HOJE

Hoje ele não está lá, não se protege do sol sob a árvore seca.

A árvore é ressequida. A tarde é quente.

Ele veste verde. A árvore é seca. Um subtrai do outro. Possue o que o outro inveja?

A moça está em horário de almoço. Ela olha pela janela. Depois do primeiro dia olhando, torna-se diariamente.

Diariamente, então, ela almoça. Ele almoça?

Ele dorme.

A árvore sem verde não protege do sol de meio-dia.

Meio-dia ela almoça.

Ao meio-dia ele dorme. Dorme sob a árvore vestido de verde.

Os olhares não se cruzam. A janela impede que o outro veja.

Ela vê. Ela não sente sono. Ela não sente fome.

Um dia desceria do prédio e perguntaria. Queria perguntar.

Vê-lo sozinho, dormindo de verde sob uma árvore seca alude a perguntas.

A curiosidade não permanece controlada, expande-se dentro. Teria de perguntar e queria que respondesse.

E se ele fosse mudo?

Se fosse mudo, ela ficaria sem saber a razão de perturbar-lhe a fome.

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 15/09/2009
Código do texto: T1811614
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