- Não sou tão pura para perdoar-
Nasci em agosto de 1992, dizem que é o mês do desgosto, mas para mim, não podia ter nascido em um mês melhor. Fui uma criança sem amor paterno, quando pude abrir meus pequenos olhinhos vi minha mãe. Com ela dei meus primeiros passos, foi pela graça dela que ri feto bôba, foi ela que me ensinou a achar graça até mesmo nas horas de tristeza. Fui crescendo e feito passarinho, aprendi a voar, criei minha personalidade diante de tudo que pude pegar de cada um. Minha mãe me levou aos lugares mais inacreditáveis e esteve comigo até mesmo quando nem eu me aguentava.
Era bonito de ver os pais levando seus filhos a escola, alguns pelos campinhos jogando bola com seus pequeninos. Por tantas vezes eu me perguntava :" Será que se eu fosse menino ele estaria comigo?". Mas logo depois de algumas lágrimas me vinha em mente a resposta: " Não! nem se eu fosse menino ele estaria comigo." Fui me adaptado a idéia de que eu não existia para ele, pois não fui um de seus planos ou desejos. A idéia de ter uma "mãe-pai" foi relativa, bom mesmo é ter ela, pois não sei como seria se tivesse ele também. Como diz minha mãe: " Não se nasce mulher, tora-se!". E me tornei, tanto mulher quanto madura. Sou o retrato fiel da mulher da minha vida, minha mãe. Ma como a vida tem surpresas, me reservou uma inacreditável. Por tanto tempo que passei sem nem se quer ouvir seu nome ou um simples " ta viva?". Hoje recebo esse e-mail de minha avó -paterna.
" SEU PAI ESTÁ MAL MINHA FILHA, A CADA DIA QUE PASSA A DOENÇA SE AGRAVA, SEU QUADRO É PÉSSIMO, POR FAVOR VENHA VÊ-LO. ELE SENTE SUA FALTA, QUER MUITO LHE VER E TE AMA MUITO."
Imagine que não tive reação ao ler isso, o que mais me impressionava eram as palavras usadas " ELE SENTE SUA FALTA!, E TE AMA MUITO"
Como alguém pode sentir falta de quem mal conhece? Como pode se sentir saudade do que não se vive? Amar? Como se pode amar alguém que você nunca esteve junto? Minha mãe é a prova viva de que AMOR SE CONSTRÓI COM A CONVIVÊNCIA. Podem até pensar que sou rancorosa ou tenho ódio no coração, mas acreditem!, não tenho nada, aliás o lugar (PAI) em minha vida está em branco. Passei dias vivendo e pensando como seria ele, mas seu tempo foi curto, sua doença aumentou e seu destino acabou.
Não tenho mágoas, porém não ficarei com saudades, eu não tenho nada nosso para recordar. Continuarei meu caminho, seguindo meus passos e cada vez mais acreditando no poder de minha existência. Pois foi com ela que deixei bem claro que não devemos ignorar alguém por simplesmente não fazer parte de nossos planos. Nobre mesmo é o homem capaz de deixar saudades. Eu sabia a cor de teus olhos, o teu sorriso, o que te agradava, tua cor predileta. Mas você não soube nada sobre mim, nem se quer esteve na minha peça teatral do jardim da infância. Eu não tive você para abraçar no dia dos pais e nem te vi para contar que passei em medicina. Mas o tempo que me deu experiência, foi o mesmo que mecheu na tua consciência.
Não foi tarde, mas você não esteve no momento certo. Talvez eu exista para provar que vale a pena pensar bem, antes de abandonar uma mulher grávida com uma criança, só por não querer ser pai. Cresci meu senhor, te deixei com saudades, pena que para mim você nunca vai ser de verdade. É relativo sentir saudades, mas não se pode sentir falta daquilo que nunca se teve. Só há saudade quando se tem o que recordar.
"Nunca abandone uma criança, pois quando ela crescer, já não será tão pura perdoar."
Cecília dos Reis.
Autora : Jessika Sousa
15 de setembro de 2009
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