Compadre John Kennedy
O conto Popular Também conhecido como conto tradicional, é criado e enriquecido pela imaginação do povo e que procura entreter o ouvinte..Ninguém é dono e senhor dos contos populares. Por isso, cada povo e cada geração contam-nos à sua maneira, às vezes corrigindo e acrescentando um ou outro pormenor no enredo. Daí o provérbio: “Quem conta um conto acrescenta um ponto”. E segundo estudiosos é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. Com este argumento quero dividir uma dolorosa história que parece causo. Acontecido com toda a veracidade que o fato necessita, reforçando o enredo faço minhas as palavras do seu Esmeraldo lá do Tamanduá,alí nas imediações de Janauba, que diz: "Eu vi com estes olhos que a terra há de comer", e contou em detalhes. Dona Jailda e seu Potraz esperavam o quinto filho, Lá no Baixão uma inflamada apendice de Pai Pedro , muita seca, dificuldades e muita luta. Mas o lema de crescer e multiplicar era sagrado, cada filho é um pedacinho plantado no reino dos céus, assim acreditavam! O ano era de 1963, e o Brasil era "serviçal" dos Estados Unidos, quem mandava aqui nos subentendidos recadinhos via CIA era o todo poderoso John Fitzgerald Kennedy Presidente Americano. A noite balançando na rede para fazer o quilo da janta o casal ouvia a Voz do Brasil. O mais antigo programa de rádio em transmissão no Brasil. Criado pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, em 1937 como o informe oficial do Governo. Nesta época os discussos de Kennedy eram muito frequentes e a familiaridade do povo com ele se tornou popular. A ponto de Dona Jailda propor ao marido de batizarem o filho que se aproximava do natal pelo nome de John Kennedy Aparecido de Jesus, e dá-lo ao presidente como afilhado. Potraz pensou, pensou e agradou da idéia, mas precisava agilizar para o batizado acontecer logo após o nascimento. Por alí neste contexto apareceu um certo Luiz tocador de violão e animador de festas, com um bom conhecimento em Inglês falava para encantar o imaginário daquela gente simples, paralelo a arte era um geografo que pesquisava o sertão. Na casa de Jailda e Potraz recebeu carinho e hospitalidade, mas ficou ainda mais a vontade quando no deitar do sol nas cacundas da serra, desencapou o violou e tocou em inglês umas lindas e romanticas cançôes. Alí foi o apice para o casal, aquele homem cantava igual aos cantores que ouviam no radio, e falava parecido com o John Kennedy. Após a cantoria e um pouco antes de dormir, Luiz foi convocado a ouvir a história do batizado e olhando para a barriga da mulher sob os trapos de chita, teve pena e disse que ajudaria. Aceitou redigir uma carta ditada por aqueles dois platonicos gestores, e disse que entregaria pessoalmente ao Presidente, por aquele ato foi recompensado com um frango, uma banda de requeijão, um queijo curado, duas cozinhadas de andu, e alguns ovos na palha de milho. Dez dias depois John Kennedy Aparecido de Jesus nascia sob os cuidados da Parteira e avó Luzia Celestina. Coincidindo com o grande acontecido, uma carta chegava com um envelope grosso e bem escrito trazendo no remetente uma bandeira americana colada, com os cordiais cumprimentos do Presidente da República dos Estados Unidos da America. Maria de Fátima era a tia do recém nascido que arrastava na leitura mas conseguiu fazer com que todos entendessem a mensagem : " Ilustríssimo compadre Potraz e comadre Jailda, fico bastante lisonjeado com o convite para batizar o pequeno John, mas por compromissos diplomáticos, infelizmente não poderei estar aí. Mas batize em meu nome e rogue a Deus por ele em nome do povo americano." É claro que fora o geógrafo o autor da redação. Mas a luz daquelas palavras invadiu aquele humilde lar, e ao completar o primeiro mês de vida o afilhado do Presidente dos Estados Unidos, recebeu as bençãos do padre. Porém o destino tinha surpresas nada agradáveis para aquele intercambio pioneiro. No final da tarde de 22 de novembro de 1963 Potraz dava a ultima capinada na roça de feijão, inhabus no tiap-tiap das folhas secas e codornas voando baixo para seus ninhos, o radinho inseparável corta a programação caipira, para deixar a vinheta de urgência chamar a atenção. O locutor cumprindo a seriedade que a profissão impõe, relatou sem delongas "- Foi assassinado agora a pouco na cidade de Dallas no Texas o Presidente Americano John Kennedy, alvejado por dois disparos enquanto circulava no automóvel presidencial na Praça Dealey." Rogamos a Deus que o tenha ao seu lado na eternidade, a nação Brasileira consternada com o acontecido presta seus pesames."
O céu enegreceu nos olhos do matuto, o pobre radio foi despedaçado no mourão da cancela, e os gritos de desespero fizeram com que o mais longinquo dos vizinhos chegasse para socorrer. Dos seus olhos escorriam lágrimas de perda parental e da sua voz amputada pelo soluço apenas se distinguia - " ai muié, o quê que será do nosso fí muié! mataram cumpade! a esposa sem ter muito o que fazer apenas abraçava Kennedy Aparecido e dizia " Ô meu fiim, dindim foi morá cum Papai do céu, mais mamãe e papai tá aqui viu!?... E durante a noite velas foram acesas na grande mesa de Umburana, beberam e choraram o velório de corpo ausente do Compadre John Kennedy.