A desesperança e a flor

A desesperança e a flor

Maju Guerra

Tudo abandonado à minha volta, dentro e fora da casa. Vontade não tinha de fazer nada, perdera o ânimo em algum canto escondido do quarto fazia tempo. Joguei as roupas de cima da cama no chão, hábito já enraizado, e fui dormir beirando à exaustão. Acordei cedo com um barulho desconhecido, abri a janela para saber o que estava acontecendo de diferente. Era só um caminhão de entregas. Distraída passei os olhos pelo jardim e me admirei, havia beleza onde antes só havia desolação. Em meio ao abandono da terra seca, nascera uma flor azul mostrando que a vida é possível mesmo em condições adversas. Saí e fui ver a flor de perto, colorida, cheirosa, teimosa, transbordando vida, já vinha outro botão nascendo. Quanto tempo fiquei com a flor, não me recordo. Só lembro de que senti a desesperança partindo, fora um duro golpe para ela, vencida por uma pequena e persistente flor azul. Livre da má companhia, me veio o desejo de reagir aos sofridos e inevitáveis desencontros, não iria mais fugir, pela primeira vez queria enfrentá-los. Tomei um bom banho de banheira, água morna pra relaxar, e vesti meu vestido amarelo com detalhes alaranjados parecendo raios de sol. A frieza dentro de mim começou a derreter, estava pronta pra seguir em frente...

Maria Julia Guerra.

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