O momento de ser feliz
Eram quase seis horas da manhã, o garoto levantou rápido, pois tinha de ir ao trabalho. O ônibus passaria como sempre às seis horas e vinte minutos, na frente da casa do Seu Raulindo. Tomou rapidamente um copo de café, pegou suas luvas e seguiu até o ponto de ônibus. O dia estava prometendo que haveria um sol daqueles! E foi realmente! Já no trabalho, cumprimenta o seu Tio Jairo - Bença tio. Deus te abençoe, Toinho - responde o senhor de cabelos brancos e pele morena, queimada pelo sol causticante do sertão baiano. O menino então começa a arar a terra para o plantio do feijão edo milho. O tempo passa rápido e Toinho pára e vai almoçar. Como ele gosta daquele feijão com arroz e ensopado de frango com batatinha. Após comer tudo, o menino deita e descansa um pouco, debaixo da frondosa mangueira. Ali pensa e busca um sentido para sua vida. Aos catorze anos, sendo seis deles dedicados ao trabalho no campo, ajudando o seu Tio Jairo, como forma de ajudar seus pais no sustento da família. Ele ainda não concluiu a 5a série e não vê a hora de chegar à escola. Na escola, para ele, tudo é emoção. Não é só aprender a ler e escrever, mas sim aprender a ser cidadão. A Professora Flôr motiva os alunos a serem sonhadores. São histórias genuínas e também estórias com muita imaginação. Em cada conto que ela conta, conduz Toinho em uma viagem imaginária, e ali, naquele mundo fictício, o menino vê e vive tudo isso: amor, dor, alegria, tristeza, multidão de pessoas, solidão e muita, muita emoção. O garoto descobre então, aos contos e encontros, e também nos desencontros, a história da sua própria vida. O tempo já passou. Já são trezes horas e chegou a hora de ir à escola. O velho ônibus de listra azul chegou no ponto. Toma um banho rapidinho, pega seu caderno, se despede do tio e entra. As batidas do seu coração começam a acelerar, denunciando seu nervosismo e sua vontade de chegar logo. O ôbnibus para e ele desce, corre e vê seu colega Carlos, cumprimenta-o com alegria e entra no colégio. Agora se sente feliz. Seus colegas o abraçam, conversam muito, enquanto aguardam a chegada da professora. Toinho fala um pouco do seu cansaço, devido ao duro trabalho na roça. Entra na sala a Professora Flôr, dando boa tarde a todos, que respondem à uma só voz: Bom dia, Professora Flôr ! Toinho fica emocionado e começa a chorar. Este é o seu momento de ser feliz, é a hora de se descobrir é a hora de aprender a aprender. Na escola ele aprende a conviver e a ser, na escola ele é ensinado a amar, entende que tem de refletir sobre o mundo e também sobre si. A professora pede a ele que pare de chorar e pergunta: Toinho, por quê você está chorando? Ele responde: Eu choro porque estou gostando de estudar! E diz dentro de si: como é bom estar aqui !