NO CULTO
Certa vez, à convite de um amigo, fui à um culto evangélico. Não faço parte dessa comunidade, mas por ser um grande companheiro me vi impossibilitado em declinar.
A igreja, ficava num município vizinho ao nosso, aonde chegamos , após atravessar o estuário em uma balsa, lá pras oito da noite.
Na porta, estava o Pastor Júlio. Sessentão, simpático, metido num terno marrom escuro, recebia a todos com um - “Sejam bem-vindos à casa do Senhor” .
Entramos em um salão simples sem nenhuma ostensão, apenas um pequeno púlpito, dois grandes ventiladores de pedestal e bancos compridos de madeira dispostos lado a lado, que já estavam quase todos ocupados. Totalmente despojada de imagens de tantos santos, alusões bíblicas, tão comum na maioria das igrejas católicas que vez por outra eu entrava. Tudo muito simples, humilde.
Conseguimos um lugar na penúltima fila de bancos, acomodamo-nos ao lado de um conhecido de meu amigo. Enquanto os dois conversavam baixo, meu olhar passeava pelo ambiente me sentindo
meio que um “peixe fora d”água “ embora parecendo que ninguém me percebia.
Às oito e trinta o Pastor subiu ao púlpito. Silêncio geral, todos levantam e entoam um Hino de Louvor . Todos, menos eu, por puro desconhecimento. Terminado o cântico, aliás, muito bonito, o Pastor abriu a Bíblia e começou a citar uma passagem do evangelho de Matheus. Todos atentos, menos eu. Minha atenção fixou-se em uma mulher dois bancos à frente, que tinha nos braços um bebê. A criança estava meio agitada, impaciente mesmo no aconchego da mãe que de tudo fazia para acalmá-la. Sem sucesso. O Pastor quase que em êxtase, se aprofundava na citação quando um grito se sobrepôs à sua voz.
Era a criança agitada que escancarou a goela numa aflição de fazer dó. Muitos a olharam, alguns até com recriminação. Menos eu.
A mãe tranqüila, acariciou seu rebento, aconchegou-o melhor e indiferente a alguns olhares, desabotoou seu vestido, tirou uma teta carregada de leite, que logo sua cria abocanhou com a voracidade de um filhote de loba...e...era visível a satisfação no rosto da fera mãe.