HISTÓRIA DE UMA ADOLESCENTE SAUDÁVEL ( IX )
HISTÓRIA DE UMA ADOLESCENTE SAUDÁVEL (IX)
Sonia Barbosa Baptista
(Conto)
A PROFESSORINHA
Capítulo IX
A professorinha também era estudante.
E como adolescente, também fazia travessuras na sala de aula.
Dentre as mais comuns: por tampa de caneta, bolas de folhas de caderno amassada, papéis picados, papel de bala, tudo isso no bolso do jaleco do professor de francês, enquanto ele passava no corredor entre as fileiras de carteiras.
Ela ficava esperando ele chegar lá na frente, era quando ele deixava o livro sobre a mesa e colocava as mãos no bolso, aí então, encontrava todo aquele lixo, inclusive chiclete depois de mastigado.
Ela ria e ele antes de rir ficava vermelho encarando a aluna e segurando a bala, que encontrava junto àquela brincadeira, que ela fazia toda aula de francês que tinha com ele.
Era um bom e querido por todos, o professor cearense.
Para o professor era uma brincadeira saudável, já que o turno noturno era de pessoas que trabalhavam durante o dia e naquele tempo em que sentados na sala de aula, o sono chegava e a carteira escolar se fazia em duro travesseiro, amparado pelos braços, que ajudavam a sustentar a cabeça...
A professorinha, como sabe, também trabalhava, tinha suas preocupações com seus alunos, em ensinar e querer que fossem sempre os melhores como ela era no colégio, não ser o melhor, mas ser sim o que prestasse atenção na explicação do professor, pois assim aprendia-se muito mais..
Dificilmente alguém que não a conhecesse acreditaria que estava diante da mais nova professora (naquele momento), da região sudeste do Brasil.
Apesar de que, com certeza nas outras regiões, principalmente no nordeste encontrassem também professoras jovens.
A professorinha estava vivendo um grande amor, o primeiro de sua vida.
Não pensem que era como o relacionamento dos namorados de hoje, não era.
Como ela já contou, seu príncipe encantado não apareceu montado num cavalo branco e nem mesmo jogou para ela na janela, uma rosa vermelha da cor da paixão.
Ele era um jovem lindo, um feirante que acordava ainda, com o galo cantando anunciando que o bom trabalhador, que cuida de suprir os alimentos da população deveria estar de pé.
Que tempo delicioso! Ainda hoje suspira a professorinha lembrando de como o amor na atual inocência era lindo e ingênuo, era um amor azul.
Enquanto ela dormia, ele já estava chegando conduzindo a carroça puxada por seu cavalo marrom de patas brancas, pois ele trabalhava na feira livre que acontecia perto da casa dela.
A professorinha é do tempo que o amor acontecia pela troca de olhares.
O toque de mãos, o beijo sonhado e ensaiado na mente, ficava na expressão, da beleza do olhar, que quando encontrados os dois ouviam sinos e anjos tocando harpas em suave melodia rodeando cada um, como mensageiros do amor dos dois.
O amor sem encontros, inundava o coração da professorinha e do seu escolhido, de ternura, a ponto de sentir um desenfrear de sensações ainda por ela desconhecidas...
Naquele tempo, que hoje se faz distante demais, ela lembra do primeiro encontro, do primeiro beijo. Nossa!
Seus pés saíram do chão, parece ter sentido uma surdez e enquanto aquela magia do beijo acontecia, e braços fortes, porém suaves a abraçava delicadamente, porém num magnetismo estonteante, momento primeiro de rara beleza, Céu e Terra parecia aplaudir cada um do seu melhor jeito de se manifestar.
Ela não soube e não saberia explicar o que de fato acontecia, que só quem está beijando sabia a magia que inundava a alma.
A impressão era de que o mundo era maravilhoso em perfeição, pois para ela o mundo era Deus.
E naquele momento, feito apenas de céu, terra, árvores e eles dois, únicos seres habitantes do planeta chamado Amor.
Ela mal podia acreditar que houvesse uma coisa tão gostosa, quanto ou muito mais do que comer a fruta saborosa nos dias de necessidade, que ela enfrentava com a falta de alimentação que acontecia na sua casa.
Pois se lembra bem, a professorinha começou a lecionar por necessidade de ajudar o pai, para que todos os dias pudessem ter no prato uma mistura, porque graças a Deus, o arroz dificilmente faltava, mas podia-se dizer que o arroz era teimoso e insistia em comparecer todos os dias, como se marcasse lugar no prato, no que, não precisava se preocupar pois seu lugar era garantido. Ele era branco e de uma palidez assustadora, (rir pra não chorar), estou falando do arroz.
Como vê, a professorinha comparou o beijo com a alimentação, no que não deixa de ter razão, porque o alimento fortalece o corpo.
O beijo e os sentimentos que envolvem as sensações, alimentam a alma que também precisa resistir, apesar de que o vento, mesmo que seja forte, não consegue dobrá-la.
Mas a fé e a bondade, a sinceridade de pensamentos e sentimentos firmam-na cada vez mais como árvore frondosa, que mesmo sendo milenar conserva o frescor da alma jovem, sempre jovem a cada nova encarnação.
Como dizia a professorinha:
A Pobre lua rodeada de estrelas, tão bela e admirada em seu esplendor, madrinha dos namorados, jamais sentirá o gosto do beijo do seu amor!
23/09/2009