HISTÓRIA DE UMA ADOLESCENTE SAUDÁVEL (IV)
HISTÓRIA DE UMA ADOLESCENTE SAUDÁVEL (IV)
Sonia Barbosa Baptista
(Conto)
A PROFESSORINHA
Capítulo IV
Já era tempo de férias escolares, porém a porta daquela escola, não fechava para as aulas de reforço.
Estava sempre cheia, pois as mães tinham medo que seus filhos esquecessem tudo que aprenderam, durante as férias de colégio.
A professorinha dizia, que criança é uma espécie de ser, que nos surpreende e às vezes nos assustam.
Havia chegado a esta conclusão, por causa de um dos alunos, no caso, este:
* Era um menino muito querido por ela, tinha onze anos, era moreno escuro, educado e carinhoso, olhava para ela, como se visse uma santa.
Ele tinha um grave problema, gostava de imitá-la no quadro negro, e as outras crianças queriam fazer o mesmo, por isso ela não deixava.
Então, ficava chateado e de cabeça baixa na mesa.
Até que, de repente, abria bem a boca, com a língua pra fora, exibindo uma gilete.
E todas as crianças, nervosas gritavam e ao mesmo tempo mostravam para a professorinha, então, ele fechava a boca como se não tivesse feito nada.
Mas bastava um olhar dela, que rapidamente, ele tirava e se comportava, não antes de ameaçar contar para a avó dele, que era a sua responsável e ele morria de medo dela..
Desde aquele acontecimento, foi proibido gilete na escola, todos teriam que ter apontador. Ele apesar de levado demais, passou a se comportar.
Este foi mais um dos alunos, dos tantos que para ela, eram como botões de flores que, se bem educados seriam formosas flores perfumadas.
* Havia outro menino que era o maior de todos.
Ele tinha catorze anos, alto e forte, era um belo adolescente negro.
Este, era analfabeto, podia se dizer assim, pois ainda não sabia escrever o próprio nome, apesar de que estava matriculado no grupo escolar.
Esta era a causa dele ter precisado de aulas de reforço.
Ela não diria reforço, pois teria que começar a alfabetizá-lo.
Ele passava o tempo debruçado sobre a mesa com a cabeça escondida.
Foi também preciso um novo horário para ele, porém, que não afetasse os estudos da professorinha, que estudava no horário noturno.
Eram muitas as colegas dela de classe que trabalhavam.
E na sala de aula, sempre cansadas, acabavam cochilando e perdendo as matérias e as explicações, principalmente de matemática.
E por isso aos sábados, ela dava aulas para as colegas, que encantadas agradeciam sempre com presentes, por terem a sorte de ter alguém para ensiná-las.
E o menino também passou a frequentar as aulas aos sábados, além dos dias da semana.
Pois sozinho, ele se soltava melhor e tinha coragem de olhar em volta.
A princípio ele estava com muito medo dela, pois a avó que cuidava dele, deu ordens para que batesse nele caso precisasse.
Jamais a professorinha bateria.
Pois ela, foi alvo das malditas palmatórias, que estalavam na palma das suas mãos, além de estar ajoelhada no grão de milho.
O menino não conseguia aprender nada... Mas passou a adorá-la.
E foi aproveitando que ele gostava muito dela, que resolveu jogar uma cartada decisiva, depois de ter combinado com a avó dele.
E conversando com ele, disse, que não poderia mais ficar com ele na escola, porque tinha certeza que era inteligente, mas também tinha certeza que não queria aprender.
Mas que a avó dele, ia matriculá-lo em outra escola, com outra professora, e quem sabe com a outra ele conseguiria ter vontade estudar.
E despediu-se dele, entregando os materiais que ficavam na escola.
Isso aconteceu num sábado, então, ele teria o domingo para pensar.
Muito feliz, na segunda-feira ele chega para estudar.
Falou que queria e gostava de estudar naquela escola.
E desde aquele dia, ele foi sendo alfabetizado e também no grupo escolar na 1ª série A.
E no final do ano ele foi aprovado, sabendo ler e escrever de acordo com o esperado.
Naquele tempo, no grupo escolar, o conceito era que havia passado, para a 1ª série B.
Pois a alfabetização se dava na mesma série em dois anos seguidos.
A professorinha estava feliz, mas só ela sabia o quanto foi difícil e cansativo.
09/09/2009
Breve o capítulo (V)