o caso do aviador - assassino e herói de guerra
Eu já tinha lido sobre o episódio durante uma pesquisa anterior para escrever meu primeiro romance. Mas na época eu apenas o registrei como um fato curioso. Até que a poucos dias atrás reli e revi os papéis da pesquisa acima citada. E de repente me veio a idéia de me atirar sobre o tema. O caso de um jovem militar da Aeronáutica, que durante uma festa acaba assassinando um eletricista que molestara a noiva do militar. E depois de preso na base aérea o militar consegue fugir e vai servir na legião estrangeira. Achei extraordinário esse fato, o de fugir e ir servir na legião estrangeira. E note-se, era época de guerra.
O primeiro passo era tentar identificar a data em que ocorrera o fato. Na citação que encontrei, um velho livro sobre as ruas de Florianópolis, dizia assim: " Na praça Pereira Oliveira havia anualmente uma festa com muitas barraquinhas chamada 'Pessegueiros em Flor'. Era patrocinada pela senhora Beatriz Pederneira Ramos, esposa do interventor Nereu Ramos. A finalidade era angariar fundos para o Preventório (internato situado em São José, para meninas carentes, filhas de hansenianos), sob a supervisão da professora Madalena Moura Ferro. Numa certa ocasião, ocorreu um acontecimento inesperado em plena festa, chocando toda a cidade. O tenente da Base Aérea Fernando Borges, assassinou com um tiro de revólver, o eletricista Luiz Ventura, apelidado de 'toureiro', por Ter tentado abusar de sua noiva Berta Busch L. Schmithausen. O referido aviador foi preso na unidade em que servia, mas fugiu pilotando o próprio avião, tendo-se informações, na época, de que o mesmo participava da Legião Estrangeira, lutando no norte da África. Mais tarde o piloto retornou, se apresentou e foi absolvido."
Como se vê é realmente algo digno de nota. E eu me sentia atraído por aquela história de amor, que ao mesmo tempo apresentava drama e aventura. Mas o problema todo se resumia em que sequer tinha uma data para efetuar uma pesquisa.
Decidi ir até o arquivo público do estado. Lá provavelmente encontraria algum dado referente ao caso.
Lá chegando era como se o local estivesse abandonado. Em um folheto na portaria dizia que o horário de atendimento era das 08:30 ás 12:00 e das 14:00 até 17:30. Eram duas e meia da tarde passado. Um rapaz, com um walkmann nos ouvidos, estava escondido atrás de um pequeno balcão que ficava abaixo dos degraus da escada e que servia como uma recepção. Tive que bater no balcão e então o rapaz tirou o aparelho do ouvido e levantou a cabeça, com um olhar hostil como se estivesse bravo comigo por ter interrompido algo importante.
--- Por favor, eu gostaria de fazer uma pesquisa.! - lhe disse.
--- Sim! Sobre o quê? - disse de má vontade.
--- Um fato ocorrido entre 1937 e 1942, acho eu, não tem bem certeza sobre a data!
--- Segundo andar primeira porta a esquerda!- disse ele e ato pronto colocou os fones de volta nas orelhas e tornou a sentar-se.
Eu havia dito entre 1937 e 1942 porque calculava que nessa época Nereu Ramos fora interventor no estado.
O prédio do arquivo público do lado de fora até parece bem conservado mas no seu interior vemos paredes descacadas e mesmo algumas pequenas fissuras. As escadas estão com alguns degraus em péssimo estado.
Me espantei ao chegar na sala indicada. Parecia mesmo estar em outro lugar. Destoava de tudo aquilo que acabei de falar. Sala limpa, espaçosa, algumas poucas mesas e alguns arquivos encostados na parede bonita e bem pintada. Um rapaz com uma máscara branca no rosto estava atrás de uma pequena mesa trabalhando sobre velhos livros e papéis. Documentos que exigiam todo cuidado no manuseio visto ele estar usando luvas e pinças para folhear. Me admirei com tamanha preocupação na preservação dos documentos que fazem parte da memória humana e da própria história.
O rapaz tirou a máscara e se mostrou solicito.
--- Em que posso ajudá-lo? - disse ele levantando-se.
--- Eu gostaria de fazer uma pesquisa. O rapaz lá de baixo me indicou para vir até aqui.
--- Pois não! Sobre o quê é a pesquisa?
--- Na verdade eu não tenho certeza da data. Olha aqui!- Peguei o xerox que havia feito da citação e mostrei a ele.
--- Interessante! - disse ele lendo e se mostrando interessado - É pesquisa universitária?
--- Não! - não era a primeira vez que me perguntavam isso. Até parece que pesquisa significa exclusividade de universitários.
--- Desculpe perguntar! - ele deve ter notado que eu não gostei pelo modo como respondi. - Olha a moça que atende ainda não chegou! - disse me apontando uma outra sala no fundo da que nos encontrávamos. Só então me dei conta da existência daquela outra parte do recinto.
--- Será que ela demora? - na verdade já tinha passado do horário de ela estar no seu lugar, mas como estava tudo vazio, imaginei que realmente eles não tinham muita gente para atender e isso fazia com que relaxassem um pouco.
--- Bom, acho que não, ela já devia estar aqui! Mas acho que o senhor poderia dar uma olhada na Biblioteca, talvez lá ache alguma coisa.
--- Ah não! A biblioteca Estadual está fechada pra reformas faz uns quatro meses e vi uma entrevista na tv dizendo que ainda vai ficar mais outro tanto. - era verdade mesmo.
--- Não! Eu estou falando da nossa biblioteca, no terceiro andar.
Bom, acabei indo até o referido lugar mas no entanto ao chegar lá notei que apesar da porta aberta não havia ninguém para me auxiliar.