Fábula Contemporânea 10
Oscarito Xavier
Apesar dele não estar na sua melhor forma e de, ao tempo, eu não passar de mais um cão magro, faminto e ferido, apaixonámo-nos ao primeiro olhar. Aceitei a comida que ele me estendia, bebi toda a tigela de água e deixei-me afagar antes de voltar a seguir o meu caminho. Procurava, ansioso, o meu dono e ainda tinha esperança em o reencontrar mesmo já tendo passado tantos dias…Talvez não me tivesse abandonado para ir de férias como garantiam os outros cães perdidos na rua que, entretanto, conheci.
Quando, de novo, senti fome e sede, limitei-me a esperar pelo meu afável amigo e, logo que o vi, balancei a cauda, amistoso. Esperei pela água e pela comida e jantei. A seguir, aceitei o convite para entrar. Cheirei tudo. O jardim, a relva, a moradia, o quintal. Eram aromas diferentes mas muito agradáveis. Conversei com a Lili, a sua cachorra, e pedi mais informações sobre o dono. Ela confirmou que ele era generoso, respeitador e que nunca deixara de a passear ao fim do dia. Fiquei mais tranquilo. Detestaria enganar-me outra vez. Decidi, então, que se não encontrasse naquele dia o patife do Quim, aceitaria a hospitalidade e viria morar, ali.
E…voltei. Deitei-me à porta e, logo que o vi, saudei-o já com intimidade. Chamou-me Óscar, talvez porque não tivesse percebido o nome que repeti sempre com o meu usual sotaque nortenho. O nosso caso tinha sido de afecto imediato. Tanto que o meu actual dono, além da ternura que me dedica e da casa, fez questão de oferecer-me, também, o seu apelido. Agora chamo-me Óscar Xavier e sou feliz. O Quim? Continuo a ter saudades dele.