Quando o menino de rua ganhou “importância”...
Pobre andarilho! Sem rumo, caminha, em vão, pelo cinza das calçadas, que enegrece os pés descalços, da poeira: sonhos interrompidos? Imprevisível caminhar da vida... Triste desesperança por um futuro invisível...
O garoto, em sua cama ao ar livre, é acordado com chutes por seguranças de um banco, logo que o sol se expõe, como um sinal incômodo, com sua luz que grita, como se quisesse, mesmo que distante, avisá-lo para ter cuidado. Mas quem se sensibilizaria com um garoto que não produz nenhum lucro para sua sociedade?
Andando atrás de comida como um cão, fuçando desesperadamente uma lixeira, catava os restos, as sobras, das máquinas que não tinham tempo para lhe dar atenção.
Num incessante caminhar rumo ao nada, procurava constantemente a sobrevivência.
De repente, se viu em meio a um tiroteio e foi confundido com um dos bandidos. A polícia o prendeu temporariamente, perguntando-o se sabia alguma coisa sobre a quadrilha que participou do conflito com os policiais. Quando questionado pelos policiais, respondeu:
- Sou apenas um moleque criado na rua. Acho que não sou ninguém. Nem tenho um nome certo.
Os mesmos policiais que o encheram de pontapés e perguntas, notaram sua inocente insignificância e, com desprezo, o deixaram sair. Inconformado, o moleque disse:
- Vocês poderiam pelo menos me dar um prato de comida?
- Vai-te catar, marginalzinho! Desprezível... Respondeu o policial.
Desolado, saiu da delegacia, achando que tudo podia ser diferente... Que, algum dia, podia vir a ter certa importância aos olhos alheios.
Depois de um dia vazio como a miséria da qual era vitimado, andou sem rumo até uma lixeira, para pegar restos de comida, quando foi atingido por uma bala perdida e ganhou a importância que tanto almejava. Um presente que nunca presenciou: uma notinha em um jornal local, que lembrou de retratá-lo, bem abaixo da manchete sobre novas promessas de algum político importante.