem. Venho aqui todos os dias para verificar minha pressão arterial, e já faço isto há dois anos.Minha pressão está ótima, melhor do que a de uma menina! Estranhei aquela informação,e indaguei-lhe o por quê de ela vir ao posto de saúde todos os dias, fizesse sol ou chuva, enfrentando os problemas
de locomoção e limitações que tinha por conta da avançada idade, se ela já sabia que estava com a pressão controlada? Sorrindo respondeu-me;
- Sabes, minha filha! Vivo sozinha numa casa antiga bem próximo aqui do posto de saúde e lá moro desde quando casei-me. Ali construí minha vida, tive dois filhos que agora estão casados e cada qual deu-me dois netos, que também estão casados...Trabalham, cursam a faculdade e tem inúmeros compromissos, por isto não podem me visitar. Sinto-me muito só, desde que meu "velho" morreu, por isto faço este sacrifício todos os dias, vindo até aqui, por que quando chego aqui há sempre alguém que vem em meu auxílio, todos já me conhecem, conversam comigo, perguntam-me de minha saúde, de meu passado, de minha história de vida, enfim. E tratam-me com um carinho!
Dizendo-lhe algumas palavras de despedida, após conversarmos sobre amenidades, desejei-lhe felicidades e sai, caminhando passos lentos e pensando sobre o que vira e ouvira. Certamente aquela senhora deveria ser uma pessoa que outrora construíra uma vida digna, cuidara da família, educara os filhos, com amores e cuidados que toda boa mãe deve ter, adorava os netos e mesmo sentido-lhes a ausência, desdobrava-se em desculpas para amenizar a opinião alheia sobre o descaso dos mesmos para com sua pessoa. Fiquei triste por ver que há muitas pessoas assim, que não valorizam o amor e cuidados que obtiveram de seus pais e quando os mesmos estão velhos, necessitando de cuidados e atenção, relegam-nos ao esquecimento.
Percebi que aquela senhora fizera daquele lugar, uma extensão de seu lar, onde as pessoas respeitavam-na, queriam-lhe bem e davam-lhe atenção.
Criara ali, uma nova vida, movida pelo desejo de ser...simplesmente ser!
Helena Grecco
02.10.2009