Morreu como um passarinho

Reconheço que fui negligente

Porém, sempre pus à sua disposição os alimentos mais saudáveis.

Oferecia pedaços suculentos de manga, fatias de banana e melancia, rodelas de abacaxi, cubinhos de melão e mamão e saborosas uvas.

Tentei seduzi-lo com mingau de aveia, pão integral de 12 grãos, granola light com canela e mel, tofu e farelos de soja. Ele rechaçava tudo com o maior desprezo.

Então, fiz a sua vontade.

Ele irrompia como uma flecha pela minha janela e só tinha olhos mesmo para o gorduroso queijo de manteiga, a pamonha quentinha, o pudim de leite condensado e o arroz refogado que audaciosamente beliscava enquanto ainda estava cozinhando. Não dispensava a macarronada, a pizza e tampouco o guaraná, que furtava com destreza.

Confesso que o odiava quando comia o bolo de chocolate deixando a mesa repleta de farelos negros. Mas gostava dele.

Morreu como um passarinho. E gordo.

Quem mandou ser um pardal moderno?