INDECISÃO




Era fácil para ela entrar sem ser percebida. Mas o coração disparava e seus pés pareciam grudados no chão. As mãos suavam tanto que por mais que as esfregasse na roupa não conseguia secar.
- Afinal, pensou ela, o que a tinha levado até ali? Talvez o desejo de aventura, a vontade de provar que era capaz de fazer coisas que muita gente não tinha. Mostrar para “ele” em especial que ela estava ali, que era uma pessoa importante e corajosa. Na verdade não sabia o porquê de estar ali. Na verdade queria estar a mil quilômetros dali.
Uma vez ouviu a mãe falar sobre aquilo; a vontade de fazer o errado sabendo que o certo era melhor. Era, segundo a sua mãe, o lado mau da gente; de acordo com ela nascemos com um lado bom e um lado mau, um anjo e um demônio, a nossa missão é derrotar o mau. Na verdade ninguém sabia direito como derrotar este demônio que esta dentro da gente. É mais fácil ensinar o bem aos outros. É mais fácil falar sobre o amor do que amar. Falar sobre bondade do que praticar. Falar sobre consciência político social do que tomar partido e partir para luta. Quando sua mãe lhe falou sobre estas coisas, ela ainda era muito pequena, agora estava na faculdade, era uma mulher feita e agia como criança. Queria muito ter o conteúdo da prova em suas mãos. Ter o poder. Poder, esta era a palavra. Com aquele papel na mão ela teria poder. Poderia decidir quem dos seus pseudo-s amigos seria agraciado com uma cópia. Poderia oferecer uma cópia para “ele” especialmente. Poderia ver nos olhos das amigas a inveja. Ela não tinha verdadeiramente uma amiga. Pouco conversava. Apenas observava. O momento vivido foi apenas um acaso. Ela estava por perto quando o pessoal confabulava como poderiam conseguir ter o conteúdo da prova do segundo tempo. Sabiam que estava na mesa da professora. E ela falou que poderia fazer aquilo. Maldizia esta hora. Maldizia sua timidez. Maldizia seu medo, ou melhor, pavor. Mas não poderia recuar. Lembrou da mãe. Lembrou de sua vida solitária. Imaginou a vitória. Era chegada a hora.
Começou a entrar na sala, de longe seus cúmplices a observavam. Mas era ela que estava comprometida até os cabelos. Olhou para o fundo da sala. Lá estava a professora na última carteira. Olhou para ela e perguntou com um sorriso o que ela queria. Com o coração disparado disse – Nada não.... Saiu . O coração foi acalmando, o pessoal entendeu o acontecido, e foram cada um pro seu lado. Ela foi andando, andando, e no fundo do coração sorria. O lado bom tinha vencido. Fosse como fosse a vitória era do bem. Ela sabia que em algum lugar do seu cérebro sabia que a professora estaria ali. Gostava de pensar assim.




Edamaria
Enviado por Edamaria em 25/09/2009
Reeditado em 10/03/2012
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