Segredo!
Copos espalhados sobre a mesa.
Um barulho de sirene de policia atravessava a noite.
Desde que viera morar no centro da cidade que sua hérnia doía consideravelmente.
Lembrou-se dos meninos no quarto ao lado. Há tempos que eles não vinham dormir com o pai.
Foi ao quarto e sempre se assustava como tinham crescido, mas ainda continuavam unidos, não iam a nenhum lugar se não fossem os dois. Até chegou a pensar que o mais velho tinha repetido o ano, simplesmente para que o mais novo o alcançasse.
Voltou ao quarto.
Tomou o remédio e voltou a deitar-se.
Sentiu falta de uma companhia feminina ali do lado.
Quis chorar.
Pensou numa frase para um poema.
Repetiu-a em voz alta para que não se esquecesse como sempre fazia.
Sentia seu corpo pesado.
Sentia seus olhos cansados.
Não sabia como dizer aos meninos que tinha câncer.
Chorou mais um pouco.
Resolveu que não contaria.
Dia seguinte todos os três no carro.
Viagem dos sonhos para Porto Seguro.
Caminhão de Gesso na contramão.
Não precisou contar nada para os meninos.
Pelo menos nessa vida.